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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
nova série | número 30 | agosto | 2012
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JOSÉ EDUARDO
FRANCO
Mitos das
origens das nacionalidades:
o caso português no âmbito da
afirmação das nacionalidades europeias na modernidade
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EDITOR |
TRIPLOV |
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ISSN 2182-147X |
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Contacto: revista@triplov.com |
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Dir. Maria Estela Guedes |
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Muitas
vezes os povos para se libertarem da primazia de outros
que lhes estão mais próximos, tanto no
espaço como no tempo,
apelaram à maior dignidade dos tempos
antigos com os quais
estabeleceram relações de continuidade
e mesmo de dependência
fundadora. No renascimento, a
antiguidade greco-romana
foi utilizada nestes termos pelos
humanistas contra
a considerada insanidade dos estudos
escolásticos da chamada
Idade Média. Mas, antes deles, também
o cristianismo primitivo
apelou à maior antiguidade de Moisés
sobre Homero,
afirmando, contra os gregos, a
superioridade do
cristianismo, por radicar em tempos
mais antigos.
Pedro Calafate |
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Considerações teóricas preliminares |
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A mitificação das origens primeiras de um povo, de
uma nação ou mesmo de uma instituição resulta de um fito de
engrandecimento e de legitimação da realidade
fenoménica que se descreve num processo de construção de memória
histórica.
É especialmente a partir do século XVI que se
desenvolve uma espécie de mercado europeu dos imaginários
nacionais ou das mitologias nacionais. A partir desta literatura
histórica pode-se escalpelizar e distinguir uma tipologia dos mitos das
origens das nações que, nessa época, foram delineados com grande
envergadura nos círculos culturais da maioria dos países europeus, de
que se conhecem exemplos comparativamente interessantes, particularmente
na Espanha, na França, na Alemanha, nos Países Baixos, na Hungria e na
Rússia, entre outros. Os estados e os reinos recentes ganham, no
dealbar da modernidade, a consciência e a
convicção de que têm uma origem muito antiga, inscrita nos primórdios da
humanidade. Assim sendo, configuram uma idade de ouro que distingue em
excelência a primeira idade das nações. Neste processo estabelece-se uma
dicotomia entre esse passado fulgurante e a história actual. Essa
dicotomia é demarcada pelo optimismo que caracteriza a visão das origens
e o pessimismo em face da avaliação das condições do presente. E em
todas essas obras historiográficas dos diversos países a exploração do
tema das origens é orientado para fins políticos mais ou menos imediatos.
No entanto, este processo de
construção mítica é indissociável da relação directa com a actualidade
histórico-política. Neste sentido, Claude-Gilbert Dubois, escrevendo
sobre a problemática dos mitos das origens, considera que “a génese do
mito não pode ser dissociada do terreno histórico sobre o qual ele se
apoia. Estas crenças assumem o aspecto de alegorias, cujo sentido é
determinado pela conjuntura histórica; é uma maneira de exprimir
reivindicações que pertencem a um tempo preciso e a aspirações em
relação directa com a actualidade histórica”.
A consciência
da fragilidade das condições presentes em termos de identidade e de
salvaguarda da integridade da nação, no fundo o pressentir ou mesmo o
verificar o perigo iminente da decadência ou da ruína suscitam este
processo de mitificação de um passado genesíaco. E por essa via
intenta-se intervir de algum modo no presente
e mesmo condicionar a destinação histórica futura. A propósito da
eficácia presente que se procura nas construções do passado, Lucien
Febvre afirma nos seus Combates pela História: “Organizar o
passado em função do presente: é aquilo a que poderíamos chamar a função
social da história”.
À luz deste escopo, o historiador adapta a verdade histórica de forma a
forjar uma espécie de história-parecer, uma história de combate, de
tomada de posição projectada no terreno do passado. Tudo isto é feito
geralmente de forma implícita. A impliciticidade pode ser lida nas
entrelinhas, na forma como a narrativa é organizada e nas escolhas
feitas em termos de etapas temporais e configurações geográficas, de
acontecimentos, de factos, de figuras e das apreciações do historiador
integradoras de todos esses elementos numa totalidade de sentido
orientada ideologicamente para inculcar uma determinada visão do
passado.
Estas histórias empreendem a construção do passado
dos reinos até à coevidade para sustentar uma ideia de pátria, de povo,
de reino e de realeza que colocava disciplinas como a Teologia e o
Direito ao serviço da História, e a História ao serviço da política. O
seu ideal nobilitante do passado nacional funcionalizava a história na
disputa ideológico-nacionalizante da primazia desses reinos
em relação aos outros pares do macro-espaço continental europeu.
Pela escrita da história remota,
e através de uma hermenêutica inteligentemente
orientada, o historiador formula as suas críticas em relação ao presente
e adverte os contemporâneos, quase em tom profético, em relação aos
riscos do futuro. Mas esta nostalgia não se fecha em si própria.
Transforma-se em instrumento de combate, de crítica, abrindo para o
sentido da esperança no que respeita ao futuro.
O historiador não só funcionaliza a história para
criticar os ínvios processos da conjuntura presente, como também a
utiliza para exprimir a sua expectativa futura em relação à sua nação,
estado ou instituição, expectativa constituída ideologicamente em
utopia. É aqui que melhor se revela a artesania do historiador
como um autêntico manipulador do passado, ficcionando-o e modelando-o ao
serviço dos seus interesses ideológico-políticos em relação ao presente
e ao futuro. Como escreve Jacques Le Goff, glosando a filosofia da
história heideggeriana: “A História seria não só a projecção que o homem
faz do presente no passado, mas a projecção da parte mais imaginária do
seu presente, a projecção no passado do futuro que ele escolheu, uma
história ficção, uma história desejo às avessas”.
Além de uma história-parecer, uma história-posição, torna-se uma
história-desejo e uma história-profecia, cimentada num ideal patriótico
ou institucionalista bem definido. |
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O mito das origens de Portugal |
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O caso da mitificação das origens da identidade e
soberania portuguesas é bem paradigmático no âmbito da produção cultural
europeia dos chamados mitos das origens das nacionalidades. Esse
processo de engrandecimento dos primórdios da nação portuguesa é
despoletado pela releitura da história do reino no tempo exuberante das
Descobertas Portuguesas e acentuado com a consciência de fragilidade, de
ruína e de incumprimento dos desígnios providencialistas de Portugal
consubstanciada na perda da independência em favor de Castela no período
da chamada União Dual.
Mitógrafos, cronistas, historiadores, filósofos,
romancistas, teólogos operam uma releitura reconstitutiva do passado do
reino, recortando-lhe uma idade de ouro primordial e exaltando uma idade
de ouro intermédia, a da gesta das viagens marítimas portuguesas, que
seriam prelúdio de uma glorificação maior do reino realizada
teleologicamente na concretização utópica do Quinto Império do Mundo.
André de Resende, João de Barros, Amador Arrais, Luís de Camões,
Fernando Oliveira, Frei Bernardo de Brito, D. João de Castro, Gabriel
Pereira de Castro, Sousa de Macedo, Frei Sebastião de Paiva, Padre
António Vieira, entre outros, procuraram reler a história passada
aprofundando-lhe e dignificando-lhe as origens de forma a cimentar a
identidade portuguesa em alicerces prestigiantes. Uns fizeram remontar o
reino de Portugal ao tempo dos patriarcas bíblicos, outros ao tempo do
navegador grego, Ulisses, outros ainda à brava tribo dos Lusitanos,
opositora poderosa da expansão romana na Península Ibérica. Este esforço
de valorização das raízes primeiras orienta-se
em vista da disputa de uma determinada primazia portuguesa, ora em vista
de uma reprojecção do futuro para a superação da decadência presente.
