REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 30 | agosto | 2012

 
 

 

 

PAULO AZEVEDO CHAVES

 

Atualidade de Jean Genet

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
TriploII - Blog do TriploV  
Apenas Livros Editora  
O Bule  
Jornal de Poesia  
Domador de Sonhos  
Agulha - Revista de Cultura  
Arte - Livros Editora  
 
 
 
 
 

Genet  inverteu a ordem de valores religiosos e morais de seu tempo. Ele sacralizou a abjeção e elevou à  santidade os párias do submundo homossexual que frequentou em Paris. Os termos mais chulos se inserem em sua literatura numa linguagem lírica e de grande rigor formal. Ao se apropriar de símbolos e rituais da Igreja para descrever a fauna humana formada por prostitutas, travestis, cafetões, michês, ladrões, pederastas, guardas sádicos de prisões imaginárias e vividas, ele sacraliza a abjeção e ridiculariza os valores morais repressivos da sociedade francesa puritana dos anos pré e pós segunda guerra  mundial. Ele foi realmente “comediante e mártir”, como o título do ensaio famoso de Sartre “São Jean Genet, Comediante e Mártir”, mas sobretudo um revolucionário por sua postura existencial e pelo sentido moralmente transgressor de seus textos.

O desafio de traduzir a poesia de Genet advém principalmente de se conseguir  ser fiel ao profuso imaginário barroco de sua narrativa, expressa, paradoxalmente, numa linguagem quase clássica de rigor e disciplina impecáveis. E sobretudo vencer o desafio de decifrar e encontrar correspondentes em nosso vernáculo às gírias do submundo gay e da marginalidade parisiense, usadas à exaustão em sua poesia,  em seu teatro e no caudaloso romance  Nossa Senhora das Flores.

Genet viveu intensamente uma vida marginal e uma sexualidade estigmatizada pela sociedade bem estabelecida, de rígidos padrões morais e religiosos da França no século XX. Masoquista, ele se ofereceu ao sacrifício, foi preso, humilhado e fez disso seu triunfo. Ladrão, condenado à prisão, Genet encontrou ali seus personagens e  temas mais constantes. Aliás, sua única experiência filmográfica, um curtametragem chamado Un Chant d’Amour (1950), mostra o relacionamento amoroso entre prisioneiros e um guarda sádico e voyeur, em imagens cruas e de profundo lirismo.

O homoerotismo é o leitmotiv da obra em prosa e versos de Jean Genet. É uma obra contundente em seu permanente desafio ao status quo, ao conformismo burguês, à linguagem estratificada do establishment literário. Ele  revoluciona a prosa e poesia de seu e nosso tempo com suas imagens cruas de sexo homossexual, com  permanente recurso às palavras vulgares e à gíria do submundo social em que se insere e de que se alimenta  enquanto escritor. Constituindo-se no transgressor mor da literatura francesa do século XX, sua influência se mantém viva e alimenta a criação literária de nosso próprio tempo. Ele nos ensina a cartilha do inconformismo como seiva e inspiração para nossa própria vida em seu dia a dia. Com efeito,é preciso romper as amarras das convenções que nos aprisionam o coração e mente, e navegar na vida e na literatura qual um “barco ébrio”, como nos ensinou outro transgressor da poesia francesa no final do século XIX , o iluminado Rimbaud.

 

 

Jornal InComunidade (Porto)

   
 

 

 

Estudou francês na Universidade de Lausanne, Suíça, e no Centro Europeu Universitário de Nancy, França, onde foi bolsista do governo daquele país. Em 1963, concluiu o Bacharelado em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1969, publicou Narciso e Prometeu (poesia), pela Imprensa Universitária.
Entre 1973 e os anos 90, assinou a coluna Poliedro no Diário de Pernambuco, na qual exerceu seu ofício de crítico de arte e literatura, publicando poesia e dando espaço a jovens talentos. A partir de 1979, assinou a coluna Artes e Artistas no mesmo jornal. Durante o ano de 1980, coordenou a Revista Artes Plásticas, publicada pela Pool Editorial. Livros:

  • Narciso e Prometeu (poesia). Recife: Imprensa Universitária, 1969.
  • Versos escolhidos (traduções). Recife. Edições Pirata, 1982.

  • Catálogo pernambucano de arte (apresentação de Paulo Azevedo Chaves). Recife: Grupo X, 1987.

  • Nu cotidiano. Recife: Grupo X, 1988.

  • Nus (org.). Recife, Comunicarte, 1991

Wikipédia

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL