REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | Número 27 | Maio | 2012

 
 

 

 

 

WILLIAM CARLOS WILLIAMS

Até eu escrevia

Versões para português por

Francisco José Craveiro de Carvalho

 

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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O cavalheiro  amável

 

Sinto a carícia dos meus próprios dedos

no meu próprio pescoço ao ajeitar o colarinho    

e pensar com pena

nas mulheres  gentis que conheci.

 

 

Jovem mulher a uma janela 

 

Está sentada com

lágrimas na

sua  face

a face sobre

a mão

a criança

no colo

de nariz  

contra

o vidro 

 

 

Destruição total

 

Estava um frio de rachar.

Enterrámos o gato,

depois levámos a caixa

e queimámo-la

nas traseiras.

As pulgas que escaparam

à terra e ao fogo

morreram de frio.

  

 

Poeta proletário

 

Uma jovem forte  cabeça descoberta

e um  avental

 

Cabelo macio e esticado parada

na rua

  

Um pé com meia a tocar

no passeio  

  

O sapato na mão. Examinando-

-o atentamente   

  

Arranca a palmilha de papel

para descobrir o prego

  

Que tem estado a magoá-la

                          

 

A uma pobre velha

 

a mastigar ruidosamente uma ameixa na

rua um saco de papel

cheio delas na mão

  

Sabem-lhe bem

Sabem-lhe

bem. Sabem-

-lhe bem

 

Pode ver-se pela

maneira como se entrega

à metade

roída na mão

 

Regalada

o ar parecendo consolado

com ameixas maduras

Sabem-lhe bem

 

 

Árvores de Inverno

 

Todos os complicados detalhes    

de se adornarem e

despirem estão completos!

Uma lua líquida

move-se suavemente

entre os ramos longos.

Tendo preparado deste modo os seus rebentos

para um inverno certo

as sensatas árvores

dormem  ao frio de pé.   

   

 

A coisa

 

De cada vez que toca

penso que é para

mim mas não

é para mim nem para

 

ninguém toca

simplesmente e nós

obedecemos-lhe  todos

ressentidos, eles e eu

   

 

Os pobres

 

Ao arreliá-los constantemente

chamando a atenção para os piolhos no

cabelo dos filhos, o

Médico Escolar começou

por lhes despertar o ódio.

Mas com  a familiaridade

habituaram-se a ele, e assim,

por fim,

consideraram-no amigo e conselheiro.

 

 

Dia de eleições

 

Sol quente, ar calmo

um velho está sentado

 

à entrada  de

uma casa destruída -

 

cartões nas janelas

estuque a cair

 

de entre as pedras

e faz festas na cabeça

 

de um cão às manchas

 

 

Rouxinóis

 

Os meus sapatos ao inclinar-me

para os desapertar

destacam-se sobre  

flores de lã lisas   

sob os meus pés.

Ágeis as sombras

dos meus dedos brincam

a desapertar

sobre sapatos e flores.

 

 

Quinta-feira

 

Tive o meu sonho - como outros -  

e não deu em nada, de modo

que permaneço descuidadamente

com os pés firmes no solo

e olho para o céu -

sentindo a minha roupa,

o peso do corpo nos sapatos,

a orla do chapéu, o ar a entrar e a sair

do nariz - e resolvo não sonhar mais.

  

 

O termo

 

Uma folha amarrotada

de papel castanho

de comprimento

 

e  volume parecendo

os de um homem

volteando com o

 

vento lenta e

repetidamente na

rua  quando

 

um carro lhe passou

por cima e

a esmagou contra

 

 

o chão. Ao contrário

de um homem ergueu-se

de novo volteando

 

com o vento repetidamente

para ser como

era antes.

 

 

 

William Carlos Williams (September 17, 1883 – March 4, 1963) was an American poet closely associated with modernism and Imagism. He was also a pediatrician and general practitioner of medicine with a medical degree from the University of Pennsylvania School of Medicine. Williams "worked harder at being a writer than he did at being a physician" but excelled at both.
Biografia e foto na Wikipedia:
http://en.wikipedia.org/wiki/William_Carlos_Williams

 

 

 

Francisco José Craveiro de Carvalho  (Portugal)
Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra. Doutorou-se, mais tarde, com uma tese em Topologia e  Geometria, sob a supervisão de  Stewart Alexander Robertson, Southampton University, U. K.. Assume uma posição de alguma marginalidade em relação à divulgação daquilo que escreve. Traduziu poemas de Carl Sandburg, Jane Hirshfield, Jennifer Clement, Linda Pastan, Rita Dove..., publicados em opúsculos discretos, que circularam entre  os seus amigos.

 

 

© Maria Estela Guedes
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