Entre os diversos autores da
mitificação das origens portuguesas tem sido
recuperado pela historiografia recente o humanista Fernando Oliveira
(c.1506-c.1582), um dos mais geniais e multifacetados escritores e
cientistas de Quinhentos. Ao modo de estudo de caso, passaremos a
centrar-nos na análise da exemplaridade do seu contributo para o
processo histórico-cultural da valorização das raízes do Reino de
Portugal no contexto da produção portuguesa deste tipo de literatura
mitificante na época moderna. Esse contributo encontra-se nas duas obras
escritas no fim da sua vida, intituladas História de Portugal e
Livro da Antiguidade, Nobreza, Liberdade e Imunidade do Reino de
Portugal, obras que se encontravam manuscritas na Biblioteca
Nacional de Paris e que tivemos a oportunidade de editá-las criticamente
no ano 2000.
A ideia das origens e da evolução da identidade
portuguesas está expressa nestas obras de Oliveira escritas no quadro da
crise dinástica de 1580 que conduziu à Perda da Independência Portuguesa
em favor de Espanha durante 60 anos. Os seus vectores ideológicos
estruturantes são a sacralidade e nobreza fundacional do reino, a
singularização de que foi revestido em virtude
dessa fundação por mandato divino, a liberdade, imunidade e
imarcescibilidade que lhe era intrínseca, e subsequente perenidade
protegida e conduzida divinamente para o cumprimento de uma missão
sagrada que justifica em si própria o sentido último da nação.
Ideografia caracterizada por um portugalocentrismo, inédito na história
da historiografia portuguesa.
O carácter apologal da
historiogénese de Portugal, postulado e construído em função do
deslumbre perante a idade de ouro nacional da história recente do reino
e a fim de intervir crítica e mobilizadoramente no drama nacional da
história presente, produz, no nosso país, uma nova forma de fazer
historiografia, a qual transforma a visão histórica tradicional do
reino. Esta nova ideografia é decalcada e adaptada de uma tese
histórico-mitográfica que se tinha desenvolvido ao longo do século XVI,
para a qual concorrem historiadores castelhanos, franceses e italianos.
Nesta historiografia, como explica Américo Castro analisando o caso
espanhol, se surpreende uma concatenação “do gosto pela magnificiência
imperial, com modos de sentir e de pensar, fabulosos uns, e arcaicos
outros”,
de modo a espanholizar a herança imperial romana e delinear,
exuberantemente, um passado gloriosíssimo para a Espanha. Esse processo
de iberização da glória imperial era feito em contraposição com as obras
exaltacionistas da antiguidade italiana da
pena dos humanistas da Renascença.
Na esteira da demanda de uma primazia e de um
prestígio nacionalizante no quadro da Península Ibérica, realizada pela
retrotracção mitificante da antiguidade, Fernando Oliveira disputa para
Portugal essa dianteira como forma de reacção à hegemonia avassaladora
de Castela, no plano político, mas que também tinha vindo a ser
sustentada culturalmente pela historiografia do reino vizinho.
Nesse combate intelectual, o autor procura refundar
miticamente as bases históricas da identidade portuguesa, de forma a
torná-la capaz de concorrer culturalmente com as identidades do reino
vizinho. Utilizando, sem rebuços, uma doutrina teológica da história de
inspiração agostiniana, congraçada com uma filosofia política de
filiação aristotélica e uma moral sócio-estatal de pendor
cicero-titoliviana, o historiador recorta um Portugal fundado
ontologicamente em direito teológico. Este reino teria gozado de uma
idade de ouro primigénia, e, depois, resistindo, imune e essencialmente
livre, a todas as tentativas de usurpação estrangeira, as quais teriam
sido impelidas cobiçosamente por uma enigmática ambição de dominar esta
terra abençoada.
Destarte, as diferentes etapas da história de
Portugal, descritas do modo a provar a sucessão imputrescível da herança
do reino, são unificadas, desde a sua historiogénese, na reformulação e
resolução das aporias e hiatos inexplicáveis, à luz de um tempo mítico
que virtualiza e ilude a realidade, ao serviço da apresentação de um
panorama global que cumpra a visão do reino que se quer pertinazmente
edificar. Tempo mítico que é, de facto, o
segredo deste processo de reestruturação fabulosa da história nacional.
Como explica Ricoeur: “[...] o tempo mítico mergulha o pensamento
em brumas, nas quais todas as vacas seriam pardas, e instaura uma
escansão única e global do tempo, ordenando, uns em relação aos outros,
os ciclos de duração diferente, os grandes ciclos celestes, as
recorrências biológicas e os ritmos da vida social”.
Em vez de sustentar uma hermenêutica do nascimento de
Portugal a partir “duma evolução interna a que andou associado o
espírito de independência dos barões portucalenses, transmitido e
engrandecido de geração em geração”,
em relação à qual historiografia contemporânea é mais ou menos
concordante, Oliveira procura, na perspectiva de uma história
mítico-providencialista, identificar um acto fundacional originário.
Deste acto de pendor sacral teria dimanado uma evolução unilateral, sem
rupturas, de uma nação singular. Prosseguindo
a pretensão de aquilatar positivamente aquilo que Portugal significa aos
olhos dos Portugueses e dos outros povos, veicula dogmaticamente uma
ideia sagrada, canonizante de Portugal e dos Portugueses. Nesta óptica,
como refere Eduardo Lourenço, se “a autoconsciência nacional surge em
João de Barros e é elevada à sua potência última por Camões”,
não será demasiado afirmarmos que ela transborda em Fernando Oliveira,
armada ferulamente por uma apologética que anuncia uma ideia
“religiosamente” devota da nação portuguesa.
Nesta asserção, podemos
diagnosticar avant la lettre uma grande dose de “paixão nacional”
neste humanista, fiel ao Portugal promissor dos Descobrimentos, que relê
a história à luz de uma convicção patriótica, reconstruindo-a como
“Mito”.
Como escreve o mesmo autor noutra obra mais recente, “toda a leitura do
nosso passado como digno de memória está suspensa do ‘facto’ das
Descobertas. E com essa leitura é uma trama densa de textos em que esse
‘facto’ se comentou, glosou, cantou, analisou, mais raramente se
discutiu, nela e com ela se constitui o mito português, por excelência
de povo descobridor”.
O mito da nação da nação é assim esculpido, vitralizando a sua história,
tornando-a espelho brilhante para o presente, como meio de constituir um
instrumento de resistência crítica, através da exploração da força
psico-nacional desta história mítica, à iminência da derrocada do reino
na história presente. Neste sentido, o é elevado ao mais
alto nível de possibilidade, a capacidade criadora e poética da
história, na perspectiva do que teoriza Paul Ricoeur: “Ora, a história
revela [...] a sua capacidade criadora de refiguração do tempo pela
invenção e uso de certos instrumentos de pensamento, tais quais o
calendário, a ideia da sucessão das gerações e aquela, conexa, do triplo
reino dos contemporâneos, dos predecessores e dos sucessores,
enfim, e sobretudo pelo recurso aos arquivos, aos documentos e aos
vestígios. Estes instrumentos de pensamento [...] desempenham a função
de conectores entre o tempo vivido e o tempo universal. Neste caso, eles
atestam a função poética da história e trabalham para a solução das
aporias do tempo”.
