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Na
provisoriedade de cada orientação, a dOCUMENTA (13) quer ser uma
orientação desorientada. Serve a investigação artística aplicando-se às
formas da natureza, do intelecto e da vida,
pretendendo informar sem formar. Também se quer sentir humana desde que
na pele do símio. Pretende estabelecer uma aliança entre os diferentes
domínios que vão do sensual ao especulativo, da prática à teoria, do
político à ecologia. Esta dOCUMENTA quer conhecer sem reconhecer,
desejando assim ser integral sem se tornar integradora nem parte
integrante. Contenta-se com a vaidade e o histerismo do momento.
Kassel,
uma cidade de província da Alemanha, com 200.000 habitantes, consegue
ser, de quatro em quatro anos, o centro de peregrinagem, por cem dias
(desta vez, de 9.06 a 16.09.2012), dum público que ronda o milhão de
visitantes; este confere, durante esse tempo, um ar exótico à cidade.
Kassel quer-se metrópole ao tornar-se o templo, o lugar de estadia que
procura conectar todos os espaços e expressões: do físico ao
psicológico, ao cultural, ao histórico, ao tecnológico, do real ao
fantástico.
Pretende
ser o vínculo dos lugares e dos feitores da arte contemporânea a nível
mundial. Numa palavra, para quem vive nesta linda cidade: pretende
ser o umbigo do organismo artístico global. Um umbigo já elevado
atendendo ao estado avançado de gravidez próprio de artistas e
especialmente devido à posição da chefe absoluta da Documenta Carolyn
Christov-Bakargiew, que se encontra em contínuo
estado
de graça e em “estado de esperança”. Nos seus enjoos de estado não
admite parteiras na grande sala de parto,
o Olimpo é só
dela. Segundo
a
curadora,
os artistas não devem estar presentes na discussão pública para que
as suas
obras de arte não sejam
perturbadas
por outros objectos de atenção,
salvo o seu papel de matrona.
De facto,
a arte, como acto criativo, é um contínuo estado de parto, muitas vezes
sem a responsabilidade de ter de se preocupar com o objecto parido nem
com o seu sentido. É-lhe suficiente o momento da mudança e de conexão
sem se fixar no lugar porque este poder-se-ia tornar em limitação física
duma realidade que ultrapassa a possibilidade dos sentidos. Aqui arte e
religião tocam-se mostrando-se aquela intolerante perante esta.
(Recordar o conflito da escultura da torre, do artista Stephan
Balkenhof, que na torre duma igreja estragava o conceito
que a curadora
tinha da Documenta 13.)
Daqui a
necessidade duma orientação desorientada que, por mal dos seus pecados,
tem de se socorrer de objectos de arte bem físicos mas aproveitados e
alargados pelo intelecto. O intelecto torna-se aqui uma necessidade para
que o lugar criativo tenha um tecto num lugar que se pretende considerar
como o espaço universal onde toda a espécie de parto é possível.
Um
problema da dOCUMENTA será não poder transpor o espaço e o tempo. O ser
só se apreende situado, significando, por isso mesmo, no seu ser-aqui,
limitação. O problema do acto criativo não está no acto criador em si
mas no seu tempo e na sua roupagem… Temos de nos contentar com a
roupagem e falar de roupas ganhando assim, nesse proceder, a impressão,
de transcender o próprio vestido. Também por isso, o artista é um eterno
insatisfeito, tendo de se reduzir a produzir o episódico, a gerar apenas
História, podendo apenas imergir na sua roupagem, muito embora na
procura do seu espírito.
A Direcção
da dOCUMENTA, para criar mais fascínio, pelas
obras
de arte expostas
no exterior, associa-lhes histórias dirigidas à imaginação intelectual,
dado o objecto nu, sem a roupagem intelectual, deixar falar apenas a
própria nudez num mundo que se quer tudo mais. menos inocente. Aqui tudo
se torna objecto, objecto para cobrir e encobrir. O observador, esse,
é objecto de arte e o artista o seu complemento.
A História
também se escreve com a arte e especialmente com o amor aos factos e aos
objectos.
Na
dOCUMENTA encontra-se muita arte, muitos artistas e também pensadores.
António da Cunha Duarte Justo
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