1.
A fronteira pára no seu exílio ou
comunhão enquanto os mortos
desterram as palavras pelos seus
prantos antigos.
Conspiram ao que urge vir para que
naveguem
fecundas nas asas nocturnas dos anjos
ou
no tropel da respiração. E aí ficam
na sua eternidade ou combustão em
tarefa a pulso
recolhida. Nelas se deduzem as
substâncias
do assédio. O que no espírito se ergue
como alicerce ou solidão para que o
ritmo
seja o que um rio é em inércia e
dádiva.
Mas o espanto nele fica e se redime
apenas
aguardando do momento o instante donde
se deduz
o que em espírito no papel se enruga
ou desfalece.
Como se o mundo em peso adobasse a
lenta língua
onde acusticamente os versos os mortos
especulam.
Contundente se revela o mundo. O
milagre do lugar embora
se desvende em luto o enigma ou
presunção. O lugar é esse
instante que corrompe a alma e a
desvela apenas para ser
no momento energia ajuste ou ignição.
E de novo em vestígios a morte
actualiza a luz. O limbo
subtil como se um animal de dentro do
negrume
imprevisto viesse brilhar arguto na
passagem.
É uma força indeterminada na certeza.
Quase gravidade
como se um eixo de penúria explícita
fosse palpitante
e adensasse em silêncio o
esquecimento. O que convoca
e conduz tudo em intenso ardor
inteligente. Ou dor
iminente como um enigma indecifrável.
Ou hausto
oculto desabrigando do sangue o que se
releva
profundo de repente e veloz.
2.
Assim a sombra se inflama e os mortos
se orientam
em deslumbres subtis e matinais se
abrigam
ao poderio solar. Escavam onde a luz
se entranha.
Onde a energia opera milagres ou o
mapa
distâncias. A palavra casa deduz o que
reina e do vazio
se expurga. Assim a sombra é perene na
sua tensão
ou arco pulsante. Como um ímpeto que
deflagra
oficiante no olhar e se amplia.
É um eco que o vento cumpre e onde
os brilhos acolhem a evidência
crepuscular.
No seu destino a luz gera penumbras.
Caminhos
onde se chega em ritmo estreito ou
circunscrita
felicidade. É uma claridade de relevos
altos
como o espírito que joga a
descobrir-se nos seus
retalhos ou contraluz. Ou no seu âmago
à vista
descarnado como o mundo se infinita.
São os mortos que gravitam em busca
das palavras.
Só os mortos as pensam em língua
audível ou destreza.
Como nos átrios do negrume as sombras
ou
o vento. Pulsam em enigmas
e no entanto arborizam. Buscam a
saliva
fecunda ou resistência irredutível.
Recolhem-se nos alvéolos pulmonares
em ritmo e doença eléctrica. Abrem-se
para que os dedos
as cumpram em sentido e cascata.
Acolhem a exactidão única da
transparência. O que se inflama
dorindo e transita na textura volante
ou
no inédito lugar que principia no
naufrágio
de um olhar.
3.
Devastam desde longe e na intimidade
se abrigam crepusculares
ou búzios. São como massas de ar. Como
animais
nómadas em seus cativeiros. Em uso
deduzem
o que os músculos manobram. Edificam
em sombras para que os mortos se
abriguem.
Ou morram ainda um pouco mais. Para
que vejam
como se reduz a altura entre os dedos.
A frequência
de seu uso ou mutilação. Comparecem
em fundamento na sua arcadura
e timbre tensos. Ilidem o verbo
em atropelo e cenário. Se chegam
ou regressam de seus impactos ou
doação.
Na alma se fundam em relâmpagos e
silêncio
cavo ou convictos arcanos.
E os mortos em seu júbilo invisível
alicerçam
estranhos recursos. Artérias
luminescentes. Ossos
cronológicos ou compêndios. E sucumbem
pelo que ascendem e exultam
arrebatados
o que transpondo visível em leitura
condensam. Púlpito ou pousada ou
singular
vento. E ao ar devolvem fremente
o que de si é uso ou sobrescrito e
resistência.
É um caminho surdo que ergue a razão
altiva e
a visão alcança em penúria e oração. O
visível
como se acendida luz fosse e peregrino
na lenta
desolação ou fundo mar. Na vastidão
comparece
o desastre amplificante. E o mundo
como terra
arável ou poema talha em nitidez os
negros
nomes da matéria ou pensamento.
4.
Uma pedra de luz e uso táctil atenta a
nudez. Como a morte
dos mortos irradia em sagrado e oculta
nostalgia. No
recolhimento se contagia a distância.
O assombro
da claridade ou escuridão. Um pasmo
inscrito
que satura o silêncio indizível. O
nome agudo
do dizer e na cegueira. Como nas
trevas a mão
é alavanca ou bisturi. É uma tarefa
decapante
como a dádiva ou paciência. Escutar no
inaudível
o lume da sombra o que anoitece
submisso ou
resplandece em si mesmo ou naufraga. E
no tumulto
da tristeza é perspicaz a brisa surda
ou a noite
apenas. Como um súbito animal ou
vestígio
singular. Nessa intimidade o gelo
brilha. Traz
o fenómeno da lentidão. O aparecimento
que rasga
no espírito e padece na lucidez. Ou
turbulência.
Os mortos extinguem o negrume da
penumbra
como ofício. O seu vagar retém a
imobilidade
como se nos bosques a íntima luz ou
inscrita
solidão e na mágoa a pauta em júbilo.
É um deserto
decorrido o tempo. E no vento insonoro
se destacam as sementes em consumo ou
pensamento. Um rumor piedoso e mais
antigo
escala ainda o que ao alto limita a
luminosidade.
É essa luz que empolga e espanta o
pulso. Ergue em astro
o que o gume das aves expande.
Agudíssimo. Atento
timbre que resgata o desgaste da luz
transitiva como se
amanhecesse intemporal e instrumenta.
Tudo regressa
com a luz ou íntima consagração
incremente. Com a luz
que os relâmpagos maquinam felizes. |