Este tipo de produção historiográfica insere-se,
tendo em conta a teoria da história que lhe subjaz, na tradição cultural
que se configura num determinado modo de pensar, de entender e de sonhar
Portugal, bem como a história do Homem.
Processo de releitura feito à luz de uma visão especial e invulgar das
suas origens, de um entendimento da sua visão histórica no mundo e do
epílogo glorioso a que supostamente estaria vocacionado.
A conservação e glorificação histórica de Portugal que esta obra
reclama e, em grande medida, opera, assentam
numa visão idealizante do passado de Portugal. O que confirma o
diagnóstico de Eduardo Lourenço acerca de muita da nossa historiografia:
“Se a História, no sentido restrito do ‘conhecimento do historiável’, é
o horizonte próprio onde melhor se apercebe o que é ou não é
realidade nacional, a mais sumária autópsia da nossa historiografia
revela o irrealismo prodigioso da imagem que os Portugueses se fazem de
si mesmo”.
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Um reino de fundação divina |
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Aquilo que podemos designar histórico-filosoficamente
como a ontologia mítica de Portugal, configura-se entre dois pontos
nodais que estruturam ideologicamente esta ideia de Portugal: o mito
tubaliano e a teofania de Ourique.
A fundação, pela mediação do patriarca Tubal, do
reino em direito teológico, aquando da pós-diluviana “povoação da terra
que lhe por Deus era encomendada”,
constitui-se como o mito fundador da nacionalidade. Assim, neste
processo de legitimação da nacionalidade, pelo estabelecimento de uma
origem divina, em que se funda o reino, o autor retrotrai profundamente
a mitificação da historiogénese ─ tradicionalmente assente no milagre de
Ourique verificado num tempo mais recente ─, para apresentá-la como
“modelo de explicação das origens”.
Pegando no legado cultural do imaginário oferecido
pelos modelos de construção judeo-cristã da história, em que a Bíblia
emerge como a fonte angular, o historiador constrói uma autêntica
teologia da história do reino de Portugal, num diâmetro cultural
miticamente retrotraído até à segunda idade do mundo. Em Tubal é
constituída ontologicamente a nação com um território, um povo, uma
organização política de tipo monárquico, um nome e uma missão histórica
intrínseca. Reino que vai ser alvo, na sua evolução também ela mítica,
de todas as tentativas de espoliação por diversos povos estrangeiros,
mas cuja herança será salvaguardada, essencialmente, num resto de
território e de povo, herdeiro biológico, cultural e político do
progenitor bíblico.
Com Dom Afonso Henriques, Portugal restaura-se das
fortes tentativas de aniquilação por parte dos reinos vizinhos e começa
a recuperar o fulgor da primeira idade de ouro. Restauração que se
efectua no cumprimento da missão que dá sentido à fundação transcendente
do reino: a dilatação da fé cristã. A própria etapa da restauração de
Portugal é também ela apresentada como sendo fruto de uma disposição
divina providencial. O próprio restaurador, qual messias, foi também
objecto de escolha divina, como afirma Fernando Oliveira falando de D.
Afonso Henriques: “Foi restaurador deste reino, escolhido por Deus em
sua vida”.
O carácter histórico-providencial, mediado por Tubal,
da fundação do reino, manifesta-se no carácter messiânico-providencial
da sua restauração em que se afirma a predilecção divina e a sua
constituição para uma missão sagrada, através da figura de D. Afonso
Henriques: “Criava o Dom Egas Moniz, mui extremado cavaleiro e temente a
Deus, qual cumpria à criação de príncipe em que Deus punha o fundamento
de um reino tão nobre, como o consistório divino ordenava fazer este de
Portugal, assim no temporal como no espiritual”.
Aliás a sua entronização real e a sua acção
político-militar será analogicamente colocada em paralelo com grandes
figuras régias e heróicas da Sagrada Escritura, a saber, David, Salomão,
Judas Macabeu e Josué. A hierofania de Ourique (Milagre de Ourique)
apresenta-se como um símbolo mítico da confirmação do acto fundador da
nacionalidade e da dispensação celeste em relação ao reino, representado
na pessoa de D. Afonso Henriques.
Esta teofania marca o sinal distintivo, o timbre singular que o eleva de
forma sui generis entre os outros reinos. Peculiaridade que é
expressa nas armas de Portugal, inspirada na revelação de Ourique e da
qual Oliveira tira hermeneuticamente trunfos ideológicos. Escreve o
historiador que do acontecimento de Ourique o novo rei “tomou as
insígnias deste reino que são das mais insignes que têm os reis
cristãos”. E acrescenta explicativamente: “Insígnia quer dizer sinal de
nobreza, em especial aquele que é sinal dalgum feito bom e notável”.
Seguidamente remata o capítulo VI do III livro dedicado à batalha de
Ourique, fazendo a interpretação do significado dos elementos simbólicos
escolhidos por D. Afonso I para representarem as armas de Portugal: “A
pintura daquela vitória são cinco escudos de cinco reis mouros que ele
ali venceu. E porque os venceu com ajuda de Jesus Cristo crucificado,
que lhe a ele aparece, mandou pintar aqueles cinco escudos sobre uma
cruz azul, a qual dizem que era a insígnia antiga deste reino. Mandou
mais pintar em cada um daqueles escudos cinco pontos que fazem número de
vinte e cinco, e com os cinco escudos fazem trinta. Estes números quis
ele que significassem os cinco escudos cinco chagas principais de Jesus
Cristo, e o número de trinta significasse os trinta dinheiros por que
ele foi vendido”.
E, conclui o autor, sublinhando a dimensão teológico-sacral desta
aparelhagem simbólica e vendo nesta a garantia indelével da perenidade
do reino, sinalizada divinamente: “São estas armas fundadas sobre a cruz
de Cristo e mistérios da nossa redenção e são as melhor fundadas e mais
seguras e honradas que podem ser outras. Estas duram em Portugal até
agora”.
Faz-se consistir, assim, a historicidade da
confirmação de Portugal, enquanto reino restaurado, numa teofania, “na
qual ─ como reflecte Paulo Borges ─ o compromisso de Portugal com a
figura do Deus redentor e crucificado desde logo se manifesta no triunfo
guerreiro sobre os inimigos comuns. É o símbolo nacional, construído à
imagem dos preceitos divinos e objectivando a relação originária da
nação com a Redenção do mundo, é o texto, memorial e prospectivo,
pelo qual as suas gerações históricas se saberão privilegiadas
cooperantes de uma empresa supra-humana”.
O maravilhoso de que foi revestida a vitória de
Ourique ganhou foros de símbolo; símbolo que, hermeneuticamente
instrumentalizado, se transforma em mito.
Nesta asserção, o reino assume, em certo sentido, um carácter teândrico,
isto é, profano e ao mesmo tempo sagrado, obra de Deus, e
concomitantemente obra humana, o que lhe confere uma garantia especial
de continuidade ontologicamente indemne na história. Assim, o milagre de
Ourique manifesta a indefectibilidade da predilecção divina e da
dispensatio coelestis em relação a Portugal. Comenta Ana I. C.
