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Neste estado mesmo os factores fomentadores de
desarmonia podem ser reintegrados e purificados. Ao encontrarmos a nossa ipseidade, Deus, a vida, então tornamo-nos a sua
chama, formando um todo: o eu e o tu tornam-se num nós. “Quando dois ou
três se encontram em meu nome lá estou eu no meio deles”. A perspectiva
da parte ao reconhecer-se na perspectiva do todo supera em si as
barreiras da parte.
Doença é desarmonia, é desconhecimento, separação, é
falta de vibração e de relação, é a vela sem chama. As doenças são
gritos da alma à espera dum eco, dum fósforo que a acenda e crie a
união. Este fósforo também pode ser uma esperança, uma oração, uma
pessoa, um acontecimento, que provoque em mim um processo de abertura a
mim mesmo e ao outro. Então a emoção, o sentimento de alegria produzirá
no meu corpo os mesmos efeitos que o Sol provoca na natureza. A
excitação exagerada pode provocar um sentimento de alívio momentâneo tal
como a trovoada ou o furacão que passa; o problema são os estragos que
deixa.
Se a alma sofre o corpo entra em compaixão com ela tornando
fisiologicamente visíveis os sofrimentos interiores e as suas causas.
Quando o sofrimento é grande precisamos dos outros, da comunidade para
nos restabelecermos. Em cada um de nós se encontram mananciais de vida
pura profunda à espera de serem mobilizados em nosso favor e em favor
dos outros. Para isso é preciso olhar e ver também para dentro. A mente
predispõe e a fé espiritual mobiliza o espírito. O pensamento e a fé são
forças que nos transformam. Um pensamento aprofundado na meditação ou na
oração espiritualiza-se.
Muitas moradas abertas e Xamanes esgotam-se ao tentar mobilizar as
próprias forças da mente e do espírito para as transmitirem ao doente. A
força curativa porém já está presente. A própria pessoa deve colocar-se
em segundo plano procurando a harmonia do espírito e abrir-se à
ressonância universal possibilitadora da transmissão da onda curativa.
Não somos nós que curamos, é Deus que em nós cura e salva. Ao entrarmos
numa relação íntima com a criação e com o criador aurimos então da
profundeza do espírito comum, do nós, da força harmonizadora que nos dá
acesso à fonte da santidade que possibilita a cura. A confiança no
médico, no padre, no acompanhante e a atmosfera espiritual preparam o
espírito do paciente para o circundar da energia curativa. Também a
sugestão pode mobilizar as energias mais salutares desde que o paciente
colabore e assim possibilite uma continuidade no processo de cura. “Não
peques mais” e não deixes os outros pecar em ti! A esperança acompanhada
dum espírito desanuviado é o melhor desinfectante, o melhor purgativo
para o corpo e para a alma. Quem crê não está só!
Na ordem física o gelo exposto ao calor modifica-se. Também na ordem
espiritual o contacto com o brilho do sol, escondido no nosso mais
íntimo, possibilita a mudança de nós mesmos e o desatar dos nós que
impedem o fluxo harmónico da energia vital universal. Tudo isto acontece
sem esforço, para lá das nossas verdades, estereótipos e do nosso
querer. Lá onde o eu descobre o nós trinitário, onde o nosso ser reza
“tu e eu somos um”. Aí se estabelece o processo de cura e de salvação e
se reconhece no Sol a força que dá energia a todo o ser e se vê, na
sombra e na dor, apenas a ausência da luz.
O esvair do sol da tarde traz consigo o frio e a escuridão que nos
impede de ver. O Sol da razão, por vezes é tão forte que nos impede de
ver aquilo que mais de imediato nos rodeia. Também o sentimento chega a
ser tão forte que impede de ver as coisas mais claras. A toupeira, que
não sabe nada da luz, apenas sente o frio ou a escuridão da terra!... O
ser aberto é guiado pelo coração iluminado, pela intuição. A cura
pressupõe entrar no processo trinitário imbuindo o espírito e o corpo.
Também o sacramento dos enfermos terá que ter em conta as duas
componentes, tal como era praxe nos primeiros cristãos. Para isso será
necessária a força da ilusão e das ideias para entrar na força do
espírito, para lá do espaço e do tempo. A verdade é que cura. Não há
explicações físicas da medicina para o placebo, além dos problemas de
explicação para o efeito da homeopatia além dos problemas da dor criada
e da dor querida. A fé, imbuída numa atitude de esperança, influencia o
processo da cura. Luc 18, 42:”A tua fé te salvou”. O efeito “nocebo”
também produz o contrário da cura, uma fé negativa, ou a desesperança.
Naturalmente que seria perigoso tentar explicar o mal, ou a doença duma
forma mono-causal ou com uma solução simplicista. Cada um acarreta não
só com a responsabilidade própria mas também com a da espécie. É
importante fortalecer-se o espírito para que o infecto não se alije na
mente. A fé não pode ser tomada apenas como medicamento. Trata-se de não
se deixar subjugar pelas ideias negativas (ideias micróbios), pela
inércia, pela mediação nem pelo medo. O cérebro domina o corpo e
condiciona o espírito. A cura depende duma observação exacta do estado e
consciência da pessoa englobando as suas circunstâncias corporais,
mentais, espirituais e sociais. A irradiação do curandeiro pode ajudar a
acordar a fé curativa, a mover as energias positivas. A cura depende
duma observação exacta do estado e consciência da pessoa, onde se
encontra a doença e os sintomas. O mediador terá de estar preparado para
corresponder à consciência e deixar-se conduzir pelo espírito que
intuitivamente agirá.
Os sistemas encobrem a verdade materializando-a. A verdade é como a luz
do amanhecer que vai arrumando a treva, a escuridão. Esta vê-se na dor,
na falsidade, no sofrimento, na miséria.
