REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número 14

 

Convoco o Mestre dos Arcanos para a Operação do Sol………..  

«A adversidade é para mim o que era a terra para Anteu: eu recobro

as minhas forças no seio maternal.»

François René Chateaubriand

 

 

Na «alêtheia», aleitamento, do Filaleteu, mais um livro dado ao povo, ou dado a lume, por o crisma ou carisma da Universitária Editora. Me ladeia, o seu Autor, no estado, no estudo e na estância – e por isso alvorecemos, e por isso escrevivemos sobre um Poeta do culto, e da Cultura Portuguesa. Se Fernando Guilherme Azevedo nos cede ora esta escritura, é porque a Luz e a leiva é sua morada imortal, ou melhor, a namorada perpétua… Em lhaneza de chão plano, diríamos então que o Fernando professa, que o oratório em que ele se abriga é, na crisologia, o alquímico e mágico laboratório.

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Dir. Maria Estela Guedes  
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Paulo Brito e Abreu

FERNANDO GUILHERME AZEVEDO,

«AVULSO ESPLENDOR

DE UMA LUZ HABITADA»

                                                                  
 

E ao lermos estas laudas facundas e fecundas, ficamos, dessarte, com a certeza seguinte: para o nosso Actor, ou Autor, é, no século XXI, como o foi, para Schopenhauer, no século XIX: quanto mais notáveis e notórios forem os progressos da Física, mais imperiosa e ministerial se torna, em mister, a necessidade metafísica – e por isso falámos nós do ministério menestrel. Por outras palavras, ciente «de que a morte senso comum» não existe ou não insiste, Fernando Guilherme Azevedo, para «redigir o futuro» e as constelações, abeira-se da verdade dos professores e Profetas, ele torna-se Vidente ou visionário da lusitana matriz – e a Mater de Luso é luzida matéria.

Queremos dizer, Amigo ledor, o que já deves ter aprendido, preendido ou compreendido: seguro e sabedor do ritual da Magia, o nosso Poeta assume-se como médium ou medianeiro, ele é, e sabe que ele é, porta-voz ou instrumento nas mãos de poderes ou potências mais altas e maiores. Que a ele foi-lhe dado conhecer uma ciência: que todos nós somos pedras ou pedrouços nos quais gravado foi o nome do Eterno. Ou melhor: em naipe, em Nabia ou Nabateu, o Fernando é Nazareno, o Fernando é um médium do Verbo divinal – e ele é místico, ou mistério, que se ignora como tal: não é dele a «Alma Nova» do seu antepassado, o lúmen ou ilustre Guilherme de Azevedo? É do seu avoengo, de Poesia ou parceria com Guerra Junqueiro, o viático e a vieira, a «Viagem», outrossim, «à Roda da Parvónia». Mas revertamos, agora, ao XXI e ao presente: o Universo apresenta-se, aos olhos do Vate, qual o vetusto e o vasto criptograma; para perorar, então, é preciso, pois, orar, e pra escrever, ou inscrever, a mensagem subliminal, impera apenas isto: o saber ler ou inteligir; e é que lê o intelecto no arteiro interior………..

Atentemos, gravemente; talvez o senso e o sentido se desvelem na vide. Pois é dele a santa Vinha, como é, na verdade, a Filosofia da Vida: nós não explicamos, nem coisificamos, este livro de Poesia – mas preendemos, e abraçamos, a Graça do Autor. Pois falamos, aqui mesmo, qual o grande Carl Rogers, qual a granja, a egrégia, a grandura de Rogers: em Fernando nós temos a congruência, a vida plena, a consideração positiva e incondicional. Seguindo e segundo S. João, Evangelista, «se o grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, fica estéril, mas se morrer, produzirá muito fruto.» Quer isto assinalar, ou significar: para Heraclito, o Efésio, a vida dos mortais é bem a morte e a mensagem dos divos imortais: e a função, pois, da diva, é procriar a nossa vida: não é esta, afinal, a teológica lição de Guerra Junqueiro? Ou colação, tertuliana, do nosso analisado. Se Fernando Guilherme Azevedo, destarte e na Arte, assumiu ou subsumiu a condição do Arauto, é porque, para o transe, é mister e é mistério o estado do transir. O «êxtase», por isso, é «fora de si», é delírio, fantasma ou alucinação. Que a experiência da Morte, para o comum dos mortais, é tomada e assumida como o fim da nossa Via, o limite final, ou saturniano, da nossa existência. Mas como já vimos que acontecia, outrossim, com todo o saltério, o fim da Via sua foi vertido e traduzido para o viático e o Verbo, ou melhor, a situação-limite volveu-se e transmudou-se em «liber» liminar.

Queremos assertar, certeiramente, que a Morte foi apenas a porta do porto ou Portugal- metamorfose, que ao sábado sabático se segue, em multiculto, o dia do Senhor; proferir aqui nós queremos que o ouro do Sol se encontra na escória, isto é, que a plutocracia provém de Plutão: e eis o esterco e a estrutura, e eis, fecal, a fase anal, de que falava, sem falácia, o Sigmund Freud – e Freud, como Jung, o grande Liberador, e no Eros, ou na Lira, a anárquica Afrodite. Mas também o Pampsiquismo, mas também o Inconsciente que adicionavam, no «eidos», o Hartmann e Scheler. E ora em suma, e ora sus: a Amizade, ou Simpatia, é o penso e a Catarse para a Patologia. Com este comento, em mente nossa, imaginamos e falamos a seguinte realidade: como temos orado e exarado, até à exaustão, em curso, no discurso e conferência, toda a criação mergulha as raízes no lodo e no limo, ou seja, no imo do Inferno; e, se o Inferno são as furnas, a morte é matriz de um novo nascimento – e o túmulo, talvez, o berço sagrado, ou segundo, do filho do homem. Nós queremos inquirir: no sagrado e no degredo, não foi aprisionado, ou melhor, aperreado, que a-presentou, Camões, os seus poemas mais belos? E nós lembramos, outrossim, o Voltaire, o Camilo, o Barbosa du Bocage. Na lição e prelecção dos vocábulos amigos, para «connaître» ou conhecer a vida do Espírito é preciso voltar ao líquido amniótico; é preciso, por isso, o nascer duas vezes ou «naître» para a Luz; na ablução e moção que as palavras concedem, o Fernando é pois Irmão, e a isso se chama ser um Iniciado………..

