Sinfonia Imaginária
Ela põe um beijo fálico
Nas minhas têmporas de outrora.
Traz qualquer coisa de vertigem
Na epiderme do descontentamento cardíaco
Vejo esse vagido na madrugada :
é um demônio verde a levantar meu vestido.
Emudeçamos todo desassossego
Com amores dadaístas
Encharcados de
absinto
Pairamos sob o mundo
inimigo,
em metamorfose de gozo e
xamanismo.
Está escrito no livro primeiro do Uivo que iluminou Buda:
minha vênus profética vulvando em teu falo que confabula
O inventário do tempo
Foi comungar no Cabaré Místico
É teu verso?
Delira-mo
Sem paletó de poeta pixote
derrama teu inaudito vinho de menino lírico.
Azulei para um verde em dó maior
Encontre-me aquém do verbo
Os ciganos esconderam a Loucura
no porta-seios da Musa
O pingente de gelo da Poetisa
Incendeia o céu de querubins
Sob o dossel do Silêncio
vejo-o enfim átomo
Infindo unido ao balé de meu delta
Os olhos do Sonho solfejam o delírio:
uma sinfonia imaginária para o amante metafísico.
Estudo para um Delírio (Mozarteando)
Ás cinco horas de uma tarde nua e aprazível
Nas veredas do ponto de cem réis
Cá estou a bebericar de meu café cortês
A garçonete me aparece em andrajos de sereia
Sibila-me o verso ó peixe onírico!
Nobre gota de céu marejou meu olho infante:
É Mozart no passeio público
Interrompe seu tropel místico
E vem ter comigo
Ai de mim que não sou poeta!
Acendeu minha cigarrilha
E me trouxe um Blues muito lascivo.
Ascensão
A Noite encheu todo meu cálice
Com o bálsamo escuro das papoulas
Uma fragrância intoxicante
Passeia pelos jardins da luxúria
A Lua perfura meus olhos com nove espinhos
E veste-se com as anáguas da Aurora
Pequena gota de orvalho escarlate
Flor que se despedaça em verso
No instante efêmero
Entre a madrugada e o alvorecer
Fagulha que ferve o maior dos lagos.
Sylvia Queima
Vênus da alcova, Sílfide messalina
Viciada em adesivos de nicotina
Insone & neurastênica, dopada e deprimida
Permita-me lamber sua iconoclastia
Mariposa de danças noturnas
Fênix feérica, Noiva da Morte
Godiva
Camélia rubra,
jorrando seu perfume que asfixia.
Me põe nos lábios o vinho
docemente nínfico
Teus versos são belos crimes
Sinfonia de gozos e guizos
Teu punhal de palavras
Fogo que dança pelo meu corpo
Meu Desassossego
Ah como eu saberia!
Oscular os seios da Noite,
e às tranças da Musa aninhar-me
Ou do cálice dum fauno célebre
por entre sonhos sorver
Mas nunca do amor
o fardo hei de dissipar.
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