Buescu que “a defesa da tradição de Ourique, a um tempo sinónimo de
patriotismo e de fé, traduz uma concepção particular da pátria e da
história, em suma, de um passado que, potenciando o futuro, nele se
projecta, o explica e o promete”.
Este locus simbólico confirmante da origem
divina da nacionalidade, é legitimado teológico-juridicamente através do
documento pontifício denominado Manifestis Probatum, o qual
reconfirma sacralmente, pela mediação da autoridade eclesiástica, o
reino de Portugal e o poder régio de D. Afonso Henriques. Em coerência
ideológica com a sua construção mitificante da história de Portugal,
Oliveira recusa liminarmente a tese clássica de que por este documento
jurídico-eclesiástico foi realizada uma “nova erecção” de um novo reino
e de uma realeza nova. Isto “porque ─ como reitera o autor ─ na primeira
parte deste livro fica provado que Portugal tem título de reino muito
antigo”.
O reino não se fundou, mas restaurou-se mediante as
prerrogativas do direito de cruzada, readquirindo-se o que “já era seu
dele e nunca foi deles”,
enquanto herança antiga dos Portugueses. Daí que o documento papal seja
visto como a confirmação jurídica, por meio da autoridade eclesiástica,
dos territórios conquistados ou a conquistar aos “sarracenos”, bem como
a declaração de ilegitimidade de qualquer tipo de anexação por parte dos
reinos cristãos vizinhos. Esta bula é, assim, uma garantia jurídica de
protecção sagrada, pois além de proibir a usurpação pelos reinos
cristãos, oferece uma regalia espiritual, declarando objecto de maldição
divina e castigo celeste quem infringir esta norma.
Seguindo uma lógica hermenêutica de tipo
filosófico-política, apresenta juridicamente este documento como uma
“constituição”, isto é, com poder para confirmar o carácter sagrado do
reino e o poder divino do rei. Tendo por paralelo analógico o modelo da
realeza bíblica ─ o paradigma teocrático que subjaz à nação israelita: o
povo eleito do Antigo Testamento, da Antiga Aliança ─, vê neste
documento uma instituição ritual visível da prévia escolha divina do rei
e do reino. Decalca, no fundo, a doutrina do direito divino do poder dos
reis, alegando uma reconhecida autoridade moderna sobre o assunto, o
canonista Azpilcueta, o qual reafirma de forma vigorosa a mediação
vicarial do pontífice enquanto confirmante qualificado.
Portanto, na linha da teoria tradicional eclesiástica
acerca do poder, atribui-se uma supremacia ao poder espiritual enquanto
instituinte do poder temporal; mais: enquanto conferente de uma
onticidade do poder régio, na perspectiva de uma visão teocrática de
fundo judeo-cristã e de inspiração medieval.
Seguindo uma teologia sacramental essencialista, em que as formas
rituais exteriores instituintes ou conferentes dos dons divinos são
classificadas como sendo do foro acidental, sublinha o conteúdo
fundamental da teoria política assente no apotegma paulino “Non est
potest nisi a Deo”
(não há poder que não venha de Deus). Este tinha sido
desenvolvido filosoficamente por Santo Agostinho: “De facto, assim como
[Deus] é o criador de todas as naturezas, assim é também o dispensador
de todos os poderes”
─ enunciado teológico que inspira a estruturação medieval e a
codificação moderna do direito divino dos reis.
Esta bula de Alexandre III concedida ao reino de
Portugal é uma aplicação prática da filosofia do poder consignada
juridicamente na Idade Média e reinterpretada e recodificada, ao serviço
do reforço do poder régio, na modernidade.
De facto, o papa não avoca o direito feudal, nem o
seu poder temporal eclesiástico, mas tão-só a autoridade teológica
suprema, legada em função do seu vicariato pontifício, que, de acordo
com a teoria da mediação petrina, lhe autoriza conceder e confirmar reis
e reinos.
A teoria sacro-política emergente da obra historiográfica oliveiriana,
na sua hermenêutica orientada apologeticamente, no seu quadro
programático, visa reforçar a sustentação da ideia mitificante do reino,
sacralizando a sua concepção ôntica e a própria forma de exercício do
poder que lhe é afecta. Tal é defendido à luz de uma visão
providencialista da história do reino que o explica na sua essência e na
sua plasmação no tempo e na evolução histórica. Daí que como expressão
adveniente desta asserção ideológico-explicativa da ideia de Portugal,
Oliveira recorde que “os reis deste reino protestam reinar, dizendo no
seu título: Dom N. por graça de Deus, rei de Portugal, conforme ao que a
sabedoria divina nos Provérbios diz: ‘Por mim, diz ela, reinam os
reis e os príncipes por mim mandam e discernem a justiça os poderosos’”.
Portugal é, assim, fruto de uma dispensação divina
especial. É um reino predilecto de Deus, à semelhança ─ analogia plena
de significado ─ do povo eleito do Antigo Testamento, pois, criado para
desempenhar um papel especial no plano da economia da salvação da
humanidade. Neste sentido, o povo eleito de Israel apresentado na Bíblia
é, implicitamente, entendido como a prefiguração, o arquétipo daquilo
que é agora a nação portuguesa, qual povo eleito da Nova Aliança, do
Cristianismo. Nesta óptica, não são de somenos importância as frequentes
avocações dos exemplos tirados da história bíblica. Israel e os seus
feitos são colocados em paralelo com as acções heróicas do reino de
Portugal, em que a dimensão providencialista é um tópico estruturante e
iluminador de ambas as histórias.
Assim sendo, Fernando Oliveira, inspirando-se no
modelo da teologia da história bíblica e cristã de pendor agostiniana,
constrói uma história mítica de Portugal. Aqui a dispensação predilecta
da transcendência configura uma ideia sagrada, intocável e imarcescível
deste reino, na medida em que é apresentado como uma fortaleza protegida
à prova de maldição divina.
Nesta história, a elaboração do mito das origens, que
filia o reino de Portugal e o povo português na genealogia patriarcal
bíblica, é novamente potenciada pela maravilhosa revelação teofânica de
Ourique à figura do rei-messias, D. Afonso Henriques. Este é apresentado
como o restaurador deste reino antigo, reino que foi alvo de várias
tentativas de espoliação pelos povos estrangeiros. Esta manifestação
divina, no plano concreto, é confirmada não só na vitória de Ourique e
consequente aclamação popular do rei, como também é formalizada
jurídico-eclesiologicamente pelo papa através da bula constituinte.
Nestes elementos estruturantes da história mítica de Portugal, é-lhes
indissociável uma imagem de rei,
elaborada no âmbito da construção de uma imagiologia do rei natural,
restaurador-salvador e regenerador da nação decaída. Donde todo o
esforço de coonestar a figura de D. Afonso Henriques e das outras
figuras da realeza de Portugal, depurando moralmente as suas biografias
e colocando-as acima de toda a suspeita, num claro processo
hagiografizante de canonização da legitimidade transcendente do seu
poder, da nobreza dos seus feitos e da santidade da sua vida.
Uma existência vista como predestinada e dedicada ao ideal pátrio, cujo
objectivo inerente e justificante era eminentemente religioso ─ o
proselitismo cristão.
Neste sentido mítico-sacralizante do rei e do reino,
Ourique aparece como o epicentro desta história, isto é, como o milagre
que faltava para atestar a dispensação celeste concedida
providencialmente a este reino desde a sua fundação.
