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Considerado o primeiro geólogo das Américas, foi
também o primeiro geólogo e o primeiro mineralogista português. Mas a
sua actividade científica não se limitou a estes campos do saber.
Naturalista de formação, teve ainda papel relevante em áreas como a
prospecção e exploração mineiras, a silvicultura, as pescas, os solos,
entre outras. Evocado nos dias de hoje, sobretudo, como patriarca da
independência do país irmão, deixou o seu nome ligado não só, do outro
lado do Atlântico, à formação do Império do Brasil, como à causa liberal
que aqui, em Portugal, pôs fim à monarquia absolutista e abriu as portas
à via constitucional.
Nascido em Santos, de família paulista de
ascendência nobre, oriunda do Minho, de entre Homem e Cávado e
Cabeceiras de Basto, este «bandeirante da mineralogia e da arte das
minas», como lhe chamou Portugal Ferreira (1986), veio para Portugal a
fim de cursar a Universidade de Coimbra onde obteve, em 1788, as cartas
de bacharel e de formatura em Leis e a de bacharel em Filosofia Natural
(nome que então se dava às Ciências Naturais).
Foi seu professor o Dr. Domingos Vandelli
(1735-1816), eminente naturalista italiano (convidado pelo Marquês de
Pombal para ensinar em Portugal), com quem estudou Mineralogia,
Geognósia (antiga designação da disciplina de Geologia) Botânica e
Zoologia. Um ano depois, por iniciativa do académico e seu amigo duque
de Lafões, José Bonifácio era admitido na Academia de Ciências de
Lisboa, de que foi membro ilustre e secretário-geral a partir de 1812.
Como «pensionário» (bolseiro) da Coroa, reinava
então D. Maria I, e por proposta da Academia das Ciências, Andrada e
Silva iniciou, em 1790, um vasto e proveitoso périplo pela Europa, quer
para frequentar alguns dos mais prestigiados centros de ensino superior,
quer para realizar estágios e visitas a importantes explorações
mineiras, numa peregrinação de dez anos, visando aprofundar a sua
preparação nos domínios da Filosofia Natural e da Metalurgia. Na Escola
de Minas de Paris, e durante o período mais quente da Revolução
Francesa, estudou com René-Just Haüy, o fundador da cristalografia, e,
em 1792, apresentou à Société d’Histoire Naturelle de Paris um
interessante estudo, Mémoire sur les diamants du Brésil. Em seguida
frequentou, na Alemanha, a célebre Academia de Minas de Freiberga, onde
estudou Mineralogia e Geognósia com o prestigiado professor Abraham
Gottlob Werner e onde teve, como condiscípulos, outro luso-brasileiro
ilustre, Manuel Ferreira da Câmara
Bettencourt, e dois grandes nomes da comunidade científica de então,
Alexander von Humbolt e Friedrich Mohs. A seguir a esta fase, estagiou
em fundições da Saxónia, do Tirol e outras, assistiu às lições de
Alessandro Volta, em Pádua, e estudou em Pavia. Nos últimos anos destas suas viagens pela
Europa, José Bonifácio visitou ainda as mais importantes jazidas
mineiras da Escandinávia, de Inglaterra, dos Balcãs, da Suíça, da Itália
e da Turquia, onde consolidou a sua preparação geológica e mineralógica.
Como mineralogista, este lusodescendente
publicou, em Paris e Leipzig, trabalhos de reconhecido mérito e deles
constam, entre outros, a descoberta e caracterização de alguns minerais.
