Também eu gostava de ficar na oficina
A escolher as ferramentas da herança
Uma plaina é uma garlopa pequenina
Uma enxó é quando o desbaste avança
Na asa ou punho a minha mão fechada
Conduz a ferramenta o som duma canção
Também distingo uma garlopa calçada
No seu rasto guarnecido a chapa de latão
Também vejo o pó da poesia na madeira
O guilherme com a sua pouca espessura
Pode ajudar-me a aplainar esta canseira
No rasto convexo as mechas e a abertura
As aparas caem no chão da nossa vida
A garlopa alisa estas tábuas de Janeiro
No poema ouço uma voz meio sumida
Do meu avô que foi poeta e carpinteiro |