A identidade essencial da nação portuguesa e da
constituição ontológica do reino perdura independentemente da
continuidade ou ruptura das linhas dinásticas. Com efeito, as formas
históricas de exercício do poder, como a monarquia hereditária ou
eleita, não fazem parte da dimensão ôntica do reino. Não são essenciais,
mas são do domínio do acidental. O que é essencial é a ordem inicial, de
carácter sagrado da sua constituição configurada num território basilar,
e encarnada num povo que transporta de geração em geração esse legado
nacional, a vontade nacional, que é, em suma, um poder jurídico-político
totalizante com capacidade para defender, ordenar e governar a nação com
base num discernimento especial, consoante as circunstâncias históricas.
Junta-se ao povo e ao território configurado
primigeniamente, a nomeação do reino que identifica esta onticidade
desde as origens. A antiguidade do nome é testemunho da perenidade da
existência da gente portuguesa e da sua autonomia e
“inviolabilidade da soberania da sua
terra”.
O que define o reino é uma determinada concepção de
soberania (liberdade) do território e da capacidade do povo
autodeterminar-se e garantir um governo justo, discernindo e intervindo
em conformidade com as circunstâncias históricas, independentemente das
formas políticas: “Ainda que não haja rei na terra, se a gente é livre e
governa-se por suas próprias leis, não se deixa de chamar reino, como se
não deixou de chamar reino dos romanos a terra que eles governavam,
posto que não tinham reis, porque reino diz que é governação livre e
justa”.
Na perspectiva da defesa de uma ideia de Portugal
para além das aporias e hiatos da sistematização lógica da história, o
autor advoga que a perenidade da herança ontológica do reino de Portugal
continuou incindível. Esta teria resistido a todas as tentativas de
dominação e subsistindo sempre num resto essencial (matricial) de
território e/ou num resto de Portugueses, que mesmo ocupados e sob a
administração de outro reino, permanecem livres, como se depreende desta
passagem de sabor jurídico: “E se alguns eram mortos, não era morta a
nação e república portuguesa, a que principalmente o direito e senhorio
delas pertencia”.
Em última análise, professa uma ideia de nação suprema com contornos
míticos, sublinhando que enquanto existirem Portugueses e o território
originário onde se formou o reino, existe Portugal. Pois, entende que
todas as formas de dominação e usurpação do reino por parte das
potências estrangeiras, sem a legitimação da vontade outorgatória do
povo livre, são consideradas espécimes de tirania, portanto, um senhorio
ilegítimo, como estatui o historiador: “Reino é governação espontânea e
não constrangida por alguma via. E se por força, ou engano, ou suborno
alguém senhoreia, o tal senhorio é tirania”.
O autor desenterra e edifica miticamente, de entre
todos os escombros da história e vicissitudes e descontinuidades do
tempo, um Portugal antigo, sediado na matriz bíblica da tábua das
nações, donde brota a nova humanidade pós-diluviana, investido como
reino por encomendação divina, e feito povo a partir de um radical da
geração de Noé. Povo que é destinado a uma missão universalizante de
carácter religioso e, neste sentido, predestinado para gozar de uma
glória que o superioriza perante as outras nações da terra, tendo sido
protegido para uma invulnerabilidade à prova de maldição divina.
Nesta linha de ideias, um dos dados históricos
adquiridos, sedimentados na cronicologia tradicional espanhola ─ mas
também portuguesa ─ que se torna imprescindível refutar para sustentar
esta nova visão histórica em que Portugal aparece como um reino
antiquíssimo, é o de que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de
Portugal e com ele se inaugurou o reino por desmembramento do reino de
Leão. Contra esta tese clássica, o historiador vai contrapor,
“surpreendendo as contradições
sistemáticas consignadas nas historiografias confutadas”.
Na óptica da filosofia da história patente nesta
obra, o privilégio da fundação primigénia do reino, perfilha-o como
reino eleito. A dignidade do fundador e progenitor do reino (Tubal) e a
autoridade divina de que estava investido, com poder para inaugurar
reinos e multiplicar povos, vai configurar a matriz essencial de
Portugal, que funda em primeira instância. Este reino fica marcado
matricialmente com o selo sagrado que lhe garante uma perenidade
protegida contra todas as pretensões de dominação.
Com base na teologia da história judeo-cristã que
está implícita nesta visão da historiogénese e da evolução da história
de Portugal, a intocabilidade do reino de Portugal também se explica
pelo “princípio da potencialidade dinâmica e expressiva do acto
primeiro”,
neste caso, o acto da fundação do reino, realizado divinamente, através
da figura da mediação do patriarca bíblico. Este princípio, geralmente
aplicado numa perspectiva antropológica da criação divina, é aqui
aplicado numa perspectiva etnonímica, com dimensão política. Explica J.
Borges de Macedo, ainda que numa óptica antropocêntrica, acerca do
princípio da potencialidade dinâmica: “Este é essencial para a
compreensão do homem porque exprime a efectivação de uma viabilidade
concreta e exprime um processo de repetição, uma vez que as forças que
se desenham no homem e o definem nunca se alteram: acto primeiro
manifesta uma viabilidade eterna”.
Mutatis Mutandis, verifica-se um decalque do princípio criacional
e instituidor de uma dita realidade, neste caso, o reino de Portugal.
Com o selo divino esta realidade teria sido viabilizada ad eternum,
isto é, perenemente, sem que nenhuma potência humana possa expugnar, ou
cindir o fio da continuidade para que foi determinada ab initio.
Nesta medida, avulta ao longo da obra, a pretensão
polémica de provar uma das constantes ideológicas estruturantes que se
agrega ao lado da antiguidade e da nobreza da sua fundação ─ a sua
liberdade e imunidade essencial que torna o reino invulnerável na sua
onticidade.
Para cumprir esta mítica tarefa de provar o
improvável, o historiador vai defender a existência de partes essenciais
do território não dominadas pelos diferentes povos que invadiram e
dominaram a Península Ibérica. Para tal, o historiador alega, por vezes,
a existência de figuras político-jurídicas especiais que teriam
garantido esta liberdade essencial do reino, como é o caso do direito da
municipalidade no tempo dos Romanos. No tempo dos Godos, mobiliza um
autor que se torna fundamental para a economia ideológica da sua tese ─
Santo Antonino de Florença. Baseando-se numa passagem da obra histórica
deste autor (já citada por nós), prova “que os Godos não puderam
subjugar o reino”,
precisamente na medida em que eram os Portugueses ─ aí designados
Galacienses ─ fiéis à defesa da ortodoxia da fé cristã, posta em causa,
no resto da Península, pelos invasores bárbaros.
Por seu lado, a liberdade essencial de Portugal
também não foi posta medularmente em causa com a suspensão ou extinção
das instituições políticas visíveis. Fernando Oliveira entende que o
povo tinha o poder de se governar por si ou de delegar tal governação
num poder estrangeiro, como afirma ter-se verificado no “tempo dos
Mouros”. Altura em que faz a apologia da delegação de poderes de
governação e reconquista a Leão e Castela, sob a figura de confederação
e do protectorado. E mesmo aqui o historiador só aceita que os espanhóis
tivessem tido à sua conta aquelas partes que conquistaram do território
português aos Mouros e não o resto. Entende ainda que esta governação
vigorou sob uma condição de provisoriedade, como resultado do
cumprimento de um dever de auxílio a Portugal por estar carente de
estruturas políticas organizadas devido às vicissitudes da sua história.
