Subversivo é o verso que somente se toca com a língua
de fogo da poesia. Esvai se a razão espreita. Paira escondido de seu
próprio mistério. Em formas voláteis que vêm e vão disfarçadas
na
farsa que zomba do entendimento
Nas sombras que o verbo
não captura
capitula o idioma
mas goza sabe-se lá em que
sobressalto do espírito
que se regozija quando me ausento
e desvelas formas em mim que
desconheço
Vê-se logo que lá onde cala a
crítica surge a criação
È letra em brasa que esvaece no
olhar de quem fulgura e nasce num espaço imaginário que ela própria
inaugura? Quais sejam as curvas em que me assalta, nunca estava lá....
se inteiro só me espreito no estilhaço de seus espelhos... Poesia do
extravio que inflama na sombra da chama. Que se ergue na queda e
controla apenas a deriva do náufrago em cujo olhar a tormenta representa
seus avessos.
É nos olhos do outro que
fulminam nossas múltiplas formas. O reverso de nosso próprio olhar se
disfarçando para nos mirar, talvez de seu lugar mais propício ao
precipício. Ora, se a pena apalpa o vazio que sobra senão sombras,
vãos, extravios? Extravio que extravasa... vaza... vaga vadio.
Adornaste de dor as alamedas
lúgubres de minha memória
Imagens se desfalecem na
labareda lúbrica de meus poros
evaporam quedas
acalantam desastres
no ágil beiral de abismos
É o próprio mundo que se inicia.
O “real” perde sua substância de certeza e balbucia, trêmulo, espectros
enfastiados; e o verbo, com seu líquido fugidio de imagens que ganha
concretude e nos invade com sua torrente de sobressaltos. O sólido chão
que se abre e o abismo que nos engole. Poética do desastre. Seu elemento
é mesmo a chama, cujos movimentos podemos apalpar com os olhos somente
na medida em que os perdemos. Ainda sim permanecemos atônitos no
serpentear de suas flâmulas. Quando o fogo devora nossas cartas - se
alimenta de nossos disfarces e máscaras com as quais trafegamos trôpegos
nas paragens da biografia - aí somos nós próprios a arder,
desvanecer... Sombra da chama. Desatino do desastre.
Aí uma poética da queda em que
se despenca no ar ou se aprende a voar. |