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Mas sim, é possível:
pensar e organizar o teatro português. O que é preciso é coragem,
desfazer tabus e ideias feitas de e por lóbis a que o Estado baixa a
cerviz. Para começar há que reconhecer e ver que vivemos numa
premeditada ofensiva à nossa produção teatral, cuja derradeira etapa
está hoje em marcha ao preparar-se a deslocação do eixo central dos
investimentos estatais da criação e produção para a programação da Rede
de Teatros e Cine-Teatros, dando preferência ao evento no lugar do
trabalho continuado de intervenção democratizante em direcção à
comunidade no seu todo e não a nichos de público, que podem encher uma
sala por uma noite, mas apenas por essa noite, sem criar hábitos de
fruição cidadã, nem alargamento de massa crítica na comunidade.
Mas mesmo do que resta
dessa produção continuada sem obediência à lógica do evento, por via da
cegueira dos próprios criadores, maioritariamente voltados
narcisicamente sobre si mesmos, a nossa produção teatral é uma
autêntica pirâmide invertida e, por essa razão, coisa completamente
desequilibrada, pronta a estatelar-se ao mais pequeno sopro de uma
tentação política neo-liberal. E com a indiferença ou mesmo aplauso
da parte maior da sociedade, estribada, compreensivelmente, no seu
completo divórcio dessa prática de “circuitos fechados” sobre si mesmos.
A começar pela nefasta confusão de os financiamentos serem tidos por
serem apoios à ”criação” e não à “produção”, por “direito reclamado do
criador” e não por “dever do Estado para com o fruidor” (..).
O normal deveria ser
como acontece mesmo em países de economia e níveis culturais
incomparavelmente mais sedimentados com os nossos. Na base,
maioritariamente existe um mercado de teatro de empresário em que os
espectáculos populares e acessíveis, de entretenimento puro, constituem
uma oferta ampla, capaz de começar por gerar o hábito do teatro. Em
Portugal, perante a fragilidade deste sector, em substituição dos
“angels” no West-End, julgo que seria compreensível e aceitável a
introdução de formas de apoio indirecto (isenções de taxas, empréstimos
bonificados, intervenções custeadas para melhoramento dos recintos,
reequipamento técnico em regime de comodato…), como, aliás, aconteceu em
Espanha logo após a abertura democrática pós-franquista. Criado o
hábito, no sentido do usufruto de bens verdadeiramente culturais
descodificáveis por uma plateia superior a elites e nichos de mercado,
os financiamentos à formação desses públicos, estrategicamente e em
verba a ele consignada, deveria seguir-se, na base de alargamento de
públicos, um teatro de reportório, com naturais gradações de exigência
artística e cultural, devidamente espalhada de forma tendencialmente
abrangente em termos geográficos, e conforme ao estádio desse; e por
último, de forma reduzida, a experimentação e/ou reportórios
alternativos. Assim, no quadro concreto, os tão queridos e tão
protegidos “projectos” alternativos são alternativos de quê e a quê ?
(…) A si mesmos?
Pior ou agravante, os
financiamentos ao teatro privado não lucrativo, padecem de sete pecados
mortais, que resumidamente se enumeram:
1º A inexistência de
uma Lei da República. (…). A atribuição (…) decorre ainda de um Despacho
ministerial na vez de uma Lei de Bases, preferentemente abrangente e
consensualizada entre as forças políticas parlamentares (…).
2º A
desresponsabilização nesta dos próprios Ministros: (…) remeter a
homologação para um Director-Geral (…) já é um alijamento de deveres;
maquilhá-la com pareceres de um Júri (…) é uma falácia.
3º (Só) há critério
de gosto e proximidade na base das decisões: até porque estes Júris são
emanações de círculos de proximidade de gosto (pessoal ou profissional).
Mas mesmo que a “parceria” fosse apenas estética e “pura” (o que não
é porque avaliam de forma esmagadoramente maioritário projectos de
companhias e grupos que nunca viram sequer!), o facto em si provoca
(como num Estado totalitário com cânones únicos) o afunilamento da
diversidade e pluralidade estéticas.
