Invejo sempre as pessoas
que constroem alguma coisa
útil, robusta -
uma cadeira, um par de botas.
Até fazer uma sopa,
com muita batata e natas.
Ou aqueles que arranjam, talvez,
uma janela por onde a chuva entra:
remover a massa de vidraceiro antiga,
colocar habilmente a nova.
Podias aprender,
diz-me o espelho, a altas horas,
mas sem convicção.
Uma sobrancelha reflectida estremece um pouco.
Olho para este
apartamento emprestado -
onde quer que alguma coisa me desperte a atenção,
o padrão do papel de parede condiz.
Ontem uma mulher
mostrou-me
um edifício com a forma
do casco de um barco virado,
o seu telhado reforça, sob o estuque,
batido com couro molhado,
o mármore das colunas
pintado a fingir madeira.
Embora possivelmente fosse ao contrário?
Olho para a minha mão sem jeito,
inocente,
igual às mãos dos outros.
Até a caneta que ela segura é um mistério, na verdade.
Couro, escreve ela,
e cadeira e mármore.
Sobrancelha.
Mais tarde a mulher perguntou-me -
reconheci-a então,
a minha irmã, eu própria jovem -
Um poema engrandece o mundo
ou apenas a nossa ideia do mundo?
Como se separa uma coisa da outra,
menti ou não,
em resposta. |