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Gostaria de abordar neste artigo um fenômeno bastante
evidenciado, sobretudo pela mídia cinematográfica, e que sempre
aparece associado, para muitos, à participação de entidades
desencarnadas, especificamente, demônios.
É, de fato, um fenômeno de caráter dramático e nas palavras de
Rogo [1],"um mistério psíquico de primeiro grau".
Conhecido como poltergeist não é um fenômeno único,
portanto deve ser tratado como um conjunto de fenômenos que
precisa ser observado no seu todo sem, contudo, desprezar suas
particularidades.
Entendido, em linhas gerais, como um fenômeno associado a uma
inabilidade mental em lidar com a tensão, o fato mórbido
gerador, contudo, nada tem de
parapsicológico. Os fenômenos de levitação, hierognose,
telecinesia etc., quase sempre presentes nesses casos, estes
sim, são de interesse da Parapsicologia. Não confundamos, então,
distúrbios de natureza psiquiátrica com fenômenos de ordem
parapsicológica.
Nos orientaremos em Rogo [2] para a explanação da ocorrência a
seguir: o primeiro caso estudado, em condições de controle, que
se tem registro, segundo esse autor, ocorreu
na Romênia. É um caso de grande frequência em livros que tratam
de Parapsicologia e resume-se no seguinte:
Uma adolescente chamada Eleonore Zugun foi o epicentro dos
objetos voadores e janelas quebradas. Como é comum nestes casos,
a família atribuiu, de imediato, os distúrbios aos demônios. Em
virtude dessa crença, um padre foi chamado ao local para
pressenciar a ocorrência e exorcizar todo o mal. Contudo, apesar
de toda fé, a intervenção do pároco local foi completamente
inútil. Além de manter-se indiferente ao esconjuro, o demônio,
ainda, reagiu à intervenção.
"De fato, quando um santo padroeiro local
era invocado no lar Zugun pelo povo da vila na tentativa de
anular o poltergeist, uma pedra voava
misteriosamente pela sala e ia arrebentar o retrato do santo
pendurado na parede." [3] [telecinesia]
Qual a alternativa? Mandar Eleonore, que se apresentava como
centro dos eventos, à casa de amigos em sua cidade natal de
Tulpa.
Os habitantes do local, como é comum nesses casos, ficaram
extremamente confusos em relação aos acontecimentos. Os pais da
menina, sem informação sobre as causas motivadoras das
ocorrências, bateram na menina e internaram-na num manicômio até
que o demônio se acalmasse.
Finalmente, decidiram mandar a pobre possessa a um convento, o
que se caracterizou como um erro craso. O "demônio" a seguiu até
lá.
Após vários e intermináveis dissabores e tentativas de resgate
de Eleonora, entra em cena o conhecido pesquisador Harry Price,
para testemunhar pessoalmente o fenômeno, ainda em atividade.
Assim ele relata a observação:
"Na minha opinião, Eleonore era uma menina inteligente, viva,
bem desenvolvida, com uma ótima disposição; tinha quase treze
anos de idade. Sentei-me no sofá ao lado da condessa [Zoë
Wassiliko-Serecki, interessada em pesquisas psíquicas] e
observei a garota brincar com um objeto que a fascinava: uma
espingarda de pressão que projetava uma bola de pingue-pongue de
celuloide, captada por uma espécie de rede cônica de arame presa
ao objeto. De repente, enquanto observávamos o brinquedo, a bola
se desfez em pedaços, que caíram aos nossos pés. A menina
pegou-os correndo, entregando-os à condessa e pedindo-lhe que os
colasse. Levantamo-nos do sofá, e enquanto eu observava minha
anfitriã examinando o objeto quebrado, um estilete de cabo,
usado para abrir cartas, com cerca de 25 centímetros de
comprimento, foi arremessado através da sala vindo de trás de
mim e caindo ao bater na porta fechada. Imediatamente eu me
virei para fazer uma rápida investigação; mas não vi nada, nem
ninguém, que pudesse ter atirado o estilete, normalmente
guardado na escrivaninha [aporte/telecinesia] por trás de nós,
encostada na parede mais distante do local em que nos
encontrávamos."[4]
Contudo, esses não foram os únicos acontecimentos presenciados
por Price, ao longo de suas observações.
" (...) Um grande cachorro preto de pelúcia que Eleonore
costumava ninar, arremessou-se do canto de estudos do quarto por
cima da divisória e caiu sobre o balde de carvão junto à
cama.Não havia ninguém a menos de três metros do cão, e
Eleonore, no momento do voo, estava empurrando uma mesa contra a
parede usando ambas as mãos. Então eu vi a almofada de uma das
cadeiras começar a mover-se; à medida que eu observava, ela ia
deslizando lentamente pela cadeira abaixo até cair no chão. Não
havia ninguém perto dela... [5] [telecinesia] Esses fatos
levaram Price a convidar Eleonore e a condessa a irem ao seu
laboratório National Laboratory of Psychical Research,
em Londres, para realizar uma análise mais acurada sobre as
estranhas ocorrências.