4º A ausência de
fiscalização e acompanhamento: os pressupostos da avaliação – além de
resultarem da “intuição” (...) de projectos apresentados e não na
observação das práticas anteriores (…) não são, a posteriori, medidos e
acompanhados. (…). Nem sequer são conferidas as folhas de bilheteira!.
5º
A insuficiência de verba e sua dispersão: sendo escassa a dotação para a
cultura ( ..) ainda pior se torna …(…)
quando se atomizam os apoios, dispersando verbas ao calhas. (…).A
cobardia e a satisfação clientelar não podem continuar.
6º
Os grandes centros (Lisboa sobretudo; e um pouco o Porto) (…) atraem um
maior número de grupos e artistas. Contrariar esta distorção (…), é que
seria boa prática, descriminando pela positiva as regiões mais
carenciadas (mas com massa crítica suficiente, claro) para evitar a
visão geocêntrica dominante e consequente concentração excessiva de
verbas nas metrópoles.
7º
O desordenamento de prioridades e a indiferenciação: não há, de todo, um
poder político que expressasse corajosamente as opções estratégicas
preferenciais e elencasse diferentes objectivos e medidores para essa
desejável garantia de diversidade. Misturar Lisboa com Bragança,
reportório com experimentação, estruturas históricas com projectos
emergentes, unidades de produção profissionais com formações
semi-profissionais…É uma bagunça que a todas e cada uma das partes (…)
prejudica.
O
teatro português deveria estar organizado em “gavetas” (feliz expressão
de um Ministro, mas que não chegou a ser posta em prática). Mas não.
Actualmente (…) em Portugal descobriu-se novo guia impositivo e
unidireccional: o da tendência hegemónica nas concepções de um modelo
despótico de “fatahs estéticas”. Não apenas nas correntes de opinião
(sempre as mesmas) que dominam a opinião publicada (…), fundações (…),
institutos (...), investidores e mesmo as escolas da profissão, os
gabinetes ministeriais e até na cabeça dos ministeriáveis: “Só há um
único Deus e ele é o seu profeta: o pós-modernismo”.
Portanto, ano após ano, com maior ou menor moderação, mais do que os
responsáveis da tutela, “levados” pelos verdadeiros “pais” desta
monstruosidade – e não raras vezes aparecendo a público como vítimas e
não algozes, porque insaciáveis – corrompem uma das mais basilares
regras da própria obrigação de um Estado democrático e factor de
enriquecimento da criação artística: a pluralidade estética. Este
totalitarismo de novo tipo, aliás replicando na cultura o da “Escola de
Chicago” na economia, em nome da não intervenção do Estado na
regulamentação e definição de regras muito concretas de avaliação dos
projectos em direcção a objectivos culturais determinados, permitem que
o mercado (neste caso constituído por uma minoria de “iluminados”),
distorcido porque acode aos “BPNs” da criação também, apague e anule a
fiscalização e se desenhe uma política teatral estratégica, enquanto
estes novos “vampiros” são no presente os tais “senhores à
força/mandadores sem lei” neste sector.
Aliás
o absurdo começa logo quando, também qual outra “pirâmide invertida”, é
o próprio Estado, por inércia ou por covardia política, o aceita e se
demite de criar ele as linhas estratégicas, definindo prioridades e as
tais “gavetas”, com um “caderno de encargos” submetido a concurso e
escrutínio, na vez de “avaliar” as propostas de projectos individuais: o
Estado, insiste-se na ideia, tem de ter uma política cultural e
abster-se de qualquer política de gosto, justamente no pino do que se
passa. Basta imaginar o aberrante que seria se na educação a tutela se
demitisse da definição básica dos conteúdos programáticos; e que
anarquia instaurada reinaria se, na vez da abertura de vagas para as
escolas, fossem directores de colégios ou professores a submeter à
escolha de um Júri a avaliação das matérias que pretendiam leccionar e
onde! E, ao mesmo tempo, essa avaliação resultasse, por exemplo, na
preferência, suponhamos na disciplina de História, dos que se propunham
falar do Maio de 68, ignorando a Revolução Francesa ou a Comuna de
Paris!
