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O aparecimento e desenvolvimento da escrita é uma das
características das Sociedades Humanas onde já exista um verdadeiro
sistema de redistribuição administrada. Por outras palavras , os
primeiros registos conhecidos eram na realidade listas de armazenagem de
produtos. No entanto, desde cedo que este sistema de escrita foi
utilizado no registo de mitos, lendas e poesias assim como na
administração. Neste sentido os arquivos constituem desde sempre a
memória das instituições e das pessoas, e existem desde que o Homem
fixou por escrito as suas relações como ser social.
Sendo a escrita a representação do pensamento em caracteres
convencionais, o homem começa por traçar desenhos mágicos, e deles acaba
por se servir como meio de comunicação. A escrita é pois, o processo de
registo de caracteres através de um meio (carvão, cera, ocre, etc.) ,
com a intenção de formar signos e representações com valor fonético, ou
seja a linguagem precede a escrita. A invenção e aparecimento da escrita
condicionou de tal forma a humanidade, que esta tomou consciência de era
necessário conservar os registos para mais tarde poderem ser utilizados
- razões pragmáticas essencialmente - registo de vendas e compras,
stocks em armazém, etc. |
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Ao longo da História, podemos encontrar estes
registos em diferentes suportes, desde as placas de argila, o papiro, o
papel, entre outros. Hoje, a variedade de suportes aumentou, o que por
sua vez enriqueceu os conteúdos escritos que se tornaram,
consequentemente, bastante variados. A linha que divide a pré-história
da história é atribuída ao surgimento de registos escritos, porque só a
partir daqui é que as sociedades passam a ter “memória”.
A escrita surge a partir de simples desenhos de ideogramas (caracteres
que simbolizam um objecto ou uma ideia). Por exemplo, o desenho de um
javali representaria um javali ou a ideia de caça. A partir daí os
símbolos vão-se tornando mais abstractos, terminando por evoluir em
símbolos sem aparente relação aos caracteres originais.
O homem pré-histórico procura comunicar através de desenhos, sendo
conhecidos hoje alguns em paredes de cavernas, etc. Através deste tipo
de representação (pintura rupestre), eram trocadas mensagens,
passavam-se ideias e transmitiam-se desejos e necessidades. No entanto,
estas pinturas ainda não eram nenhum tipo de escrita, pois não havia
organização, nem mesmo padronização das representações gráficas.
É na antiga Mesopotâmia que a escrita nos aparece pela primeira vez, por
volta de 4000 a.C., onde os Sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme
(onde cada sinal representava uma sílaba). Eram gravadas figuras sobre
tábuas de argila utilizando-se de estilete. Muito do que sabemos hoje
sobre este período da história, devemos ás placas de argila com registos
diários, administrativos, económicos e políticos da época.
No Antigo Egipto, também a escrita aparece quase na mesma época que no
caso Sumério. Eram praticadas duas formas de escrita: a demótica (mais
simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e
símbolos). Os hieróglifos egípcios figuravam uma ideia ou uma sílaba. As
paredes internas das pirâmides eram decoradas com hieróglifos sobre a
vida do faraó, mensagens do quotidiano, etc. Para usos mais mundanos, o
papiro – fibra produzida. a partir de uma planta com mesmo nome, era o
suporte privilegiado.
Com as civilizações Grega e Romana surge um novo um sistema de escrita
modificado pelos gregos, mas originalmente criado pelos fenícios. A
partir daqui desenvolve-se a escrita de trabalhos de filosofia,
dramaturgia e poesia, assim como a sistematização da história, das artes
plásticas, da arquitectura e das narrativas mitológicas, que se tornam
um dos pilares destas civilizações. “A Odisseia” e a “Ilíada” de Homero,
os pensamentos de Sócrates, Platão, Aristóteles e muitos outros, só
chegaram a nós graças à escrita e ao valor que estas civilizações davam
à cultura e memória colectiva.
Na Roma Antiga, o alfabeto era somente composto por letras maiúsculas.
Nesta época encontramos escrita em pergaminho (pele de cabra ou outro
animal devidamente tratada) com o auxílio de hastes de bambu ou penas de
aves. Também o estilo da escrita sofre modificações, criando-se um novo
estilo de escrita denominada uncial - letras de grandes dimensões, e de
uma escrita mais pequena, derivada da precedente e empregada nos textos
eclesiásticos, como Bíblias e Códices. Este novo estilo resistiu até o
século VIII.
Na Alta Idade Média, nomeadamente no século VIII, é elaborado um novo
estilo de alfabeto, a pedido pelo Imperador Carlos Magno. Esta forma de
escrita passa também por várias modificações, tornando-se muito complexa
para a leitura. Assim, no século XV, é criado um novo estilo de escrita
e no século seguinte é publicado o primeiro caderno de caligrafia pela
mão de Lodovico Arrighi, responsável pelo estilo de escrita a que hoje
chamamos itálico.
É muito claro, hoje para nós, a importância da escrita, nomeadamente, no
que respeita ao armazenamento de documentos que hoje nos permitem saber
mais sobre a nossa história e a nossa evolução.
Se podemos definir a escrita como o processo de registar caracteres para
formação de palavras, não nos podemos esquecer do seu papel social, que
tem como acção última a comunicação entre as sociedades. A utilização da
escrita acarreta uma nova perspectiva espacio-temporal, onde não se
atende mais ao tempo mítico, mas sim, a um tempo histórico. A escrita
possibilitou materializar o conhecimento, criando um novo rumo para a
humanidade, novas perspectivas.
A importância da escrita para a história e para a conservação de
registos advém do facto de que estes permitem o armazenamento e a
propagação de informação, não só entre indivíduos mas também em amplas
sociedades e gerações. A Invenção da Escrita é de facto, uma verdadeira
revolução, que mudou para sempre o rumo e o desenvolvimento da
Humanidade.
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