Os dedos com a sonoridade das uvas, mulheres nuas,
o bronze estremecendo, rubro.
O magnifico naufrágio nas flâmulas dos tigres,
as rosas da carne
com a hibernação florindo, ao cimo, no mar.
Sombras iluminadas que correm pelos bosques,
a nudez lacustre,
animais que bebem o lume da terra,
o turbo da vertigem e a rotação dos fontanários,
praças de pedra e cal,
portentosos instrumentos de medição anteriores ao deus.
E o rosto de criança que salta dos sonhos, lesto.
O rosto. Um rosto esperança -de - homem -florido
com uma cavilha ao alto, na testa.
As mãos negras de amor por onde
sobem as linhas da água e o rigor do mármore.
Ah! Os malmequeres, as válvulas, luminosos estames,
a assunção do vinho, o cântico nas pérolas.
OBSCURA-LUMINOSIDADE
Obscura mudez hilariante
o espaço dos cereais
anémonas ,peixes- rosa
a seiva explodindo
nos nós exactos da semente
O olho parado sobre o mundo
como uma seta que nunca alcança o real
criaturas avançando, lestas, por entre
os borbotões do verde
(renovados e sempre ousados caminhos)
o homem poisa a mão na terrosa luz
do antigo muro
leva-a à boca como quem come
a inquietude dos frutos negros
a renúncia já não é possível
tudo se afirma no fabuloso espaço
vida/ morte
da presença /ausência
de um deus
durante um dia
também o insecto vigorará metálico
nesta espiral milagrosa
um alto sibilar da palavra obscura
mas iluminada
FRAGMENTO 2
Idade do jasmim,
obscuro roer de animais entre folhagens líquidas.
Aqui se encostam.
Aqui se deitam no torrencial fluir da terra.
O ritmo dos líquidos.
A vertical horizontalidade das formas.
Cada passo um passo.
Uma estaca tingida de luz e tijolos que bebem
madrugadas.
Uma estaca.
Junto a ela, um pórtico florido.
Negros frutos e o recanto das borboletas.
Um corpo sentado dentro dele mesmo.
À frente, a tenda
e a estaca
cravada no chão,
os joelhos apontando para o centro do mundo.
Ao fundo, a gaia ciência dos ímanes.
Sombras de deuses cintilando nos metais.
As suas hélices.
O sol.
O fantástico rodar das fábulas inclinadas em riste,
à volta do fogo,
na boca dos avós.
Brusco turbilhão de curvas transparentes nos rostos
das crianças.
De súbito, o mundo deixa de se ouvir.
Já nada há que se agite.
No terraço: A lua. As ferramentas. Lençóis. A seda.
30 . März 2011, Züschen
Luís Costa |