Admito sem rebuço, sem pretensões de “ter a pedra filosofal na barriga”
(isso é predicado justamente das actuais correntes dominantes), mas
também como inalienável o meu direito à opinião e à crítica aqui
fundamentada, que existam outras concepções e visões do “arrumo” do que
a casa precisa e que uma Lei de Bases seja previamente peneirado por um
contraditório aberto, frontal, polémico. Mas, infelizmente (como é fácil
perceber) os “vampiros” não vêm à luta e, por isso, fica aqui o meu
ponto de vista, mesmo sabendo que, pelo silêncio público e insídia em
bastidores, me acusarão – a mim e a todos que queiram organizar o caos
existente – de “totalitário”, tal e qual como o fizeram outros
totalitaristas em relação aos seus “dissidentes”, ou mesmo como fazem os
novos “totalitarismos” contemporâneos do ultra-neoliberalismo
especulativo financeiro: é a teoria do “capitalismo de catástrofe”,
denunciado por Naomi Klein, aqui aplicada em escala “Joueff” ao teatro
português.
Eu
tenho para mim, aliás lendo justamente o artigo 78º da Constituição da
República Portuguesa, que a organização do teatro português –
acautelando a experimentação como factor de investigação e
salvaguardando igualmente espaço para o aparecimento singular de
projectos emergentes e de novos criadores, mas com algumas balizas no
sentido de garantir a sua autenticidade – deveria assentar a prioridade
num teatro de reportório em direcção aos públicos.
Os
financiamentos, em última análise, vêm do bolso dos contribuintes e a
eles devem retornar sob a forma de serviço prestado. Os artistas, mesmo
quando trabalhando na base da pesquisa, apenas são os fiéis depositários
do tesouro público e não seus donos privados. É nesta base (…) que se
pode e deve exigir a intervenção do Estado para a viabilização da (…)
fruição cultural das populações e não no deleite onanista do
“criador”. Por isso também, da parte dos agentes artísticos
ficar pelas jeremíadas habituais numa atitude passiva sem ter em
conta uma outra pró-activa na demanda dos públicos não colhe. A
ideação romântica de que basta abrir as portas de uma sala e, com mais
ou com menos publicidade, esperar que o público acorra é um tremendo
disparate que, infelizmente, persiste no imaginário de muitos criadores
como sendo o supremo ideal do êxito! Mas não é. Nem é possível no
século XXI face à rentabilização de mega-investimentos propagandísticos
de “indústrias criativas”, nem porque a responsabilidade social do
artista hoje realiza-se, antes de tudo, na partilha da obra com os
outros. Trabalhar organizadamente os públicos como forma de garantir
menos cadeiras vazias na plateia não é senão um complemento do trabalho
de criação. De facto, independentemente de preferências estéticas ou
ideológicas sobre o teatro, é fácil compreender (...): o público, no
caso do teatro, é elemento essencial da sua consumação enquanto tal.
Muitos e muitos outros factores e componentes podem ou não ser
“utilizados”, mas três são indispensáveis para se falar de teatro (que
não jogos teatrais): o actor, o espectador, o acontecimento produzido do
primeiro para o segundo, mesmo que provocando a inter-acção na
volta. Mais: os índices de audiência deveriam mesmo ser um dos factores
de avaliação dos desempenhos das unidades de produção, salvo nos casos
de investigação e pesquisa.
Sem
pormenorizar porque este não é o lugar (fi-lo, isso sim, no livro “Do
Outro lado da Máscara – Ensaios Teatrais Politicamente Incorrectos”,
ainda em distribuição nas lojas do jornal “Público”, incluindo a
on-line, passe a publicidade), tentarei alinhavar em meia dúzia de
linhas o que me parece dever ser o “corpus” do teatro português, mesmo
que gradual e até que como assimptota apenas, relativamente à
intervenção da tutela da cultura, claro, mas também com a participação
orgânica das dos negócios estrangeiros, educação, ensino superior,
ciência:
1. Um
sector público estatal reconduzido a um ou dois Teatros Nacionais (pelo
histórico, naturalmente o Dona Maria II se apenas um; também o São João
se dois, podendo, então, repartirem entre si a súmula que se segue),
recompondo uma companhia residente, na vez da sala de acolhimento em que
se transformaram, e cumprindo uma missão de serviço público que
considere - num caderno de encargos público e publicamente publicado e
auditado por relatórios anuais, mediante designação ou por concurso
público de mandatos limitados da direcção e não uma “coutada” do criador
A, B ou C- o seguinte:
1.1.
