o amor não é de modo nenhum uma receita veloz.
com um pouco de água
cenouras
batatas e cebolas
não se fazem manjares.
dão-se algumas cambalhotas
dentro do calor.
também não é uma sopa instantânea
nem tão pouco caseira,
exige traje a rigor
bordado a pontos de travesseiro.
é absolutamente indispensável
ter uma cozinha no universo,
olhar de vez em quando, com ternura, a terra…
deve-se estar elegantemente preparado
para chorar quando se descascam as cebolas
observar com rigor cada lágrima
vertê-la para dentro de uma caixinha
e colocá-la de novo no mar,
chuva entre os intervalos da cozedura.
é indispensável
para lavar a amargura. algum sol
para a secar
para que a receita se possa tornar um manjar,
um pouco de mel
para que o produto final
possa ser assinado
não por um homem e uma mulher
mas por duas abelhas.
não esquecer
uma sinfonia durante o tempo de permeio
fogo
muito fogo
primeiro forte
depois suave
cultivando sempre e com rigor a devoção alheia.
de um ingrediente a outro
devem observar-se as nuvens
a temperatura ambiente
fazer pousio,
só depois recomeçar o movimento
à semelhança da nostalgia das dunas,
reparar ainda se há depósito de lodo.
deve haver.
para que mais tarde possa nascer
da invisibilidade da água
a maravilhosa flor |