REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 31 | setembro | 2012

 
 

 

 

FERNANDO GRADE

Diário de uma guerrilha íntima

Instalação com frutos

 

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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           Este ano, a minha participação pictórica ou estética no Salão Convívio da Sociedade Nacional de Belas Artes não vai ser uma pintura a guacho ou um desenho da minha série “Teoria das Multidões”, como costuma acontecer, mas, sim, uma pequena instalação, em termos volumétricos, na qual misturo, provocantemente, objectos de leitura, entre si, contraditória, e contraditórios na sua (deles) massa e funções.

          Entreguei os objectos isolados há uma semana, inscrevi-me para o certame e, tendo em vista que não era certo se a SNBA dispunha ou não de uma vitrina que contivesse, em altura, a minha instalação – assentou-se que iria lá, ontem, para saber de novas e mandados.

           Na verdade, com vitrina, isto é, com segurança, o espectáculo visual a criar seria, será um; no caso de os objectos ficarem em contacto directo com o chamado público (o público que somos nós todos), a instalação será, necessariamente, outra. E por quê?.

           Não vale a pena correr riscos.

          Entretanto, como atrás frisei, desloquei-me às Belas Artes, levava comigo mais dois objectos, para juntar àqueles que deixara anteriormente, e, confrontado agora com a existência da vitrina, antes, em dúvida, estavam criadas as condições para desenvolver a minha visualização estética.

          O espaço a circunscrever era pequeno. A altura, alguma, não muito famosa. Os objectos a trabalhar espacialmente não eram muitos, não permitiriam um grande puzzle.

           Quando cheguei, um dos executores obreiros, por graça ou por que os ditos objectos deviam ser colocados em algum lado, dispô-los junto do minúsculo móvel com que, em certa madrugada de chuva gélida, eu tinha deparado no lixo junto ao rodapé dos vidrões do meu bairro. Era um objecto bonito, abandonado por alguém de bom gosto, que teve, porventura, remorsos de arremessar aquela possível obra de arte para o bandulho do contentor-tubarão.

           O objecto belo mas normal, pragmático, ganha agora outra leveza, passa a ser da raça da torneira do Duchamp, segue as pisadas dos Surrealistas quando propunham o encontro de um guarda-chuva e de uma máquina de escrever numa mesa de anatomia… Pode ser uma sombrinha de senhora esgalgada e conflituosa… ou as cuecas emporcalhadas, às bolinhas azuis, de um solteirão… É o contraponto.

          Em cima do móvel minúsculo, os dois operários da SNBA já tinham depositado em sítio certo a banana que, anteriormente, eu trouxera de casa. Aceitei a “sugestão” utilitária dos obreiros. Assim se prova que (á semelhança da poesia) a escultura, a intervenção estética e os espaços cinéticos… -- de grande ou pequeno formato --  também são feitos por todos.       

 
 

 Oeiras, 8 de Dezembro de 2011

 

 

Revista InComunidade (Porto)

 

 

 

 

FERNANDO José da Costa GRADE (Portugal, 1943)
Poeta, pintor, cronista, ficcionista, crítico de arte, jornalista, escultor e dinamizador cultural. Poeta com vasta obra publicada, constituída por 29 títulos, de onde sobressaem "O VINHO DOS MORTOS" (em 5ª. edição), "SAUDADES DE SER ÍNDIO" e a antologia "25 ANOS DE POESIA" (1962,1987).
Como artista plástico -- desenhador, pintor, colagista, escultor e ilustrador --, expõe desde 1965. Participou em 388 exposições colectivas e realizou 16 individuais. Foi três vezes premiado, em Desenho, com primeiras medalhas de prata, nos salões da Junta de Turismo da Costa do Sol (XI e XV Salão de Outono e no VIII Salão de Arte Moderna), e obteve, conjuntamente com Carlos Calvet, o PRÉMIO DE AQUISIÇÃO do VI Salão de Arte Moderna de Luanda. Foi critico de arte do "Jornal de Letras e Artes", "Século Ilustrado"e "Diário de Notícias". Assinou balanços anuais de artes plásticas para o jornal "O Século". É o presidente do Comité Directivo do Movimento de Intervenção Cultural (MIC/Edições Mic), desde  o inicio -- 1976/1977.

www.fernando.grade.webnode.pt
 

 

 

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