REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2010 | Número 07

 

O aparecimento e desenvolvimento da escrita é uma das características das Sociedades Humanas onde já exista um verdadeiro sistema de redistribuição administrada. Por outras palavras , os primeiros registos conhecidos eram na realidade listas de armazenagem de produtos. No entanto, desde cedo que este sistema de escrita foi utilizado no registo de mitos, lendas e poesias assim como na administração. Neste sentido os arquivos constituem desde sempre a memória das instituições e das pessoas, e existem desde que o Homem fixou por escrito as suas relações como ser social.

Sendo a escrita a representação do pensamento em caracteres convencionais, o homem começa por traçar desenhos mágicos, e deles acaba por se servir como meio de comunicação. A escrita é pois, o processo de registo de caracteres através de um meio (carvão, cera, ocre, etc.) , com a intenção de formar signos e representações com valor fonético, ou seja a linguagem precede a escrita. A invenção e aparecimento da escrita condicionou de tal forma a humanidade, que esta tomou consciência de era necessário conservar os registos para mais tarde poderem ser utilizados - razões pragmáticas essencialmente - registo de vendas e compras, stocks em armazém, etc.

 

 
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Maria Estela Guedes  
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LUÍS REIS

A Invenção da Escrita

Um Novo Rumo para a Humanidade

 

 
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   

Ao longo da História, podemos encontrar estes registos em diferentes suportes, desde as placas de argila, o papiro, o papel, entre outros. Hoje, a variedade de suportes aumentou, o que por sua vez enriqueceu os conteúdos escritos que se tornaram, consequentemente, bastante variados. A linha que divide a pré-história da história é atribuída ao surgimento de registos escritos, porque só a partir daqui é que as sociedades passam a ter “memória”.

A escrita surge a partir de simples desenhos de ideogramas (caracteres que simbolizam um objecto ou uma ideia). Por exemplo, o desenho de um javali representaria um javali ou a ideia de caça. A partir daí os símbolos vão-se tornando mais abstractos, terminando por evoluir em símbolos sem aparente relação aos caracteres originais.

O homem pré-histórico procura comunicar através de desenhos, sendo conhecidos hoje alguns em paredes de cavernas, etc. Através deste tipo de representação (pintura rupestre), eram trocadas mensagens, passavam-se ideias e transmitiam-se desejos e necessidades. No entanto, estas pinturas ainda não eram nenhum tipo de escrita, pois não havia organização, nem mesmo padronização das representações gráficas.

É na antiga Mesopotâmia que a escrita nos aparece pela primeira vez, por volta de 4000 a.C., onde os Sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme (onde cada sinal representava uma sílaba). Eram gravadas figuras sobre tábuas de argila utilizando-se de estilete. Muito do que sabemos hoje sobre este período da história, devemos ás placas de argila com registos diários, administrativos, económicos e políticos da época.

No Antigo Egipto, também a escrita aparece quase na mesma época que no caso Sumério. Eram praticadas duas formas de escrita: a demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). Os hieróglifos egípcios figuravam uma ideia ou uma sílaba. As paredes internas das pirâmides eram decoradas com hieróglifos sobre a vida do faraó, mensagens do quotidiano, etc. Para usos mais mundanos, o papiro – fibra produzida. a partir de uma planta com mesmo nome, era o suporte privilegiado.

Com as civilizações Grega e Romana surge um novo um sistema de escrita modificado pelos gregos, mas originalmente criado pelos fenícios. A partir daqui desenvolve-se a escrita de trabalhos de filosofia, dramaturgia e poesia, assim como a sistematização da história, das artes plásticas, da arquitectura e das narrativas mitológicas, que se tornam um dos pilares destas civilizações. “A Odisseia” e a “Ilíada” de Homero, os pensamentos de Sócrates, Platão, Aristóteles e muitos outros, só chegaram a nós graças à escrita e ao valor que estas civilizações davam à cultura e memória colectiva.

Na Roma Antiga, o alfabeto era somente composto por letras maiúsculas. Nesta época encontramos escrita em pergaminho (pele de cabra ou outro animal devidamente tratada) com o auxílio de hastes de bambu ou penas de aves. Também o estilo da escrita sofre modificações, criando-se um novo estilo de escrita denominada uncial - letras de grandes dimensões, e de uma escrita mais pequena, derivada da precedente e empregada nos textos eclesiásticos, como Bíblias e Códices. Este novo estilo resistiu até o século VIII.

Na Alta Idade Média, nomeadamente no século VIII, é elaborado um novo estilo de alfabeto, a pedido pelo Imperador Carlos Magno. Esta forma de escrita passa também por várias modificações, tornando-se muito complexa para a leitura. Assim, no século XV, é criado um novo estilo de escrita e no século seguinte é publicado o primeiro caderno de caligrafia pela mão de Lodovico Arrighi, responsável pelo estilo de escrita a que hoje chamamos itálico.

É muito claro, hoje para nós, a importância da escrita, nomeadamente, no que respeita ao armazenamento de documentos que hoje nos permitem saber mais sobre a nossa história e a nossa evolução.

Se podemos definir a escrita como o processo de registar caracteres para formação de palavras, não nos podemos esquecer do seu papel social, que tem como acção última a comunicação entre as sociedades. A utilização da escrita acarreta uma nova perspectiva espacio-temporal, onde não se atende mais ao tempo mítico, mas sim, a um tempo histórico. A escrita possibilitou materializar o conhecimento, criando um novo rumo para a humanidade, novas perspectivas.

A importância da escrita para a história e para a conservação de registos advém do facto de que estes permitem o armazenamento e a propagação de informação, não só entre indivíduos mas também em amplas sociedades e gerações. A Invenção da Escrita é de facto, uma verdadeira revolução, que mudou para sempre o rumo e o desenvolvimento da Humanidade.
 

 

 

Luís Reis (Portugal)
Licenciado em História, Ramo Património Cultural -
Pós-Graduação em Ciências Documentais e da Informação – Ramo Arquivos.
Gestor de Contúdos e Co-Editor do Triplo II – O Blog do TriploV

 

 

© Maria Estela Guedes
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