REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | Número 27 | Maio | 2012

 
 

 

 

 

RICARDO MENDES MATTOS

Floriano Martins:

na sombra da chama

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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Subversivo é o verso que somente se toca com a língua de fogo da poesia. Esvai se a razão espreita. Paira escondido de seu próprio mistério. Em formas voláteis que vêm e vão disfarçadas

                         na farsa que zomba do entendimento

                                                 Nas sombras que o verbo não captura

                                                                                                              capitula o idioma

mas goza sabe-se lá em que sobressalto do espírito

                                                                                  que se regozija quando me ausento

e desvelas formas em mim que desconheço

 

Vê-se logo que lá onde cala a crítica surge a criação

 

È letra em brasa que esvaece no olhar de quem fulgura e nasce num espaço imaginário que ela própria inaugura? Quais sejam as curvas em que me assalta, nunca estava lá.... se inteiro só me espreito no estilhaço de seus espelhos... Poesia do extravio que inflama na sombra da chama. Que se ergue na queda e controla apenas a deriva do náufrago em cujo olhar a tormenta representa seus avessos. 

É nos olhos do outro que fulminam nossas múltiplas formas. O reverso de nosso próprio olhar se disfarçando para nos mirar, talvez de seu lugar mais propício ao precipício.  Ora, se a pena apalpa o vazio que sobra senão sombras, vãos, extravios? Extravio que extravasa... vaza... vaga vadio. 

Adornaste de dor as alamedas lúgubres de minha memória

Imagens se desfalecem na labareda lúbrica de meus poros

                                                                                            evaporam quedas

                                                                                            acalantam desastres

                                                                                                  no ágil beiral de abismos

É o próprio mundo que se inicia. O “real” perde sua substância de certeza e balbucia, trêmulo, espectros enfastiados; e o verbo, com seu líquido fugidio de imagens que ganha concretude e nos invade com sua torrente de sobressaltos. O sólido chão que se abre e o abismo que nos engole. Poética do desastre. Seu elemento é mesmo a chama, cujos movimentos podemos apalpar com os olhos somente na medida em que os perdemos. Ainda sim permanecemos atônitos no serpentear de suas flâmulas. Quando o fogo devora nossas cartas - se alimenta de nossos disfarces e máscaras com as quais trafegamos trôpegos nas paragens da biografia - aí somos nós próprios a arder, desvanecer...   Sombra da chama. Desatino do desastre.

Aí uma poética da queda em que se despenca no ar ou se aprende a voar. 

   
 

 

Ricardo Mendes Mattos é autor de Acaso Subversivo (2012) – disponível em acaso-subversivo.blogspot.com – Desenvolve seu doutoramento sobre a criação poética em Roberto Piva, na Psicologia da Arte/USP. Contato: acasosubversivo@gmail.com

 

 

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