Insiste-se, pois, no tópico da separabilidade do rei
de Portugal em relação aos outros reinos da Península ─ condição
garantida, aliás, ao nível teórico, na celebração da monarquia dual ─,
como um sinal da singularidade e da soberania essencial deste reino,
cujo garante e guardião último era a “vontade do povo”.
A construção filosófica de uma ideia de Portugal como
um reino especial, no quadro da Cristandade ibérica, reino eleito e
predilecto de Deus, detentor de uma nobreza superior e antiga, não se
restringe a uma etérea abstracção de carácter especulativo, mas procura
uma consistência com maior aparência de realidade. Aparência de
realidade também ela construída sob uma argumentação acomodatícia de
carácter histórico-jurídico. Nesta medida, o autor defende
obstinadamente a liberdade essencial e sempre incólume de Portugal e
nunca senhoreado por qualquer poder soberano superior. Assim reafirma a
sua tese de que as terras de Portugal sempre foram “terras de reino
livre, sem obrigação de vassalagem alguma, nem reconhecimento de
superioridade”.
Isto porque os Portugueses, “povo livre”, eram detentores daquela
liberdade ôntica original e detinham uma primazia selada divinamente,
não podendo ser sujeita a qualquer outra entidade soberana.
A esta liberdade fundamental e intocável do reino,
é-lhe concedido um carácter protegido contra a venalidade por parte dos
responsáveis políticos do reino: “A terra de Portugal digo que é livre,
e é do povo natural dela, e os reis não são senhores dela, nem a podem
vender, nem trocar, nem obrigar sem vontade do povo”.
Noutro ângulo, mesmo que a sucessão dos reis tivesse sido quebrada, como
de facto acontece, segundo o autor, na “primeira antiguidade”, a
liberdade do reino não foi posta em causa, pois as formas exteriores e
instituídas de governo do reino são do domínio do acidental, não
afectando a sua suspensão ou desaparecimento, portanto, o carácter
ôntico do reino.
Quanto àqueles hiatos históricos em que o autor não
pode deixar de admitir que o território português foi expugnado e
senhoreado por potências estrangeira e soberanas, Fernando Oliveira
dirime a dificuldade, considerando que tal denominação tinha “figura de
tirania”, imposta pela força contra a vontade do “povo livre”, logo foi
ilegítima. E assim, nestas fases históricas, os Portugueses não perderam
a legitimidade de pátria livre, nem da herança do reino, porque este
género de “senhorio traz consigo força e não é reino”.
Pois, de acordo com a filosofia política de matriz aristotélica que o
autor segue, a soberania externa está corroída de ilicitude, bem como as
usurpações tirânicas e o exercício de dominação dos reinos alheios.
Neste sentido, Portugal nunca teria perdido juridicamente o direito e a
liberdade do reino durante o tempo da vigência de tal senhorio.
A liberdade e a imunidade são tópicos estruturantes
da ideia oliveiriana de Portugal. Estes tópticos são, na sua obra,
mitificados, recorrendo a elementos ideológicos de base teológica e
filosófica, que depois são enformados e comentados juridicamente. Este
esforço de argumentação é orientado no sentido de cumprir um ideário
político no presente histórico, perspectivando o futuro, que, a exemplo
do passado, deverá gozar da garantia desta liberdade intrínseca,
proclamando, assim, que Portugal nunca poderia vir a ser efectivamente
dominado. |
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Mito das origens e utopia do futuro glorioso |
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A história é para a sociedade como o que a memória é
para o indivíduo: se este perde a memória, perde a consciência da sua
identidade, o sentido do presente e a capacidade de idealização do
futuro, porque não possui o suporte gnoseológico (experiencial,
intelectual, afectivo,...) que lhe permita encadear o tempo e a história
e os seus mananciais de sabedoria, aspiralmente constituída, de modo a
ler e a recriar a sua situação existencial. Assim, a história é para a
sociedade esta mais-valia fundamental, cuja hermenêutica não é
indiferente, mas antes mobilizadora da dinâmica do presente e é
perspectivadora das expectativas expressas em relação ao futuro. Aliás,
como reflecte Umberto Eco no quadro do seu livro recente Marcha-atrás
como o caranguejo, os políticos costumam falhar tragicamente quando
não consultam os homens de cultura e concretamente os cientistas
sociais, como aconteceu recentemente com o presidente George Bush e a
sua decisão de intervir militarmente no Iraque.
A funcionalização hermenêutica da história ao serviço
de uma mobilização que se pretende que seja produtora de eficácia
decisória no presente e perspectivadora do futuro está bem patente neste
processo de mitificação. O passado apresenta-se como uma reserva moral,
como uma lição, logo como lugar também privilegiado de tomada de posição
em relação ao presente, no plano da interpretação e da explicação. Ora,
se o passado encerra uma reserva pedagógico-moral, neste caso, no plano
político, transporta consigo uma capacidade, um poder, que permite
discernir ou entreabrir o futuro, a partir de uma lógica de lectio,
de tipo causa/efeito.
À obra historiográfica em análise subjaz a noção de
que a reunião das mesmas condições sócio-políticas em planos temporais
diversos produzem na história nacional os mesmos efeitos, as mesmas
consequências, a mesma reacção e o mesmo modo de resolução por parte dos
Portugueses. Esta epopeia em prosa do passado nacional, tendo na sua
base uma utensilagem mental cristã, insere-se naquele tipo de obras
historiográficas que vão sustentar e alicerçar as grandes teleologias
acerca do destino histórico de Portugal, as quais vão ser elaboradas no
quadro da cultura portuguesa.
No âmbito do drama em que radica o nascimento desta
obra histórica, a conjuntura em que se verificou a ascensão ao trono
português de Filipe II de Castela e o consequente apagamento do brilho
glorioso da história recente de Portugal no plano internacional,
enquanto nação independente, Fernando Oliveira reconstrói a história do
país de modo a produzir um esteio crítico e fornecer uma lição para o
presente e para o futuro. Neste contexto, uma boa parte da reconstrução
histórica das relações entre esse Portugal mítico e os reinos de Leão e
Castela é edificada como prefiguração da situação presente. Por exemplo,
D. Afonso VI, reinava sobre Portugal, não enquanto rei de Leão e
Castela, mas como rei de Portugal. Aqui se pode observar uma imagem
prefigurada, transposta virtualmente, do regime monárquico dual,
liderado no presente por Filipe II.
Seguindo este fio hermenêutico da construção
prefigurativa do passado, assente numa translucidez fornecida pelo
conhecimento da história futura, podemos aventar que o
historiador anuncia implicitamente uma “certeza”, que no presente
histórico da obra assume a dimensão do valor mobilizador da esperança. É
a certeza de que ─ se assentirmos nesta perspectiva mimética da história
─ a permanência de um rei espanhol no trono português, como era o caso
presente de D. Filipe I, provocaria a vinda de um novo “restaurador”, à
semelhança de D. Afonso Henriques que “foi restaurador deste reino”,
escolhido por “consistório divino”.
