O cavalheiro amável
Sinto a carícia dos meus próprios dedos
no meu próprio pescoço ao ajeitar o colarinho
e pensar com pena
nas mulheres gentis que conheci.
Jovem mulher a uma janela
Está sentada com
lágrimas na
sua face
a face sobre
a mão
a criança
no colo
de nariz
contra
o vidro
Destruição total
Estava um frio de rachar.
Enterrámos o gato,
depois levámos a caixa
e queimámo-la
nas traseiras.
As pulgas que escaparam
à terra e ao fogo
morreram de frio.
Poeta proletário
Uma jovem forte cabeça descoberta
e um avental
Cabelo macio e esticado parada
na rua
Um pé com meia a tocar
no passeio
O sapato na mão. Examinando-
-o atentamente
Arranca a palmilha de papel
para descobrir o prego
Que tem estado a magoá-la
A uma pobre velha
a mastigar ruidosamente uma ameixa na
rua um saco de papel
cheio delas na mão
Sabem-lhe bem
Sabem-lhe
bem. Sabem-
-lhe bem
Pode ver-se pela
maneira como se entrega
à metade
roída na mão
Regalada
o ar parecendo consolado
com ameixas maduras
Sabem-lhe bem
Árvores de Inverno
Todos os complicados detalhes
de se adornarem e
despirem estão completos!
Uma lua líquida
move-se suavemente
entre os ramos longos.
Tendo preparado deste modo os seus rebentos
para um inverno certo
as sensatas árvores
dormem ao frio de pé.
A coisa
De cada vez que toca
penso que é para
mim mas não
é para mim nem para
ninguém toca
simplesmente e nós
obedecemos-lhe todos
ressentidos, eles e eu
Os pobres
Ao arreliá-los constantemente
chamando a atenção para os piolhos no
cabelo dos filhos, o
Médico Escolar começou
por lhes despertar o ódio.
Mas com a familiaridade
habituaram-se a ele, e assim,
por fim,
consideraram-no amigo e conselheiro.
Dia de eleições
Sol quente, ar calmo
um velho está sentado
à entrada de
uma casa destruída -
cartões nas janelas
estuque a cair
de entre as pedras
e faz festas na cabeça
de um cão às manchas
Rouxinóis
Os meus sapatos ao inclinar-me
para os desapertar
destacam-se sobre
flores de lã lisas
sob os meus pés.
Ágeis as sombras
dos meus dedos brincam
a desapertar
sobre sapatos e flores.
Quinta-feira
Tive o meu sonho - como outros -
e não deu em nada, de modo
que permaneço descuidadamente
com os pés firmes no solo
e olho para o céu -
sentindo a minha roupa,
o peso do corpo nos sapatos,
a orla do chapéu, o ar a entrar e a sair
do nariz - e resolvo não sonhar mais.
O termo
Uma folha amarrotada
de papel castanho
de comprimento
e volume parecendo
os de um homem
volteando com o
vento lenta e
repetidamente na
rua quando
um carro lhe passou
por cima e
a esmagou contra
o chão. Ao contrário
de um homem ergueu-se
de novo volteando
com o vento repetidamente
para ser como
era antes. |