Ratificando, rectificando e concluindo, nós temos, então: na Gaia Ciência, ou Língua das Aves, Fernando Guilherme Azevedo é merecedor do garbo e galhardia; sentindo e pensando em acto simultâneo, ele manteve-se fiel a todos os seus sonhos, abrilhantou, com Arte, as suas Utopias. Que o destino do Sagrado, ele é, no Poeta, o cântico sinal e permanente, sinal de reconhecimento ou consciência na espírita missão. Que é fora do «topos» e fora da urbe, e são longe, da República, os tópicos e tropos. Pois é, do Fernando, a sinfonia, como é dele, do orador, o oráculo de Trofónio – e a caverna, pra Platão, é o mundo, a caverna simboliza a exploração, ou floração, do eu crepuscular. A cavidade e o cavo, a Maia maviosa e o antro das Mães. E o similar, e o selecto, o soterrâneo de que asserta o Charles Baudelaire. Pois é, do Fernando, o ofício do Fogo, do Íman, da pedra de Heracleia: sentado no seu escudo, e ao seu escrínio, propalador e cultor do automatismo mental, o nosso Poeta não oficia, nos dias de hoje, no templo; mas é, digamos assim, o aventureiro e venturoso do deserto; são as vozes do deserto que aqui fazem a leiva, e o silêncio, dessarte, é Saudade ou Magia, é novela ou singela Polifonia.

E é então que pensamos, falamos, e na voz vocacionamos: insistindo, feericamente, na Verdade do Ser, Fernando Guilherme Azevedo, no alto da montanha, especula com seu espéculo o espectáculo da vida, é o Príncipe emigrado dos páramos astrais – e o ginete, como disse, é qual a Gnose, e o novo nascimento é conhecimento. Quero aduzir, para os Gregos, os Caldaicos, para a língua do Lácio, o morrer, em Morfeu, é ser Iniciado. E muito, muito bem: se a «Theoria», para os Gregos, é «Contemplatio» para os Latinos, eu não vou exorbitar: a expectativa, e aspeito, eles fazem, do Fernando, o especiável, o espectral, e por isso o especial, e o espelho, em Fernando, ele é representação, uma a-presentação, da humana e soberana feira das vaidades. Ou concluindo, agora sim, por vocábulos conformes à via das nuvens: se o património cognoscitivo, para o vulgo e o vulgar, é lanterna e lumiar que ilumina a vereda, para o Autor deste livro, ou desta lavra, ele é o Santo dos Santos, ou melhor, é o Sol e a vida que o mundo revela. E, como em Wilhelm Dilthey, Schopenhauer, e Heidegger o grande, a necessidade metafísica é germana, ou soberana, necessidade – e a Teo-logia, aqui, é Teo-gonia, é teatral ou Teúrgica Ontologia. Pois não busca, o Fernando, a glosa ou a coisa, ele demanda, apenas, o ente, a enteléquia, e o Ser enquanto Ser. Ou diria, belamente, o Bergson: tal é «a função essencial do universo, que é uma máquina para fazer deuses», que é uma máquina, ou Cruz, para criar criadores – e chamamos, aqui, à colação, o cultismo e aticismo, o pensamento, criacional, do Leonardo Coimbra.  Pois é mister, agora é tempo, e é força dizê-lo: para o Poeta Fernando, e Fernando o Filósofo, as ciências do Espírito, ou ciências humanas, opõem-se, resolutamente, ao Panlogismo do Hegel, ao estreme e ao estreito Racionalismo; e por isso o des-velar; e a caverna, por isso, é o «site» e o sítio da Revelação. E regressando, e revertendo na lição: «Abram as portas. Luz, mais Luz!!!», dizia, pedia Goethe no seu leito mortal. Talvez ele tenha visto, como o Fernando Guilherme Azevedo, que o autêntico Sol é o Sol das consciências, que o Deus da grande vigília, alumiando, é dos homens Professor, e que a Luz ama as trevas por que possa professar……………….

 

Tomar, Cidade Templária, 30/ 12/ 2000  

SIC ITUR AD ASTRA  

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

PAULO JORGE BRITO E ABREU 
Paulo Jorge Brito e Abreu nasceu em Lisboa, Portugal, a 27 de Maio de 1960. Licenciou-se, em 1986, em Estudos Anglo-Portugueses, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É Poeta, pensador, ensaísta, conferencista, crítico literário, cantor e psicodramatista; encetou, em 2007, uma carreira de Pintor. Desde 1999, é Sócio Correspondente da Academia Carioca de Letras; no ano 2000, a União Brasileira de Escritores atribuiu-lhe, em parabém, a Medalha Peregrino Júnior de Intercâmbio Cultural. Por o seu contributo para a Cultura Portuguesa, foi agraciado, em 2006, com uma medalha, pela Escola Secundária D. Diniz. E por meados, primaveris, dos anos 60, sua Mãe, Maria Amélia, ensinou-o, correctamente, a ler, a escrever e a contar…
CONTACTO: paulobritoeabreu@yahoo.com.br

 

 

© Maria Estela Guedes
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