Ainda não é noite
Ainda não é noite.
Pelo respirar das ruas desertas
As casas estão cheias de gente.
Juntas umas às outras atingem a
dimensão de um hotel.
Ou de um hospital. Ou de um inferno.
Hoje quero desempenhar o papel de Deus
Com um poema que esplenda na escuridão.
Um poema que decifre o mistério dos mortos
Que coseram a boca ao horizonte e
adormeceram no solo.
Vejo uma borboleta que estremece as
asas. É branca, indecifrável .
Parece um pedaço de névoa
que esvoaça fora da terra.
Não quer ser ignorada, sim, ignorada
Pelos deuses ,pelas folhas das árvores que voam
e
Caem em baixo sem
explicação .
Hoje quero desempenhar o papel de
Deus num poema
Que arda na escuridão para biliões de
seres humanos.
Não sei quantos palavras juntei até
pagar esta conta.
Ocupo a página branca.
Meço alguns centímetros acima do chão.
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