Nos primeiros dias, alguns objetos, presenciados por algumas
testemunhas, caíram do teto e atingiram Eleonore, [aporte?] que
atribuía tal ocorrência a Dracu um demônio a quem
ela culpava pelos tormentos.
Esses incidentes, entre outros tantos, foram observados por
Price. Contudo, sua atenção seria desviada para acontecimentos
particulares, mais bizarros, que começaram a se manifestar no
corpo de Eleonore. Arranhões e mordidas com marcas de dentes
[dermografia] subiam pelos braços de Eleonore que reagia com
gritos.
O surgimento dessas mordidas foi filmado por Price e seus
colaboradores.[6]
Observemos
alguns detalhes desse filme:
Nele a menina Eleonore aparece sentada diante de uma pequena
mesa, enquanto os pesquisadores aparecem de pé ao seu redor.
Sobre a mesa há um desenho de Dracu. Um dos homens
dá um martelo a Eleonore e pede-lhe que bata no retrato. (Ela
acredita que Dracu a morderá se ela ofendê-lo).
Depois de algumas marteladas, uma aproximação da câmara mostra
vergões horríveis surgindo de seu corpo.
Aqui cabe um aparte.
Acredita-se ser o único e mesmo mecanismo psicológico que faz
com que aqueles que se acreditam perseguidos por feiticeiros,
sejam muitas vezes vitimados. Nada há no desenho apresentado
para Eleonore que exerça um poder sobre ela. Da mesma maneira,
nada há no feitiço, por exemplo, materializado em algumas velas
amarradas, que possa prejudicar outrem. O fato resume-se na
crença que atribui, seja a Dracu no caso de
Eleonora, seja ao feitiço, materializado sob as mais variadas
maneiras, um poder, destaque-se,
injustificável pela razão. A partir disso, a autosugestão entra
em cena.
O contrário disso seriam os talismãs protetores.
Voltemos ao caso:
Como se não bastassem as telecinesias e os aportes, às vezes,
quando Eleonore gritava, eram encontrados alfinetes e agulhas,
misteriosamente introduzidos em seu corpo.[aportes?]
Vários psicólogos interessaram-se pelo caso, em virtude da
atenção dedicada por Price ao caso.
Uma interessante descoberta, então, foi feita pelos
pesquisadores. Os aldeãos romenos, da mesma forma que outros
povos ameaçam suas crianças, no Brasil, por exemplo, com o
bicho-papão, ameaçavam suas crianças dizendo que Dracu
viria buscá-las caso fossem malcriadas e, ainda, associavam
Dracu a mordidas e arranhões. Isso conduziu, num
primeiro momento, associarem-se tais ocorrências às fantasiosas
histórias que faziam parte de sua infância. Muitas outras
ocorrências, associadas à fenomenologia, ainda fizeram parte
desse poltergeist. Dispensável narrá-las todas
aqui.
Todavia, é importante destacarmos, com a chegada da idade
madura, com a primeira menstruação de Eleonore, os ataques
chegaram ao final.
Essa coincidência entre o término dos ataques e a maturidade
sexual, apesar de ser observada em vários casos semelhantes, não
se explica facilmente. Contudo, algumas relações estabelecidas
entre o prenúncio da adolescência, consideradas todas as tensões
e dificuldades psicológicas que a acompanham, sugere um dos
possíveis fatores associados à manifestação do
poltergeist.
Os estudos parapsicológicos, contudo, voltados para uma grande
fenomenologia presentes nos casos de poltergeist,
deixaram de atrair pesquisadores quando, por
volta de 1930, as pesquisas parapsicológicas, pelas mãos de
Rhine, voltaram-se, prioritariamente, para investigações
controladas em laboratório. Mas, apesar de Rhine ter conduzido
as pesquisas para dentro dos laboratórios e, consequentemente,
para dentro da academia, foram suas experiências com dados, que
se verificou, sistematicamente, através de testes controlados e
com auxílio de uma rigorosa metodologia, que alguns sujeitos
poderiam influenciar a queda de dados fazendo-os caírem em
determinada posições específicas, por um ato volitivo. Sob as
novas condições investigativas, então, um passo importante foi
dado.Isso evidenciava que a mente poderia influenciar a matéria
física.
Essa evidência trouxe uma brisa de credibilidade que conduziu os
estudiosos dos fenômenos parapsicológicos a buscarem provas da
real existência dos fenômenos que envolvem o
poltergeist.
Seu caráter fugidio certamente dificulta as investigações. Mas,
isso não significa dizer que a dificuldade de se encontrar
diamantes seja suficiente para negar-lhes a existência.