Em sua honra, um dos mais notáveis mineralogistas, o americano James
Dwight Dana (1813 - 1895), autor do celebérrimo Sistema de Mineralogia,
deu o nome de andradite, em
1868, a
uma espécie do grupo das granadas, perpetuando, assim, a sua memória
entre a comunidade científica. Regressado a Portugal, em 1800, aureolado
de grande prestígio internacional, Andrada e Silva foi, nomeado
Intendente-geral das Minas e Metais do Reino. Em 1804, sob os seus
auspícios, iniciou-se a exploração do carvão
em São Pedro da Cova. Do seu currículo, para além dos
cursos, estágios e trabalhos publicados, consta a qualidade de membro de
várias e prestigiadas sociedades científicas europeias, como as de
Paris, Berlim, Londres e Edimburgo, e ainda das Academias das Ciências
de Lisboa e de Estocolmo. Deve-se a este estudioso a descoberta: da
espodumena e da petalite, dois silicatos de alumínio e lítio; da
criolite, um fluoreto de alumínio e sódio; da indicolite, uma turmalina
de cor azul, e da wernerite (variedade de escapolite), um
aluminossilicato de sódio e cálcio, que assim designou em homenagem ao
que foi seu mestre, A. G. Werner, na Academia de Minas de Freiberga.
Foi então criada, na Universidade de Coimbra, a
cadeira de Metalurgia, que lhe foi destinada e que regeu como lente,
tendo-lhe sido conferido o grau de Doutor em 1802. José Bonifácio
manteve essa regência até 1807, por ocasião da primeira invasão
francesa, altura em que, no posto de major, integrou um batalhão
académico de luta contra o invasor. Entre outros cargos que assumiu, e
nos quais deixou nome, contam-se os de administrador das minas de carvão
de Buarcos e de São Pedro da Cova, das Ferrarias da Foz do Alge e,
ainda, de director do Laboratório de Docimasia da Casa da Moeda.
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Em 1819 despediu-se dos seus pares e anunciou o
seu regresso ao Brasil. Chamavam-no as primeiras manifestações a favor
da independência da grande colónia, causa a que iria associar-se
inteiramente, chegando a ser uma das mais destacadas figuras na
constituição do novo império. Andrada e Silva regressou à terra natal,
trinta e seis anos depois da sua chegada à “Lusitânia”, como se referia
à pátria-mãe. Em 1822, com a proclamação da independência, foi investido
como ministro de D. Pedro I, cargo efémero, mas suficiente para pôr em
relevo as excepcionais qualidades que lhe valeram a inveja e a inimizade
de uns tantos. Afastado do governo em 1823, acusado de conspirador, foi
preso no dia da dissolução da Assembleia Constituinte e deportado para
Bordéus. Após cinco anos de exílio, regressou ao Brasil, tendo sido
nomeado tutor de D. Pedro II. De novo acusado de conspirar por dentro do
próprio Paço Imperial, foi novamente preso e colocado com residência
fixa na ilha de Paquetá, onde faleceu em 1838.
Passados que foram os ânimos desses tempos
conturbados e serenadas as paixões, reconhece-se-lhe hoje a acção que
realizou em prol do novo e grande país, tendo conseguido consolidar a
independência e garantido a integridade do território, graças à sua
inesgotável energia, firmeza de carácter e sentido diplomático. Por ter
evitado a divisão do imenso território em pequenos estados, os
brasileiros chamaram-lhe o ministro da Unidade Nacional e consideram-no
o Patriarca da Independência do Brasil e o Pai da Pátria, tendo-lhe
erigido, em 1872, um estátua em bronze, no Rio de Janeiro, nas
comemorações dos cinquenta anos de independência.
É deste homem a ideia de uma cidade central no
interior do Brasil. O ponto indicado, segundo ele, era Paracatu, e o
nome dessa cidade seria Brasília, vontade que se cumpriu com a
inauguração da capital em 21 de Abril de 1960.
O Museu Mineralógico e Geológico da Faculdade de
Ciências e Tecnologia, da Universidade de Coimbra, tem hoje o nome de
José Bonifácio de Andrada e Silva, antigo lente que elegeu como patrono,
estando o seu busto em local de destaque na galeria de mineralogia. Um
outro busto seu existe na Academia das Ciências de Lisboa, evocando o
ilustre membro que foi desta instituição. Do outro lado do Atlântico, na
outra pátria de José Bonifácio, o seu retrato em pintura mural está
igualmente presente entre os esplêndidos minerais da galeria de
mineralogia da Escola de Minas de Ouro Preto,
em Minas Gerais.
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