REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 28 | junho | 2012

 
 

 

 

 

CASTRO GUEDES

Hoje peço licença para falar de livros, sem eles e o Fernando Fernandes* não teria feito teatro… 

 

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
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Dir. Maria Estela Guedes  
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1.      Há muitos anos vi um filme que me marcou definitivamente: “Fahrenheit 451”, realização de François Truffaut, a partir de um romance de Ray Bradbury. Assim chamado porque é a essa temperatura que o papel arde. E a história era uma metáfora terrível: um sistema social muito “bonzinho” e muito preocupado em garantir a felicidade das pessoas num hedonismo total, sem dor e sem inquietações, tinha os corpos de bombeiros encarregados de destruir todos os livros que encontrassem para as pessoas não se sentirem angustiadas e inquietas a ler coisas que pudessem incomodar. Ao evocar essa memória percebi a lógica e a “bondade” das programações das televisões.

2.      Na Feira do Livro em Lisboa, no dia 25 de Abril, o escritor Francisco José Viegas lá esteve numa das tradicionais cerimónias de escritores a darem autógrafos. É legítimo e fica-lhe bem, ao menos aparecer em público, se público teve. Quando não ninguém se lembraria sequer que há uma Secretaria de Estado da Cultura: é que fora as medidas de cortes nos apoios e orçamentos e aumentos nos impostos dos bens culturais, nada faz, nada diz e nem responde a pedidos de audiências, sequer as que explicitam que não é para pedir verbas!

3.      Numa fábrica abandonada na Fontinha, no Porto, numa intervenção da PSP, vi, pelas televisões e no youtube, livros a voarem, lembrando-me Berlim em 1936. Mas não vi essa mesma diligente PSP noutras dezenas de fábricas abandonadas onde se passa e se consome diariamente droga. Provavelmente porque uma comunidade que faz A Es.Col.A é mais perigosa do que a que consome heroína.

4.      Espantado pelo número de títulos a saírem constantemente, fiquei a saber há tempos por um livreiro que a coisa é mais ou menos parecida com a emissão de produtos tóxicos financeiros: para dilatar o pagamento das encomendas, por asfixia financeira, os distribuidores impõem a rotatividade dos novos títulos. Esta semana já houve sinal do primeiro crash: da Atena. Espera-se uma injecção de capital nas distribuidoras e o fecho das livrarias, certamente.

5.      Em contrapartida, por mais do que uma vez, dei-me de caras com diferentes livreiros ou recepcionistas de livrarias a dizerem-me que a edição tal ou tal de um título mais “clássico” está esgotada há anos, que muita gente já lá foi à procura, mas não é reeditada. E reparo que a INCM, desde que se reformou Braz Teixeira, suspendeu esse tipo de reedições. Imagino que passe a publicar as obras completas de Corin Tellado. 

6.      Não sei se ainda existe Plano Nacional de Leitura ou não, nem tão pouco a Rede Nacional de Bibliotecas Escolares. Alguém me pode dizer, por favor? É só uma curiosidade.

7.      Mas fico muito contente que a banca continue a ser o garante da existência de livros… de cheques! É o seu contributo cultural para os milhares de milhões que recebeu do erário público, mesmo que com empréstimos ruinosos e à custa da perda da soberania nacional. Guerra Junqueiro foi muito injusto quando disse que “ninguém diz a Pátria do Banqueiro Burnay… mas sim a Pátria de Camões”!

 

*O extraordinário livreiro da “Leitura” no Porto, no tempo em que havia mesmo Leitura, apesar de e contra a censura…

 

Castro Guedes, encenador

castroguedes9@gmail.com

 

“as artes entre as letras”

16/05/2012

 

 

 

 


(Jorge) Castro Guedes (Portugal)
encenador, natural do porto, nascido em 1954. fundador e director artístico do tear (1977/1989), estagiou com jorge lavelli no théâtre national de la coline (paris) na temporada 88/89, autor e apresentador do magazine teatral "dramazine" na rtp2, onde foi consultor de teatro (90/93). encenador convidado no teatro nacional dona maria II, serviço acart/gulbenkian, casa da comédia, teatro aberto/novo grupo, teatro villaret/morais e castro, teatro villaret/raul solnado, cendrev, filandorra, teatro universitário do porto, cenateca, plebeus avintenses. director artístico do cdv - centro dramático de viana, companhia profissional residente no teatro municipal sá de miranda (viana do castelo). professor convidado da escola superior de teatro e cinema (lisboa), escola superior de música e artes do espectáculo (porto), escola superior artística do porto, academia contemporânea do espectáculo (porto), convenção teatral europeia (lisboa), escola superior de hotelaria e turismo do estoril. autor de "à esquerda do teu sorriso", peça em um acto, editora campo das letras; e de outras à espera de publicação. acidentalmente copywritter na mccann/erikcson (90/92).

 

 

© Maria Estela Guedes
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