Garantir a expressão da pluralidade estética.
1.2. Ter
como eixo central as obras do Património Cultural Imaterial da
Humanidade: sobretudo no domínio de textos “clássicos” nacionais e
estrangeiros, num conceito abrangente, incluindo as correntes modernas e
pós-modernas do século XX.
1.3.
Albergar espaço a uma “montra” do teatro contemporâneo, a partir de
critérios de tendências diferenciadas e dando prioridade aos autores
lusófonos e, dentre estes, aos de raiz ou radicação nacionais.
1.4. Ser
modelar na organização de redes de captação, fidelização e formação
crítica de públicos.
1.5.
Assumir o carácter nacional do ponto de vista geográfico: quer no
sentido da realização de digressões regulares pelo território nacional
(mormente através da Rede de Teatros e Cine-Teatros e, sempre que
possível, em articulação com os Centros Dramáticos Nacionais de Regiões,
de que a seguir se falará), quer na recepção destes no âmbito de mostras
conjuntas e/ou de residência e passagem de reportório.
1.6. Ter um
autêntico Serviço Educativo Permanente, que não apenas no âmbito do
universo escolar (ainda que naturalmente neste predominantemente), com
eventuais incursões comunitárias fora dos seus edifícios (diz-se
edifícios porque não é possível albergar um tão ambicioso projecto num
único) junto de sectores “excluídos”, de risco, carenciados e outros.
1.7.
Realizar regularmente (que não necessariamente anual) digressões com
rumo preferencial ao mundo lusófono e à diáspora portuguesa.
1.8. Ter
unidades próprias (quiçá em parcerias privadas) no âmbito do teatro para
a infância, do teatro para a juventude e da formação
técnico-profissional interna.
1.9.
Obrigar-se a uma quota de recepção de estagiários, anuais ou bianuais,
saídos das Escolas Superiores de Teatro.
1.10.
Aproveitar sinergias e actuar em rede com as demais unidades de
produção performativas do sector público (nomeadamente o São Carlos e a
Companhia Nacional de Bailado).
1.11.
Garantir uma quota significativa de política de bilheteira a
“preços sociais”, como “taxa moderadora”, para os sectores sociais de
menor poder de compra.
1.12.
Ter definido no caderno de encargos mínimos e metas desejáveis
de: produções, taxas de ocupação das salas, despesas e receitas.
A
este sector, deveria seguir-se, como prioridade sobre tudo o mais,
incluindo a completude das missões atribuídas aos Teatros Nacionais, uma
rede de Centros Dramáticos Nacionais de Regiões, em parcerias
público-privadas (por via de concurso aos lugares de direcção artística,
avaliados pelos seus financiadores estatais: administração central e
autarquias), tendencialmente abrangentes do todo continental (uma vez
que a Lei das Autonomias não permite incluir essas Regiões na tutela do
Governo da República), em função de 4 vectores fundamentais: o histórico
realizado com análise de resultados atingidos ou não, o edificado, a
existência real ou potencial de massa crítica, a intervenção autárquica
na parceria de custos e decisões.
Reproduzindo, em muito menor escala, no fundo, os Centros Dramáticos
Nacionais de Regiões, deveriam replicar o sentido das missões dos
Teatros Nacionais, adaptando, retirando ou substituindo-as em função das
realidades locais, diferenciadas entre elas (razão também indispensável
da intervenção do Poder Autárquico). Mas para lá destes Centros
Dramáticos Nacionais de Regiões, outros poderiam e deveriam existir com
vocação específica entre outras áreas e, cuja localização teria toda a
vantagem ser deslocada dos locais de residência do(s) Teatro
Nacional(ais) e mesmo, se possível dos Centros Dramáticos Nacionais de
Regiões (sobretudo se e quando não se trata de cidades de maior
densidade populacional, como Coimbra, Braga ou Setúbal). Nomeadamente
três:
a) Um
Centro Dramático de Investigação Estética Experimental (fundamentalmente
assente em residências e acolhimento de projectos enquadráveis na sua
natureza).
b) Um
Centro Dramático de Projectos Emergentes (idem e incluídos em parte no
caderno de encargos dos Centros Dramáticos Nacionais de Região no âmbito
do acolhimento ou mesmo da co-produção deslocalizada).
c) Um
Centro Dramático de Teatro de Revista (este naturalmente em Lisboa e em
articulação com o Museu do Teatro), não de produção própria. Antes
facilitador dessa produção empresarial e zelador e investigador do
género.
