REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número 21

 

 

 

TEIXEIRA MOITA

Dois poemas

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
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  O PATÉTICO RELATIVO

Desde as tuas mãos estaladiças que me estalaram no rosto
até aos teus pés que te tornam pedante
quando te colocas em bicos de pés,
fica esse parêntesis cheio de ossos: corpo
- no qual trepei para o teu peito e mergulhei dentro –
entre isso e nisso sufoco.

Desperdicei o meu sangue nas perdas intratáveis.
Já confundo a chuva nas vidraças com aplausos
e o bater das portadas ao vento com visitas…
Já não há ninguém nesta lareira apagada
- e isso queima de frio –

Sei quando é sol e quando é lua
através das frinchas dos meus olhos inchados
e tremem-me as mãos ao ponto de sonhar
tremidas as tuas mãos trémulas procurando-me
com temor de que a minha garganta te pronuncie.

Talvez não saibas
- aqui a surpresa de mim –
que
a única forma que terias de me magoar
era não existires
então, faço-me dançar
sem a música de neve do teu sorriso, certo
aliás: sem outra música qualquer
aliás: sem outra outra qualquer
Danço só no sfvsssss do quase silêncio
das brisas nas casas escuras.
Patético
mais do que um homem-estátua
de bexiga cheia.
 
 

 

 
  EU?!


Uma coisa são os vivos;
outra sou eu:
película sensível rompida
eco da queda do frágil
limalha desbastada da existência
Se me chamam, passo ao largo
será para mim mas não deve
que eu nunca estou nem sou
Se alguma coisa tivesse com que ser parecido,
seria um homem cuja alma
esfarelaram como pão
para os pombos da praça
Talvez tenham razão em o ter feito
— esfarelar-me a alma —
Então?... sempre a querer ir-me embora,
agarrar-me a cada pássaro que descola
ou chorando cada gota de chuva...

Se alguém me ama, que me entenda e me prenda
senão um dia eu vou-me embora
pelo ralo mais impróprio da Morte.

 

 

 

Teixeira Moita (Portugal)
Na área de Literatura, foi premiado em Portugal, Alemanha e Espanha com textos para Teatro e Guionismo. O Teatro Independente de Loures tem levado à cena, em Lisboa e várias localidades do sul do país, peças de teatro do autor; bem como a companhia RaspuTeam (Teatro Universitário do Minho) o fez em Braga e outras localidades; e assim como a companhia Tulipa Teatro, de Lisboa. Escolas de Drama e teatros independentes dos Estados Unidos, Paquistão, Tailândia, Brasil e Jerusalém têm representado textos do autor. Publicou livros de Teatro e Contos. Criou e apresentou performances multidisciplinares apresentadas em Lisboa (SPA) e Porto. Encontra-se publicado em colectâneas de Teatro, Poesia e Prosa em Portugal, nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Inglaterra, Espanha e Índia. A Pintura também é uma das suas expressões, tendo já exposto colectiva e individualmente. Na Música participa em projectos de Música Contemporânea Improvisada.

www.teixeiramoita.tk

 

 

© Maria Estela Guedes
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PORTUGAL