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Genet
inverteu a ordem de valores religiosos e morais de seu tempo. Ele
sacralizou a abjeção e elevou à santidade os párias do submundo
homossexual que frequentou em Paris. Os termos mais chulos se inserem em
sua literatura numa linguagem lírica e de grande rigor formal. Ao se
apropriar de símbolos e rituais da Igreja para descrever a fauna humana
formada por prostitutas, travestis, cafetões, michês, ladrões,
pederastas, guardas sádicos de prisões imaginárias e vividas, ele
sacraliza a abjeção e ridiculariza os valores morais repressivos da
sociedade francesa puritana dos anos pré e pós segunda guerra mundial.
Ele foi realmente “comediante e mártir”, como o título do ensaio famoso
de Sartre “São Jean Genet, Comediante e Mártir”, mas sobretudo um
revolucionário por sua postura existencial e pelo sentido moralmente
transgressor de seus textos.
O desafio de traduzir a poesia de Genet advém
principalmente de se conseguir ser fiel ao profuso imaginário barroco
de sua narrativa, expressa, paradoxalmente, numa linguagem quase
clássica de rigor e disciplina impecáveis. E sobretudo vencer o desafio
de decifrar e encontrar correspondentes em nosso vernáculo às gírias do
submundo gay e da marginalidade parisiense, usadas à exaustão em sua
poesia, em seu teatro e no caudaloso romance Nossa Senhora das
Flores.
Genet viveu intensamente uma vida marginal e uma
sexualidade estigmatizada pela sociedade bem estabelecida, de rígidos
padrões morais e religiosos da França no século XX. Masoquista, ele se
ofereceu ao sacrifício, foi preso, humilhado e fez disso seu triunfo.
Ladrão, condenado à prisão, Genet encontrou ali seus personagens e
temas mais constantes. Aliás, sua única experiência filmográfica, um
curtametragem chamado Un Chant d’Amour (1950), mostra o
relacionamento amoroso entre prisioneiros e um guarda sádico e voyeur,
em imagens cruas e de profundo lirismo.
O homoerotismo é o leitmotiv da obra em prosa e versos
de Jean Genet. É uma obra contundente em seu permanente desafio ao
status quo, ao conformismo burguês, à linguagem estratificada do
establishment literário. Ele revoluciona a prosa e poesia de seu e
nosso tempo com suas imagens cruas de sexo homossexual, com permanente
recurso às palavras vulgares e à gíria do submundo social em que se
insere e de que se alimenta enquanto escritor. Constituindo-se no
transgressor mor da literatura francesa do século XX, sua influência se
mantém viva e alimenta a criação literária de nosso próprio tempo. Ele
nos ensina a cartilha do inconformismo como seiva e inspiração para
nossa própria vida em seu dia a dia. Com efeito,é preciso romper as
amarras das convenções que nos aprisionam o coração e mente, e navegar
na vida e na literatura qual um “barco ébrio”, como nos ensinou outro
transgressor da poesia francesa no final do século XIX , o iluminado
Rimbaud. |
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Estudou
francês na Universidade de
Lausanne,
Suíça, e no Centro Europeu Universitário de
Nancy,
França, onde foi bolsista do governo daquele país. Em
1963, concluiu o
Bacharelado em
Direito na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em
1969, publicou Narciso e Prometeu (poesia), pela Imprensa
Universitária.
Entre 1973 e os anos 90, assinou a coluna Poliedro no
Diário de Pernambuco, na qual exerceu seu ofício de
crítico de arte e literatura, publicando poesia e dando
espaço a jovens talentos. A partir de 1979, assinou a coluna
Artes e Artistas no mesmo jornal. Durante o ano de 1980,
coordenou a Revista Artes Plásticas, publicada pela
Pool Editorial. Livros:
- Narciso e Prometeu
(poesia). Recife: Imprensa Universitária,
1969.
-
Versos
escolhidos (traduções). Recife.
Edições Pirata, 1982.
-
Catálogo
pernambucano de arte (apresentação de Paulo
Azevedo Chaves). Recife: Grupo X, 1987.
-
Nu
cotidiano. Recife: Grupo X, 1988.
-
Nus (org.).
Recife,
Comunicarte, 1991
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