Também atendendo ao histórico nacional dos últimos 40 anos, seria
completamente justificável que determinadas estruturas de reconhecida
competência e continuidade de acção, com resultados exemplares
(artísticos e/ou socioculturais), da esfera privada, pudessem ser
convidadas à celebração de contratos-programa por ajuste directo de
financiamentos supletivos, celebrados por prazos dilatados, mas ao mesmo
tempo limitados no tempo, admitindo mesmo a sua extinção a prazo, uma
vez concluída a permanência dos seus mentores fundadores e directores.
Mas, mesmo assim, sujeitas a um crivo de avaliação muitíssimo rigoroso e
de número reduzido, com mais meios e menos dispersão, julgo que, na
prática, apenas reduzidas às grandes áreas metropolitanas de Lisboa e
Porto.
A
demais produção profissional não comercial deveria ficar sujeita, nas
tais “gavetas”, a concursos públicos (para financiamentos também
supletivos), também de regras de cumprimento e fiscalização rigorosas
com critérios transparentes e de assunção política da tutela,
independentemente dos mecanismos de consulta que esta quisesse
instaurar. E no domínio empresarial putativamente lucrativo, como já se
referiu, deveriam ser consideradas formas indirectas de apoio.
Por
último é essencial garantir mecanismos próprios adicionais que consignem
(em articulação com outras instituições públicas e privadas) formas de
apoio ao teatro de amadores, hoje completamente desprotegido, para
assegurar a sua continuidade, evitando, inclusive, a entrada na “saca
de gatos” dos concursos de financiamento do Estado certas estruturas de
característica semi-profissionais, que não são carne, nem peixe! O
verdadeiro teatro de amadores (para lá de poderem ser instituído
clausulado próprio de “apoios” no caderno de encargos dos Centros
Dramáticos Nacionais de Regiões), deveriam dispor de instituto próprio
para beneficiar de apoios em géneros (que não financiamentos), nos seus
diversos âmbitos: o teatro popular de raiz tradicional (autos e outro
tipo de manifestações sazonais locais), o teatro de amadores (em
organização própria ou pertencente a colectividades), o teatro escolar e
o teatro universitário (embora estes dois últimos em articulação muito
estreita da tutela respectiva ou mesmo unicamente sob sua
responsabilidade.
Desta
ou doutra forma (esta fórmula é a minha e baseia-se numa revisão, por
tempo e especificidades portuguesas, no modelo de André Malraux que, no
estádio de desenvolvimento do teatro em Portugal, me parece não só a
mais ajustada, como mesmo a mais possível de implantar), fica
demonstrado que, ao contrário da grita histérica que tem lugar apenas
quando se trata de “subsídios”, sim, é possível: pensar e organizar o
teatro português.
Aqui
se centrou a intervenção na arquitectura da produção, principalmente por
razões estratégicas que contrariem e contrariam a já citada tendência
para a destruição do tecido produtivo teatral e a sua subordinação a uma
espécie de sector de serviços por via de programadores de Teatros e
Cine-Teatros, espécie nova de “gurus yuppies” que sabem um bocadinho de
teatro, um bocadinho de ballet, um bocadinho de cinema, um bocadinho de
ópera, um bocadinho de música, um bocadinho de artes plástica… e etc.,
que é como quem diz que muito pouco ou nada sabem porque cada uma das
disciplinas citadas exige dedicação praticamente exclusiva e continuada
por muitos e muitos anos e não por via de intuições diletantes ou
formações académicas não especializadas. Mas em tudo o mais - da
aprendizagem às memórias, da gestão à prestação artística - sim, é
possível: pensar e organizar o teatro português para o tirar do “estado
a que isto chegou!”.
Castro Guedes
Encenador |