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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2011 | Número 12
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I
Se hoje, ao contrário do que ocorre com
Fernando Pessoa (1888-1935), Eça de Queiroz (1845-1900) já não desperta
tanta admiração entre os leitores brasileiros, culpa maior cabe aos
editores nacionais que só se preocupam em reeditar parte de sua obra
quando a Rede Globo decide mandar ao ar uma minissérie ou telenovela com
base em algum de seus romances. Mas que ainda há bastante espaço para
livros que tratam da vida e obra ecianas não se discute. Basta ver o
interesse que vem despertando Eça de Queiroz:
fotobiografia: vida e obra (São Paulo, Leya, 2010), de A. Campos
Matos, hoje, indiscutivelmente, o mais categorizado dos biógrafos do
romancista luso, com mais de 15 títulos sobre o tema.
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DIREÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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Nova
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ADELTO GONÇALVES
Eça de Queiroz em imagens
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Publicado em 2007 pela Editorial Caminho,
de Lisboa, esta segunda edição de Eça de Queiroz:
fotobiografia: vida e obra sai no Brasil pela Leya, braço
brasileiro do grupo à que também pertence a editora portuguesa. E sai
não só revista e acrescida de extenso material iconográfico, reunindo
mais de 700 imagens, como de um prólogo escrito especialmente para a
edição brasileira que trata das relações do escritor com o Brasil.
Se nunca teve a oportunidade de colocar
os pés em terras brasileiras, muitas são as ligações afetivas de Eça com
o Brasil. Essas ligações começam com o seu avô paterno que, nascido em
1744 e jurista pela Universidade de Coimbra, foi ouvidor no Rio de
Janeiro, onde viveu cinco anos. Foi durante a estada do ouvidor na
cidade carioca que nasceu, em 1821, o pai de Eça de Queiroz, que também
se graduou bacharel em Direito por Coimbra.
Nascido de uma relação não legalizada à
época – só mais tarde os pais de Eça viriam a se casar –, o futuro
escritor teve como ama uma brasileira de Pernambuco e a companhia de um
criado mulato que o avô levara do Rio de Janeiro para o solar de
Verdemilho, ao Sul do Porto. Aos 25 anos de idade, já cônsul de primeira
classe por concurso público, por pouco Eça não ocupou o posto de cônsul
na Bahia, cargo que seria seu por direito, mas que perdeu por injunções
políticas de outro interessado. Foi cônsul em Havana, Cuba, e em
Newcastle, ao Norte da Inglaterra, de 1874 a 1879, época em que travou
um célebre embate com Machado de Assis (1839-1908) a respeito do
trabalho literário.
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II |
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Como lembra Campos Matos em seu alentado prólogo, na
última fase de sua vida, Eça, morando em Paris, travou amizade com
vários brasileiros ilustres, como Eduardo Prado (1860-1901), Domício da
Gama (1862-1925), Graça Aranha (1868-1931), Olavo Bilac (1865-1918),
José Veríssimo (1857-1916), Joaquim Nabuco (1849-1910) e o barão do Rio
Branco (1845-1912). A essa época, participou, com textos de excelente
qualidade, da Revista Moderna, cujo primeiro
número é de 1897, publicação de propriedade de Martinho Carlos Arruda
Botelho, filho do conde de Pinhal, fazendeiro paulista de Piracicaba que
fizera fortuna com o cultivo de café.
Não param aqui as ligações de Eça com os
brasileiros: sua fama correu o Brasil de alto a baixo, desde que, ainda
jovem, passou a escrever com Ramalho Ortigão (1836-1915) As
Farpas, folhetos de publicação periódica. Num deles, destilou sua
irreverência com D. Pedro II, quando de sua viagem a Lisboa, talvez
porque o visse um tanto jeca, ainda que o imperador fosse homem de
grande cultura. Essas fustigadas mereceram grande reação de brasileiros,
especialmente em Pernambuco, onde comerciantes portugueses foram alvo de
represálias por conta das diatribes ecianas.
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III |
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Fama mais justa veio em 1876 com a
primeira edição de O crime do padre Amaro, que
sacudiu o rame-rame em que se arrastava a literatura brasileira. Dois
anos depois, com O Primo Basílio, e suas cenas
pouco convencionais e ousadas, viria a causar polêmica, a ponto de
Machado de Assis reagir negativamente em nome de um moralismo que, mesmo
à época, pareceu um tanto despropositado. Tanto que outros escritores
brasileiros saíram em defesa de Eça. O escritor veria sua fama disparar,
tornando-se uma devoção quase religiosa a partir de 1880, quando teve
início a sua colaboração regular na Gazeta de Notícias,
do Rio de Janeiro, que se interrompeu só em 1897.
