Ela
ergueu-se
um só
negro
somente
ao centro o pequeno retalho dourado da pele
e duas
mãos inquietas
erguendo conchas -- taças vibrantes à voz
agradeceu e
começou
vertendo
a sua
vida a sua luz sobre nós
eram de
antiquíssima força as palavras de paz
de
imemorial sofrimento o claríssimo sorriso
branco
e muito
cuidadoso infinitamente cuidadoso tudo
o que
tinha para dizer
de
negro de dor de poder
de
iníquos dentes crispados sobre um futuro possante a acontecer
como
ela mesma -- ali
aqui
em mim
em nós
predadores da história
insanáveis irmãos de infortúnio em espelhos inconstantes
e
débeis
dando-se conta de si
dando-se
contas
para além de todo o deserto das crónicas
para
além de todo o silêncio dono
para
além de todo o silêncio sábio
muito
além -- todo o silêncio raro
depois
fui
abrindo o seu livro com respeitoso vagar
gostosamente devagar
metade
desejo metade paz
do
papel ainda cheiroso impresso a negro saltavam linhas
inteiras
vermelhas
sem
outro sentido mais que essa dança
ritmada
ao som ainda quente das palavras
o corpo
mesmo
pulsante
de um
texto uno
depois
pousei
o livro devagar
deixando suas bravíssimas vestes resvalar
também
por mim
levíssimo abandono
ao
encontro do canto novo
ao
encontro desse cântico encantado de te saber irmã
poderosíssima bela e simples mulher
Teresa
Tudela, 14 de Dezembro de 2010 |