Vejamos um caso relatado por Jacobson[7]:
"Em novembro de 1967, os jornais bávaros relataram ocorrências
no escritório de advocacia Adams, na cidade de Rosenheim. A
iluminação de neon costumava apagar-se; os eletricistas
descobriram que algumas lâmpadas tinham sido afrouxadas dos
soquetes. Ouviam-se batidas fortes; os quatro telefones do
escritório tocavam simultaneamente; as conversas eram
interrompidas; as contas de telefone cresciam, embora ninguém os
utilizasse mais do que o usual. Desconfiou-se de más ligações. A
companhia de eletricidade instalou um amperímetro no escritório
para testar as variações de corrente. Os instrumentos de medida
registraram descargas inexplicáveis (com uma agulha sobre o
papel), bem como outros fenômenos.
A 20 de novembro, às sete e trinta, um lustre caiu do alto do
escritório do chefe e espatifou-se no chão, com um barulho
tremendo.
Os tubos fluorescentes foram substituídos por lâmpadas comuns,
por causa do perido da queda desses tubos. Mas as lâmpadas
explodiam de modo inexplicável. No teto, elas balançavam sem que
isso pudesse ter qualquer relação com movimentos no andar
superior. A Companhia Municipal de
Eletricidade não achou nada de errado com o fornecimento, mas, a
pedido do advogado, o escritório recebeu um gerador para
garantir um serviço "sem perturbações".
Tais ocorrências, nas palavras de Jacobson, acabaram por serem
conhecidas por toda a Alemanha, inclusive foi deslocada uma
equipe de televisão especialmente para que fosse gravada uma
matéria sobre os acontecimentos.
Em primeiro de dezembro de 1967, o prof. Hans Bender, do
Instituto de Parapsicologia de Friburgo, foi a Rosenhaim dar
início às investigações.
Não foi difícil constatar que os fatos só ocorriam durante o
expediente e indicavam ter relação com uma das funcionárias,
Annemarie, de dezenove anos.
Bastava que Annemarie entrasse no escritório para que as
lâmpadas começassem a balançar atrás dela sendo que, algumas
chegavam a explodir, e os fragmentos, voavam em sua direção.
Ante todos os fatos, dois físicos do Instituto Max Planck, de
Munique, foram deslocados para as investigações. Os doutores J.
Karger e G. Zicha, controlaram as principais alterações de
voltagem, as cargas eletrostáticas, a estática externa, os
campos magnéticos, os contatos soltos, os efeitos de vibrações
ultra e infra-sônicas, e por último, as possíveis intervenções
manuais e fraudes e chegaram a conclusão que era impossível
descobrir qualquer explicação concreta. Desconectaram
o aparelho de monitoramento do circuito elétrico e
substituíram-no por uma bateria de 1,5 volt, mas a deflexão
continuou. Alguma influência mecânica desconhecida, sem causa
aparente, agira sobre os ponteiros dos instrumentos.
Entre os dias 5 e 17 de janeiro de 1968, o fenômeno chegou ao
auge. Diante dos olhos de um dos físicos, um arquivo de cento e
setenta e cinco quilos moveu-se cerca de trinta centímetros da
parede. Os quadros, pela primeira vez, rodavam trezentos e
sessenta graus nos ganchos em que estavam fixados. Toda essa
estranha movimentação, contudo, cessou quando Annemarie deixou o
emprego para trabalhar com outro advogado.
A partir disso tudo voltou à normalidade no escritório.
Constatou-se também que, após a saída de Annemarie, houve
algumas poucas ocorrências em sua casa e no novo emprego, que
logo desapareceram.
Esse caráter fugidio e temporário mostra bem a dificuldade que
se impõe a investigações desse tipo. Some-se a isso, como tem
sido observado por muitos investigadores, o fenômeno tem uma
tendência a rarefazer-se na presença do controlador e, em muitos
casos, as ocorrências tendem a diminuir e, até mesmo cessar,
quando a situação psicodinâmica, que cerca o agente, é mudada.
Esse jogo de esconde-esconde é típico desse fenômeno. A presença
de estranhos coloca um fim nas atividades que voltam logo após o
visitante deixar o local. Esse tipo de inibição também ocorre em
experimentações com PES - Percepção Extrassensorial. Não é
incomum o paciente perder temporariamente sua capacidade, quando
um novo experimentador é introduzido na área do experimento.
O quadro, em relação ao poltergeist, contudo,
parece apresentar-se dentro dos sintomas clássicos, quer dizer,
via de regra, tais eventos aparecem ligados a pessoas jovens,
relacionados a transformações psicofisiológicas ligadas à
maturação sexual, que traduzem a passagem progressiva da
infância à adolescência ou, em vários casos, de crise psíquica,
ou ainda, ambas as situações.
