os frequentadores da taberna
a taberna é a morada dos amantes
o lugar onde o pássaro da alma descansa no ninho
o paradeiro do repouso que não possui existência
num mundo sem forma
o frequentador da taberna é desolado
num deserto solitário
de onde vê o mundo como uma miragem
deserto sem limites e infinito
pois nenhum homem alguma vez viu o seu início ou
fim
embora febrilmente vagueies por cem anos
estarás sempre sozinho
os inertes sem consciências nem viagens
os fiéis e infiéis
renunciaram ao bem e ao mal
rejeitaram o nome e a fama
por não beberem do cálice da altruidade
sem lábios ou boca
desconhecedores das tradições
visões e estados
dos sonhos com salas secretas
luzes e maravilhas
mentem entontecidos pelos aromas dos resíduos do
vinho
e dão como resgate
peregrinos e rosários
por vezes
ascendem a mundos de ténues felicidades
mas com gargantas exaltadas
ou com rostos enegrecidos
virados para as paredes
outras vezes com faces avermelhadas
amarradas às estacas
mas agora
agora
na dança mística da alegria no amor
perdem-se as cabeças e os passos
como céus giratórios
e em cada um que ouvir a poesia
lhe vem o êxtase do mundo oculto
pois no interior das meras palavras e sons
da canção mística
oculta-se um mistério precioso
o de beber uma taça de vinho puro
de varrer o pó da inércia da alma
de agarrar as saias dos embriagados
e ser sábio
o vinho do êxtase
o vinho
aceso por um raio na face
revela o borbulhar das formas
tal como o mundo material
e o anímico
que aparecem como véus
para os castos
e as razões universais ao verem isto
ficam chocadas
a alma universal é reduzida
à escravidão
bebam vinho
lancem para as taças os rostos dos amigos
bebam vinho
orientem-lhes os olhares para os cálices
voem embriagados
bebam vinho
e isentem-se da frieza do coração
pois para um embriagado é muito melhor a satisfação
mútua
porque o mundo inteiro é a sua taberna
a sua taça de vinho o coração
de cada átomo
a razão é embriagada
os anjos embriagados
a alma embriagada
o ar embriagado
a terra embriagada
o paraíso embriagado
e o céu
tonto com os aromas do vinho
e dos seus vapores
torna-se infinitamente impressionante
pois se conseguem ver anjos a deliciarem-se
no vinho puro
e a despejar os sedimentos
para o mundo
e do cheiro destes resíduos
o homem ascende ao paraíso
embriagado dos elementos
dissolvido na água e no fogo
absorvendo a reflexão
o frágil corpo torna-se alma
e a alma congelada
pelo calor se derrete e se torna viva
mas o mundo das criaturas continua
a ser vertiginoso
por não se afastar de casa
um pelos odores dos resíduos
se torna filósofo
um pela visualização da cor do vinho
se torna relator
um por meio rabisco
se torna religioso
um por uma tigela
se torna amante
outro engole de uma só vez
engole tudo
mas ainda mantém a boca aberta
vinho tocha e beleza
as manifestações da verdade
são o vinho
a tocha
e a beleza
o vinho e a tocha são a luz e o brilho do sábio
a beleza não se oculta de nenhum
o vinho é a sombra da luz
e a tocha a lamparina
a beleza é a luz do espírito
tão brilhante que acende faíscas
no coração
vinho e tocha são a essência
dessa luz ofuscante
a beleza é o sinal da divindade
bebam este vinho
e avivando a consciência
serão libertados do feitiço do ego
então o vosso ser
como uma gota
irá cair no oceano da eternidade
intoxicação
o que é o vinho puro
é a auto-purificação
que doçura
que intoxicação
que esplendoroso êxtase
oh
momento feliz quando parámos
e caímos no pó
ébrios e maravilhados
pois em extrema pobreza
seremos ricos e livres
e que utilidade terá então o paraíso
e as virgens
pois que nenhum estranho encontra acesso
a esse espaço místico
não sei o que acontecerá depois
vi esta visão
e embebi-me deste cálice
mas depois da intoxicação
aproximam-se as dores de cabeça
e a angústia afoga-me a alma
ao lembrar-me disso |