Isto tendo em vista a reposição no trono de “Tubal” de um rei que seja
natural, pois a falta de “amor à terra” dos reis estrangeiros conduziu
Portugal à decadência, obrigando o “povo livre” a vindicar para o trono
um rei nascido na terra, na fidelidade ao ideal nacional que este povo
tinha a missão de preservar. Esta é com efeito a grande lição do
passado. Mas isto acontecerá quando o reino atingir um estado de
degradação intolerável, pois nesta obra está implícita a lógica (de
fundo teológico judeo-cristão) de que Deus manda o redentor quando se
atinge um grau extremo de degradação. João Medina, falando sobre esta
lógica da degradação/redenção, coloca em contraste as expectativas dos
movimentos messiânicos e a lógica teológica de fundo da concepção
doutrinal judaica do ritmo da história: “O que é sobretudo verdade no
tocante aos movimentos de activismo messiânico em que se pretende
“apressar a vinda” do Messias, não obstante a advertência que, no salmo
45, 3, dava o Midrash Tehillim: “Israel disse a Deus: quando nos virás
resgatar? E Deus respondeu: quando tiveres caído no mais baixo, então te
virei resgatar!” Ou como se advertia no livro de Esdras (IV, 34): “Não
sejas mais apressado que o teu Criador”...”
Mas a esta experiência passada que se pretende erigir
como palpável e indesmentível, na linha dogmatizante da apologia
histórica de Fernando Oliveira, subjaz uma ideia filosófica de Portugal
mais profunda, que brota de uma visão global da sua obra. Esta ideia
consiste, em nosso entender, naquilo que podemos designar de utopia da
perenidade histórica do reino de Portugal. Reino constituído em direito
divino, cujo segredo da sua providencial perenidade é explicado em
função do seu destino histórico ─ a dilatação da fé. Esta obra faz eco
de formulações míticas anteriores e anuncia, assim, as utopias vindouras
do destino histórico de Portugal, isto é, da “renovada destinação da
comunidade portuguesa a um missionário domínio universal”,
que, no dizer de Paulo Borges, foi para tal missão “directamente
investida pela verdade divina e religiosa, central a toda a história do
mundo”.
Esta destinação utópica vai encontrar a sua apoteótica e mais delirante
elaboração no século seguinte, no mito do Quinto Império do Padre
António Vieira.
Assim sendo, a obra historiográfica anuncia e prepara
o lastro, em certa medida, das grandes utopias messiânicas da história
de Portugal que se vão desenvolver no século seguinte, logo a seguir à
Restauração da independência em 1640. Emblemáticas destas obras utópicas
são os livros proféticos de António Vieira (particularmente, a
História do Futuro e a Clavis Prophetarum)
e o Tratado da Quinta Monarquia de Frei Sebastião de Paiva.
Embora Oliveira não se mostre, na sua obra,
exageradamente um messianista (nem declaradamente sebastianista), ele
delineia um trajecto histórico de Portugal que permite alicerçar um
certo messianismo nacional. Isto mesmo se pode verificar na sua
insistência no tópico de que D. Afonso Henriques não foi o primeiro rei
de Portugal, mas sim o restaurador de Portugal, aquele que o povo
desejava para atalhar a perda que o reino sofria na sua união a Leão e
Castela. Nesta dinâmica histórica de perda e restauração, o autor
pretende oferecer uma lição histórica que abre para uma certa dimensão
profética e aponta, de facto, para a messianeidade e para aquilo que
virá a ser o sebastianismo e o mito do rei restaurador.
Assim sendo, a obra historiográfica de Oliveira
encerra a enunciação subjacente, na sua leitura do passado, de duas
utopias que se implicam mutuamente: a utopia da restauração de Portugal
─ que se desenvolverá mais tarde nas chamadas obras da “literatura
autonomista” ─ e a utopia da expansão universal do reino de Portugal e
dos Portugueses, para quem “conquistar todo o mundo lhe parece pouco”,
a fim de dilatar o conhecimento mundial da fé cristã. Estas duas utopias
(uma de cariz político e outra de feição religiosa) são subsidiárias de
uma única utopia filosófica, relativa à ideografia de Portugal ─ a
utopia da sua perenidade inexpugnável no tempo, perenidade que é
sustentada divinamente. Esta utopia pauta-se pelo carácter incólume da
liberdade e imunidade que é apanágio ontológico do reino. Esta herança
matricial transmitida de geração em geração pelo povo português, o qual
é, em última instância, o guardião e o continuador desta identidade
originária e original de Portugal. Deste modo, esta obra historiográfica
transporta uma utopia que brota de uma profissão de fé histórica nesta
perenidade, cujo processo de construção utópica emana da convicção de
incumprimento do destino de Portugal, em função do qual esta perenidade
é garantida e encontra o seu sentido último.
A utopia da perenidade do reino, alicerça-se no mito
de um Portugal visto como um reino eleito para uma missão especial, de
carácter sagrado, no panorama planetário. Mito este que se desenvolve
como consequência do deslumbramento nacional perante as navegações
extraordinárias dos Descobrimentos, a partir das quais se assiste a um
descerrar de uma nova mundividência verdadeiramente universal. É
a partir da poesia e da historiografia que são cantadas e “memorizadas”
as gestas desta etapa da história de Portugal, vista como uma fulgurante
idade de ouro, na qual se reforçam as bases míticas da portugalidade.
A interrupção ex abrupto deste decurso
histórico esplendoroso ─ em que um dos tópicos ideológicos
exaltacionistas do orgulho patriótico era o contributo decisivo dado no
sentido da aceleração da universalização efectiva da dilatação da fé
cristã ─ com a crise dinástica e a consequente perda da independência,
derramou entre os Portugueses, encantados com este passado jubiloso, uma
sensação de inacabamento da missão histórica que alegadamente se tinha
começado a revelar como grandiosa, porque, efectivamente, globalizante.
Salienta Coelho Maurício que “a missão evangélica dos Portugueses no
mundo era um tópico político central de Quinhentos”.
E acrescenta que aí se desenvolveu imediatamente “a demonstração de que
o reino fora criado por Cristo, em pessoa, e exclusivamente para seu
serviço. Se esta maneira de conceber o presente abria o caminho à
acomodação, nem por isso esta se tornava inteiramente aproblemática. É
que do facto do reino de Portugal ter sido criado por Cristo e para
Cristo podia ser inferido que ele não devia ser violentado pelos homens”.
É esta inferência que vai marcar a ideia da perenidade do reino em
Oliveira. A constituição do reino em direito divino, tornou-o
inexpugnável desde a sua origem, e é vista naquela constituição uma
garantia de perenidade que se pretende demonstrar historicamente a toda
a prova.
Ora, a obra historiográfica oliveiriana constitui a
primeira tentativa de superar o drama deste “desmoronamento da
independência do reino, consumado com a união à monarquia de Castela”.
Assim sendo, esta utopia da perenidade histórica de Portugal concebida
em vista da realização de uma missão transcendente que assenta na
mitificação do passado de Portugal, apresenta-se como uma utopia
fortemente crítica do processo e da união efectiva da coroa portuguesa à
coroa Castelhana”. Esta utopia avulta
como o primeiro sinal conhecido de inconformismo e de resistência ao
novo statu quo político, consignada na reescrita desta história
de Portugal.
O Livro da Antiguidade e a História de
Portugal encerram uma epopeia mitificante em prosa do passado de
Portugal, escrita e explicada “pedagogicamente”. Esta epopeia exprime o
inconformismo contundente de um intelectual (que representa um grupo
mais vasto de patriotas descontentes) perante as soluções impostas para
resolver a crise política do presente. Este inconformismo desdobra-se
concomitantemente em resistência e em esperança, que se configura na
edificação do passado como lição para o presente e para o futuro: a
proclamação do carácter imarcescível do reino de Portugal, imunizado
divinamente contra tudo e contra todos. Esperança que nos remete para
uma utopia que estrutura ideologicamente o patriotismo do autor: a
perpetuidade do reino de Portugal no tempo.