Outra problemática que envolve os fenômenos de
poltergeist está relacionada com as influências culturais,
que podem estar interferindo na sua manifestação.
"O professor Hans Bender, da Universidade de Freiburg, na
Alemanha, também vem investigando poltergeist há
muitos anos. Assim como Roll, ele observou muitos
poltergeist típicos de adolescentes, mas foi capaz de
testemunhar alguns dos seus aspectos e manifestações mais
misteriosos. Seu trabalho revelou algumas das influências
culturais que podem afetar o poltergeist. Quando se
pensava que a causa era alguma espécie de bruxaria ou magia, os
agentes PK muitas vezes vomitavam alfinetes (uma antiga tradição
da feitiçaria) e eram vistos "familiares animais"; essas
ocorrências não foram registradas nos tempos modernos. Quando as
testemunhas pensam que os demônios eram os causadores dos
distúrbios, o poltergeist agia de acordo; mas essas
manifestações também não foram mais registradas, por muitas
décadas. O fato de Bender ter encontrado casos diferentes
daqueles encontrados por Roll nos Estados Unidos é, portanto,
bem previsível. Culturas diferentes podem dar origem a tipos
diferentes de poltergeist."[8]
Como norma condutora, quando tratado como possessão demoníaca,
logo em seguida, comporta-se como tal. Se tratado de forma
inteligente, reponde da mesma forma, por exemplo, através de
tiptologias e de acordo com o que as pessoas esperam ouvir.
Mas o que gera a força desprendida durante uma manifestação de
poltergeist?
Difícil responder. Contudo, algumas conjecturas, assim como
alguns fatos, poderão um dia estarem associados a uma resposta.
Por exemplo, foi constatado por Harry Price, ao longo de suas
experiências, no seu laboratório, com a sensitiva Stella C., que
durante as ocorrências de levitação, produzidas por Stella, a
temperatura do ambiente caía vários graus, fato constatado pelo
uso de termômetros, inclusive documentados fotograficamente por
Price. Contudo, tal queda de temperatura, já registrada por
observadores metapsíquicos, em relação aos fenômenos de
telecinesia, pode ter uma ligação íntima com a produção do
fenômeno, sugerindo que a força do poltergeist
talvez não seja, na sua totalidade, projetada do corpo do
agente, mas pela utilização e manipulação psíquica de fontes
energéticas do próprio ambiente.
Erm relação às condições psicológicas do agente propiciador, que
estariam diretamente envolvidas na produção do fenômeno, como
regra, associam-se a uma estrutura de personalidade muito
frágil; grande irritabilidade e impulsividade emocional,
acompanhada de pouco ou nenhuma habilidade para tolerar
frustrações. Em alguns casos, clara ansiedade, via de regra,
provocada pela necessidade de aceitação social e questões que
envolvem sexualidade. Em suma, o poltergeist
apresenta-se como uma verdadeira "válvula de escape".
Talvez seja interessante, num artigo como este, distinguirmos os
poltergeist das
assombrações. Os fenômenos são diferentes, embora as
assombrações, possam fazer parte de um poltergeist.
Uma assombração é independente e, no caso de uma casa de
aluguel, muitos inquilinos podem testemunhar o mesmo fenômeno.
Diferencia-se, ainda, que durante a infestação, dificilmente
presenciam-se fenômenos telecinéticos. Cede lugar a isso, as
aparições, passos, sons de correntes, gemidos etc.
No fenômeno de poltergeist as atividades são as
mais variadas. Embora exista um determinado padrão nos casos,
nenhum é exatamente igual ao outro. Dentre os fenômenos de maior
ocorrência num poltergeist, estão as pancadas e
estouros, as mais variadas formas de telecinesias, aportes e
teletransportes, pirogenia e, também, como já observamos, marcas
estigmatizadas na pele, mordidas etc. Desta forma, o que podemos
marcar como grande diferencial entre as casas assombradas e os
poltergeist é que, na primeira, as assombrações
infestam um local, na segunda, infestam uma pessoa.
Ambos os fenômenos, e outros tantos, que fazem parte do universo
estudado pela Parapsicologia, nos remetem a uma miríade de
perguntas a respeito do homem. Este artigo busca contribuir,
embora num sobrevoo a grande altitude, para o afastamento da
visão romântica sobre os "poderes ocultos" que tanto submetem o
homem à superstição (talvez até por um medo inato desconhecido).
Compreender os fenômenos paranormais, enquanto resultantes, não
de forças sobrenaturais, espíritos vingativos, demônios de todas
as especialidades etc., mas inseridos numa complexidade humana - e verdadeiramente humana - acreditamos seja um
possível caminho para evitarmos as veradeiras possessões -
aqueles que se dizem senhores do desconhecido. |