Desculpa Oh Alberto
Caeiro
sou tua discípula
pobre e amorfa
-Tatuaram em meu
cérebro o mistério de Cristo-
Olho para a flor
como um jardineiro
que só repara na
espessura e cor da terra,
na humidade do ar,
na linha do vento
esperar que a flor
abra para todos nós
-Ser jardineiro é
apenas meu sustento.
Desculpa Oh Alberto
Caeiro
tanto te amo sem
poder seguir-te
buscar-te na Grécia
a frescura da nudez
numa filosofia de
máscara teatral
sou um poeta cego
que oiço teus passos
persigo-te de
bengala branca cuidando
que teu paganismo é
ardil de Deus
- Pensar é o
contrário de estar feliz -
Desculpa Oh Alberto
Caeiro
esta cegueira de
amar-te sem futuro
és o amor em
fotografia sem moldura
um dia, quando em
mim morreres
saltarei todas as
sebes até ao muro
serei o que perdeu o
traje de fantasia
amar-te-ei com um
destino sinérgico
prá lá da nostalgia
de haver ou não deuses.
Desculpa Oh Alberto
Caeiro
mas não te enganas
quando dizes:
“Que nada é o
fim, que nada é o abismo, que nada é mistério
e que tudo é
Deus, e que tudo é Ser, e que tudo é vida.”
Só na Unidade do
Universo é possível repouso
com os sentimentos
arrumados no estaleiro
a vida corre
inexoravelmente para o mar
barco de pensamentos
viajando num veleiro.
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