Mito e utopia, sentimento e discurso, desejo e sonho,
são elementos que tecem a história do imaginário de um povo e permitem
mapizar a sua trajectória no espaço e no tempo. São elementos de
sobrecompensação, ou seja, os suplementos de alma que acrescentam a
mais-valia decisiva do sentido. O sentido e a finalidade da existência
de um povo como povo. |
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Texto composto a partir da investigação feita para as nossas
obras intituladas O Mito de Portugal: a primeira história
de Portugal e a sua função política, prefácio de
Francisco Contente Domingues, Lisboa: Fundação Maria Manuela e
Vasco Albuquerque d’Orey e Roma Editora, 2000; e A influência
de Joaquim de Flora em Portugal e na Europa: escritos de
Natália Correia sobre a utopia da idade feminina do Espírito
Santo (em co-autoria com José Augusto Mourão), prefácio de Luís
Machado de Abreu. Lisboa: Roma Editora, 2004.
ALBUQUERQUE, Martim de. O Poder Político no Renascimento
Português.
Lisboa: ISCPU, 1968, p. 23.
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Jornal
InComunidade (Porto) |
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JOSÉ EDUARDO FRANCO (MACHICO, MADEIRA, 1969)
Diretor do Centro de Literaturas e
Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa. Especialista em História da Cultura. Agregação em História pela
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Doutoramento pela École
des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris em “História e
Civilização” e Doutorado em “Cultura” (através de equivalência) pela
Universidade de Aveiro, Mestre em História Moderna pela Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa e Mestre em Ciências da Educação pela
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Lisboa. Tem desenvolvido trabalhos originais de investigação nos
domínios da mitologia portuguesa e das grandes polémicas históricas que
marcaram a vida cultural, política e religiosa portuguesa e europeia.
Especial novidade têm representado os seus estudos sobre os Jesuítas, de
modo particular, sobre o fenómeno do antijesuitismo e sobre a
hermenêutica dos mitos e das utopias portuguesas e europeias.
Articulista assíduo da imprensa periódica, tendo já várias dezenas de
artigos publicados nas áreas da História, da Mitocrítica, da
Hermenêutica da Cultura, da Filosofia, da Ciência das Religiões, das
Ciências da Educação e da História da Mulher. Entre a sua vasta obra
publicada podem-se destacar os seguintes livros: O Mito de Portugal,
Lisboa, Roma Editora, 2000 (Premiado por unanimidade com o 1.º Prémio
“Livro 2004” da Sociedade Histórica da Independência de Portugal);
Brotar Educação, Lisboa, Roma Editora, 1999; Monita Secreta
(Instruções Secretas dos Jesuítas). História de um manual
conspiracionista (em co-autoria com Christine Vogel) Lisboa, Roma
Editora, 2002; O Mito do Milénio (em co-autoria com José Manuel
Fernandes) Lisboa, Paulinas, 1999; Falésias da Utopia, Lisboa,
Editora Arkê, 2000; Teologia e Utopia em António Vieira, Separata
da Lusitania Sacra, Lisboa, 1999; Vieira na Literatura
Anti-Jesuítica, (em co-autoria com Bruno Cardoso Reis), Lisboa, Roma
Editora, 1997; História dos Dehonianos em Portugal, Porto,
Edições Dehonianas, 2000; Fé, Ciência e Cultura. Brotéria – 100 anos,
Coordenação em parceria com Hermínio Rico, Prefácio de Eduardo Lourenço,
Lisboa, Gradiva, 2003; Coordenação da edição do manuscrito inédito do
tratado do Quinto Império em Portugal. Com edição integral do Tratado da
Quinta Monarquia de Sebastião de Paiva, Prefácio de Arnaldo do
Espírito Santo, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006; O mito
do Marquês de Pombal (em co-autoria com Annabela Rita), Lisboa,
Prefácio, 2004; Metamorfoses de um povo: Religião e Política nos
Regimentos da Inquisição Portuguesa – com edição integral dos Regimentos
da Inquisição Portuguesa (em co-autoria com Paulo de Assunção),
Lisboa, Prefácio, 2004;
Dois exercícios de Ironia: “Contra os Jesuítas” de Sena Freitas e
“Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade o Papa Pio IX” de Antero de
Quental,
(em co-autoria com o Prof. Doutor Luís Machado de Abreu), Lisboa,
Prefácio, 2005;
Influência de Joaquim de Flora em Portugal e na Europa.
Com edição dos escritos de Natália Correia sobre a
“Utopia da Idade Feminina do Espírito Santo” (em co-autoria com José
Augusto Mourão), Lisboa, Roma Editora, 2004;
O
Mito dos Jesuítas em Portugal e no Brasil, Séculos XVI-XX,
2 vols., Lisboa, Gradiva, 2006-2007;
O
Padre António Vieira e as Mulheres: Uma visão barroca do universo
feminino
(em co-autoria com Isabel Morán Cabanas), Porto, Campo das Letras, 2008
(publicação distinguida com o prémio “Monografia” do ano 2008, pela
Sociedade Histórica da Independência em Portugal); Padre Manuel
Antunes (1918-1985): Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia,
coordenação em parceria com Hermínio Rico, Porto, Campo das Letras,
2007; Jesuítas e Inquisição: cumplicidades de confrontações, Rio
de Janeiro, Editora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2007;
Padre António Vieira (1608-1697): Imperador da Língua Portuguesa,
Coordenação e co-autoria, Lisboa, Correio da Manhã, 2008; Jardins do
Mundo: Discursos e Práticas, coordenação em parceria com Ana
Cristina da Costa Gomes, Lisboa, Gradiva, 2008; Dança dos Demónios:
Intolerância em Portugal, coordenação em parceria com António
Marujo, Lisboa, Círculo de Leitores/Temas e Debates, 2009; Madeira:
mito da ilha-jardim – Cultura da regionalidade ou da nacionalidade
imperfeita na Madeira, Lisboa, Gradiva, 2012 (no prelo).
Coordenou a conclusão do projeto de investigação
intitulado Documentos sobre a História da Expansão Portuguesa
existentes no Arquivo Secreto do Vaticano, financiado pela
Fundação para a Ciência e a Tecnologia e promovido pelo Centro de
Estudos de Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da UCP: Arquivo
Secreto do Vaticano: Expansão Portuguesa – Documentação, 3 vols.,
Lisboa, Esfera do Caos, 2011. Foi Coordenador Geral do projeto da edição
crítica (em 14 vols.) da Obra Completa do Padre Manuel Antunes, sj.
É diretor do projeto de edição crítica da Obra Completa do Marquês de
Pombal. É co-diretor, em parceria com Pedro Calafate, da Obra
Completa do Padre António Vieira. Foi diretor do projeto de edição
intitulado Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em
Portugal (Lisboa, Gradiva, 2010), financiado pela Fundação para a
Ciência e a Tecnologia. Em fase de arranque tem entre mãos dois projetos
dicionariais: Dicionário dos Antis: A Cultura Portuguesa em Negativo;
e Dicionário Histórico da Heresias.
E-mail:
joseeduardofranco@sapo.pt |
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL |
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