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E ao lermos estas laudas
facundas e fecundas, ficamos, dessarte, com a certeza seguinte: para o
nosso Actor, ou Autor, é, no século XXI, como o foi, para Schopenhauer,
no século XIX: quanto mais notáveis e notórios forem os progressos da
Física, mais imperiosa e ministerial se torna, em mister, a necessidade
metafísica – e por isso falámos nós do ministério menestrel. Por outras
palavras, ciente «de que a morte senso comum» não existe ou não insiste,
Fernando Guilherme Azevedo, para «redigir o futuro» e as constelações,
abeira-se da verdade dos professores e Profetas, ele torna-se Vidente ou
visionário da lusitana matriz – e a Mater de Luso é luzida matéria.
Queremos dizer, Amigo
ledor, o que já deves ter aprendido, preendido ou compreendido: seguro e
sabedor do ritual da Magia, o nosso Poeta assume-se como médium ou
medianeiro, ele é, e sabe que ele é, porta-voz ou instrumento nas mãos
de poderes ou potências mais altas e maiores. Que a ele foi-lhe dado
conhecer uma ciência: que todos nós somos pedras ou pedrouços nos quais
gravado foi o nome do Eterno. Ou melhor: em naipe, em Nabia ou Nabateu,
o Fernando é Nazareno, o Fernando é um médium do Verbo divinal – e ele é
místico, ou mistério, que se ignora como tal: não é dele a «Alma Nova»
do seu antepassado, o lúmen ou ilustre Guilherme de Azevedo? É do seu
avoengo, de Poesia ou parceria com Guerra Junqueiro, o viático e a
vieira, a «Viagem», outrossim, «à Roda da Parvónia». Mas revertamos,
agora, ao XXI e ao presente: o Universo apresenta-se, aos olhos do Vate,
qual o vetusto e o vasto criptograma; para perorar, então, é preciso,
pois, orar, e pra escrever, ou inscrever, a mensagem subliminal, impera
apenas isto: o saber ler ou inteligir; e é que lê o intelecto no arteiro
interior………..
Atentemos, gravemente;
talvez o senso e o sentido se desvelem na vide. Pois é dele a santa
Vinha, como é, na verdade, a Filosofia da Vida: nós não explicamos, nem
coisificamos, este livro de Poesia – mas preendemos, e abraçamos, a
Graça do Autor. Pois falamos, aqui mesmo, qual o grande Carl Rogers,
qual a granja, a egrégia, a grandura de Rogers: em Fernando nós temos a
congruência, a vida plena, a consideração positiva e incondicional.
Seguindo e segundo S. João, Evangelista, «se o grão de trigo, ao cair na
terra, não morrer, fica estéril, mas se morrer, produzirá muito fruto.»
Quer isto assinalar, ou significar: para Heraclito, o Efésio, a vida dos
mortais é bem a morte e a mensagem dos divos imortais: e a função, pois,
da diva, é procriar a nossa vida: não é esta, afinal, a teológica lição
de Guerra Junqueiro? Ou colação, tertuliana, do nosso analisado. Se
Fernando Guilherme Azevedo, destarte e na Arte, assumiu ou subsumiu a
condição do Arauto, é porque, para o transe, é mister e é mistério o
estado do transir. O «êxtase», por isso, é «fora de si», é delírio,
fantasma ou alucinação. Que a experiência da Morte, para o comum dos
mortais, é tomada e assumida como o fim da nossa Via, o limite final, ou
saturniano, da nossa existência. Mas como já vimos que acontecia,
outrossim, com todo o saltério, o fim da Via sua foi vertido e traduzido
para o viático e o Verbo, ou melhor, a situação-limite volveu-se e
transmudou-se em «liber» liminar.
Queremos assertar,
certeiramente, que a Morte foi apenas a porta do porto ou Portugal-
metamorfose, que ao sábado sabático se segue, em multiculto, o dia do
Senhor; proferir aqui nós queremos que o ouro do Sol se encontra na
escória, isto é, que a plutocracia provém de Plutão: e eis o esterco e a
estrutura, e eis, fecal, a fase anal, de que falava, sem falácia, o
Sigmund Freud – e Freud, como Jung, o grande Liberador, e no Eros, ou na
Lira, a anárquica Afrodite. Mas também o Pampsiquismo, mas também o
Inconsciente que adicionavam, no «eidos», o Hartmann e Scheler. E ora em
suma, e ora sus: a Amizade, ou Simpatia, é o penso e a Catarse para a
Patologia. Com este comento, em mente nossa, imaginamos e falamos a
seguinte realidade: como temos orado e exarado, até à exaustão, em
curso, no discurso e conferência, toda a criação mergulha as raízes no
lodo e no limo, ou seja, no imo do Inferno; e, se o Inferno são as
furnas, a morte é matriz de um novo nascimento – e o túmulo, talvez, o
berço sagrado, ou segundo, do filho do homem. Nós queremos inquirir: no
sagrado e no degredo, não foi aprisionado, ou melhor, aperreado, que
a-presentou, Camões, os seus poemas mais belos? E nós lembramos,
outrossim, o Voltaire, o Camilo, o Barbosa du Bocage. Na lição e
prelecção dos vocábulos amigos, para «connaître» ou conhecer a vida do
Espírito é preciso voltar ao líquido amniótico; é preciso, por isso, o
nascer duas vezes ou «naître» para a Luz; na ablução e moção que as
palavras concedem, o Fernando é pois Irmão, e a isso se chama ser um
Iniciado………..