Muitos escritores medíocres e outros nem
tanto iriam imitar o estilo inconfundível de Eça, a ponto de a idolatria
pelo escritor luso avançar pelo século XX, superando até mesmo a fama
tinha em Portugal. Campos Matos lembra, inclusive, que, em 1923, um
filho de Eça, o jornalista Alberto, à época morando no Rio de Janeiro,
surpreendeu-se com o culto a seu pai, ao ser convidado a participar da
inauguração de um busto do escritor na cidade.
Campos Matos não duvida que o interesse
por Eça no Brasil continue vivo, ainda que não o seja nos moldes de há
70 anos ou 80 anos. Ainda hoje não é difícil encontrar literatos que
sejam capazes de repetir de cor trechos imensos de livros do autor de
Os Maias (1888). O cearense Dário Moreira de
Castro Alves (1927-2010), que foi embaixador do Brasil em Lisboa de 1789
a 1983, autor de Era Lisboa e chovia (Rio de
Janeiro, Nórdica, 1984), entre outros livros de temática eciana, era um
desses. Aliás, Castro Alves contou com os conselhos e fotografias de
Campos Matos para a elaboração de Era Lisboa e chovia.
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IV |
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Conhecer a vida fascinante e, de certo
modo, breve de Eça de Queiroz é possível por meio biografias bem
elaboradas como Vida e obra de Eça de Queiroz
(Lisboa, Livraria Bertrand, 3ª ed., 1980), de João Gaspar Simões, ainda
o grande biógrafo do romancista, e o recente Eça: vida
e obra de José Maria Eça de Queirós (Rio de Janeiro, Record,
2001), de Maria Filomena Mónica, ainda que contra ambas possamos abrir
aquele combate silencioso que todo bom leitor levanta contra passagens
menos críveis, mas mais prazeroso é partilhá-la a partir de fotos e de
todo material iconográfico que Campos Matos reuniu com rara felicidade.
Sorte também que Eça tenha sido um dedicado cultor da arte
fotográfica. Gostava de fotografar e igualmente de ser fotografado,
recorrendo a poses, talvez porque já imaginasse que posava para a
posteridade.
Numa época em que era costume posar com
colegas e familiares em estúdios, Eça levou ao extremo o hábito de
presentear amigos com fotografias com dedicatórias. Muitas destas fotos
Campos Matos reuniu em seu livro, além de cartas do pai do escritor,
bilhetes do próprio romancista e outras imagens de locais que fizeram
parte da vida do autor e de sua geografia literária. Há ainda retratos
de familiares e amigos, especialmente de seus companheiros do Cenáculo
de Lisboa, e de autores cultuados por Eça.
Dos amores de Eça, há muitas fotos de sua
esposa, Emília de Castro, e de Anna Conover, uma norte-americana que se
apaixonou pelo então cônsul de Portugal em Havana, quando este ainda era
solteiro. O affair com Anna e outro com Mollie Bidwell, de
quem não se conhece fotografia, levaram Eça a uma estada de cinco meses
nos Estados Unidos, em 1873-1874. Sem contar a foto da “bela
desconhecida de Angers”, que levou Eça a freqüentar esta cidade francesa
com certa assiduidade.
O álbum traz ainda fotos tiradas por
Alberto Carlos da Costa Frazão, primeiro visconde de Alcaide
(1869-1939), que estimulou em Eça o gosto pela fotografia e a quem se
deve as melhores imagens do escritor, de seus familiares e de alguns
amigos feitas no jardim da casa da Avenue du Roule, em Neuilly, em
Paris.
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V |
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O arquiteto A. Campos Matos tem um vasto
currículo eciano, que começou com Imagens do Portugal
queirosiano (1976). Foi autor em grande parte do
Dicionário de Eça de Queiroz, publicado em 1988, que
deu lugar a uma edição aumentada em 1993 e, em 2000, ao
Suplemento ao Dicionário de Eça de Queiroz. Publicou
ainda Eça de Queiroz-Emília de Castro, correspondência
epistolar (1995) e, posteriormente, Cartas de
Amor de Anna Conover e Mollie Bidwell para José Maria Eça de Queiroz,
cônsul de Portugal em Havana: 1873-1874 (1999).
É também autor de
Diálogo com Eça de Queiroz (1999), A Casa de
Tormes, inventário de um patrimônio (2000),
Viagem no Portugal de Eça de Queiroz (2000), A
Igreja românica de S. Pedro de Rates: Guia para visitantes
(2000), Eça de Queiroz, marcos bibliográficos e
literários (1845-1900), catálogo da exposição do Instituto
Camões (2000), Ilustrações e ilustradores na obra de
Eça de Queiroz (2001), O mistério da estrada
de Ponte de Lima: António Feijó, Eça de Queiroz (2001),
Sobre Eça de Queiroz (2002), Sete
biografias de Eça de Queiroz (2004),
Dicionário de citações de Eça de Queiroz (2005) e
Eça de Queiros, postais ilustrados (2006).
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Adelto
Gonçalves (Brasil)
Doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e
autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999;
São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa,
Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br |
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL |
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