O mais perigoso dos animais
selvagens. Quando
é que é difícil definir
exactamente. Podem, com cinco dedos
fazer-se trocadilhos: “Amo-te
ó mão, no vértice firmada
das esplendidas catedrais
- cabelos, olhos, carne -
mortal” (ao jeito de Herculano), ou
“mão que ladra não morre” (adágio que
proponho à circulação manual). A verdade
é como as mãos: escura ou clara. Por isso
façamos da mão uma verdade: shake-hands
absoluto, intemerato. Não lhe queiram
mal por ter torturado, espancado. Lembrem-se
da mão que traçou riscos difusos
num qualquer pedaço de papel
para esbater a angústia e o desamor. Recordem
ainda a mão de pedra dum pintor
ou a mão que entra no mar
ou na terra
ou no sonho
sempre a horas mortas e vivas. Descontem
que não lhe cabe a culpa pelo anel do bispo
pela luva do pugilista
pela algema do polícia. Isso não é do foro
da mão
mas sim prolongamento de maus miolos.
Digam devagarinho: mão e muro
mão de pau
mão florida. Como cresce uma imagem
plásmica e pura, não é assim? Já agora
abençoem também a mão
que traça o poema
da mão. Ou pelo menos
acariciem-na firmemente
lentamente
como se estivesse petrificada e podre
- osso e pele -
como semente adormecida
no interior da Terra. |