Ratificando,
rectificando e concluindo, nós temos, então: na Gaia Ciência, ou Língua
das Aves, Fernando Guilherme Azevedo é merecedor do garbo e galhardia;
sentindo e pensando em acto simultâneo, ele manteve-se fiel a todos os
seus sonhos, abrilhantou, com Arte, as suas Utopias. Que o destino do
Sagrado, ele é, no Poeta, o cântico sinal e permanente, sinal de
reconhecimento ou consciência na espírita missão. Que é fora do «topos»
e fora da urbe, e são longe, da República, os tópicos e tropos. Pois é,
do Fernando, a sinfonia, como é dele, do orador, o oráculo de Trofónio –
e a caverna, pra Platão, é o mundo, a caverna simboliza a exploração, ou
floração, do eu crepuscular. A cavidade e o cavo, a Maia maviosa e o
antro das Mães. E o similar, e o selecto, o soterrâneo de que asserta o
Charles Baudelaire. Pois é, do Fernando, o ofício do Fogo, do Íman, da
pedra de Heracleia: sentado no seu escudo, e ao seu escrínio, propalador
e cultor do automatismo mental, o nosso Poeta não oficia, nos dias de
hoje, no templo; mas é, digamos assim, o aventureiro e venturoso do
deserto; são as vozes do deserto que aqui fazem a leiva, e o silêncio,
dessarte, é Saudade ou Magia, é novela ou singela Polifonia.
E é então que pensamos,
falamos, e na voz vocacionamos: insistindo, feericamente, na Verdade do
Ser, Fernando Guilherme Azevedo, no alto da montanha, especula com seu
espéculo o espectáculo da vida, é o Príncipe emigrado dos páramos
astrais – e o ginete, como disse, é qual a Gnose, e o novo nascimento é
conhecimento. Quero aduzir, para os Gregos, os Caldaicos, para a língua
do Lácio, o morrer, em Morfeu, é ser Iniciado. E muito, muito bem: se a
«Theoria», para os Gregos, é «Contemplatio» para os Latinos, eu não vou
exorbitar: a expectativa, e aspeito, eles fazem, do Fernando, o
especiável, o espectral, e por isso o especial, e o espelho, em
Fernando, ele é representação, uma a-presentação, da humana e soberana
feira das vaidades. Ou concluindo, agora sim, por vocábulos conformes à
via das nuvens: se o património cognoscitivo, para o vulgo e o vulgar, é
lanterna e lumiar que ilumina a vereda, para o Autor deste livro, ou
desta lavra, ele é o Santo dos Santos, ou melhor, é o Sol e a vida que o
mundo revela. E, como em Wilhelm Dilthey, Schopenhauer, e Heidegger o
grande, a necessidade metafísica é germana, ou soberana, necessidade – e
a Teo-logia, aqui, é Teo-gonia, é teatral ou Teúrgica Ontologia. Pois
não busca, o Fernando, a glosa ou a coisa, ele demanda, apenas, o ente,
a enteléquia, e o Ser enquanto Ser. Ou diria, belamente, o Bergson: tal
é «a função essencial do universo, que é uma máquina para fazer deuses»,
que é uma máquina, ou Cruz, para criar criadores – e chamamos, aqui, à
colação, o cultismo e aticismo, o pensamento, criacional, do Leonardo
Coimbra. Pois é mister, agora é tempo, e é força dizê-lo: para o Poeta
Fernando, e Fernando o Filósofo, as ciências do Espírito, ou ciências
humanas, opõem-se, resolutamente, ao Panlogismo do Hegel, ao estreme e
ao estreito Racionalismo; e por isso o des-velar; e a caverna, por isso,
é o «site» e o sítio da Revelação. E regressando, e revertendo na lição:
«Abram as portas. Luz, mais Luz!!!», dizia, pedia Goethe no seu leito
mortal. Talvez ele tenha visto, como o Fernando Guilherme Azevedo, que o
autêntico Sol é o Sol das consciências, que o Deus da grande vigília,
alumiando, é dos homens Professor, e que a Luz ama as trevas por que
possa professar……………….
Tomar,
Cidade Templária, 30/ 12/ 2000
SIC ITUR
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