Na oração o orador procura a verdade viva numa tentativa de afastar da
realidade o manto da ausência de Deus, manto esse que, por vezes,
encobre as coisas.
No processo da cura é fundamental a criação dum estado de espírito
aberto ao espiritual, latente em tudo e em todos. Não se tratará de usar
dum poder duma pessoa ou instituição mas de se descobrir na comunhão e
em comunidade a força do carinho que nos envolve. Uns falam da força da
fé, outros dum magnetismo ou fluido que no fundo tem tudo a ver com a
influência recíproca de corpo e espírito.
A excitação da faculdade imaginativa, bem como os ritos podem criar uma
predisposição para mover a força do espírito, para a entrega nele. Não
se trata de curar através duma crença mas de se tornar Emanuel. Então
entraremos numa consciência de tudo abençoar, de tudo perdoar. Aí o
fluxo da energia divina, o fluxo do amor envolve-nos, inebria-nos e o
processo curativo e santificador inicia-se. Neste estado, a causa da
doença desaparece. Pressuposto para a cura do corpo é a saúde do
espírito.
As nossas ideias e sentimentos têm a sua quota-parte tanto no
envenenamento do corpo e a alma como na sua purificação. As nossas
ideias são as sombras do espírito pelo que no exercício da cura teremos
que procurar transformá-las para entrar na ressonância com o espírito. O
texto, a letra matam, revelando apenas a sombra da ideia, do espírito.
Numa linguagem um pouco estática poderíamos dizer que a matéria é a
sombra do espírito ou a sua ausência, numa vivência dinâmica diríamos
que o espírito é a outro lado da matéria. Há uma unidade essencial entre
espírito e matéria já reconhecida no mistério da Trindade. Deus é vida,
amor, verdade, corpo, alma e espírito. Na incarnação o Homem enche-se de
Deus.
A moral consciente, o amor ao próximo, a humanidade,
a esperança envolvida são os luzeiros a alumiar o caminho da alma. No
falar se manifestam metáforas do espírito, da realidade. O espírito
pentecostal transforma a palavra em Jesus Cristo. Verdade é
acontecimento. Tal como o sol é o centro no qual se orientam e descansam
todos os seus planetas, também no ser humano o seu centro estabilizador
é a alma, o espírito. Assim se conseguirá ultrapassar os limites do
parecer da matéria e entrar na harmonia do ser, na ressonância do
espírito. Neste sentido terá de ser feito um esforço por integrar a
ciência espiritual com a ciência material, para que a fé material não
destrua a fé espiritual nem vice-versa. Assim como antes da acção está a
ideia, antes do físico está o espírito.
Ao magnetismo do amor que tudo vivifica corresponde o magnetismo da
coesão das coisas que num equilíbrio de força centrípeta e centrífuga dá
coesão às coisas. Só o amor, o espírito subsiste por si e resplandece
energia; o resto é sombra. Com efeito, o espírito alonga a vista e o
horizonte sem negar a matéria, tornando-a apenas transparente. Entrar na
harmonia divina significa actualizar a força, a natureza de Cristo e
nessa tenção curar com o amor divino na procura do verdadeiro ser. O
caminho, a órbita da vida é amor. “Ide por todo o mundo e anunciai a Boa
Nova, curai os doentes e amai o vosso próximo como a vós mesmos”, dizia
o Mestre de Nazaré. Trata-se de clarear o espírito para que este
transforme a natureza.
Precisa-se duma cultura sã imbuída do amor que, como o fogo, transforma
mesmo o ferro mais duro. Onde não há amor domina a violência ou a
entropia. Até a hormona amígdala premeia o hábito mesmo que este seja
doloroso. Toda a fixação é contra a vida: o físico quer satisfação e a
alma aspira a perfeição. Habituados ao ser da noite apreendida como
sendo a realidade, já não notamos a ausência da luz. A noite é apenas a
ausência de luz. O espírito terá de prevalecer sobre o corpo porque pelo
espírito é que tomamos parte na eternidade. “Já não sou eu que vivo é
Deus que vive em mim”, constatava Paulo. Saúde é Harmonia Saúde resulta da harmonia entre espírito e corpo. A
fé e a ciência complementam-se na sua tarefa de mobilizar a energia
curativa da natureza. Se a ciência procura o sentido e as leis do mundo
exterior, a fé procura sondar o sentido do interior do mesmo mundo e a
relação entre eles. São duas perspectivas complementares da mesma
Realidade. Há uma coerência entre os mundos, físico, moral, psicológico,
fisiológico e espiritual. Criador e criado formam uma relação de destino
comum. O criador é a força actuante da criação em relação íntima. Tudo
se encontra em comum e a caminho.
Na descoberta da fonte divina no nosso mais íntimo, as fronteiras de nós
mesmos passam a transcender o espaço e o tempo. Deixamos de ser o
espectador à beira-mar, para, do sentir do seu marulhar, passarmos a ser
a própria água, a essência. O que resta é ritmo e ressonância. Na minha
respiração reconheço então o ritmo do vaivém das ondas e das marés…
Desta perspectiva o espírito passa a ter o domínio sobre os elementos,
transfigurando-os mesmo. Ao reconhecer-me mar, o murmúrio das ondas já
não me mete medo nem a sua infinidade me angustia. O que fica é a
essência da água. Assim descubro a minha energia, o espírito divino que
tudo enche e que reconheço também na neblina matinal, nas nuvens mais
leves ou mais carregadas. Então a energia-vital assoma ao meu corpo
tornando-se todo o universo numa orquestra cuja melodia ressoa em todo o
meu ser, tal como o marulhar do mar. Aí, mesmo os acordes desafinados se
tornam parte integrante da melodia universal.
A energia positiva tal como a negativa é contagiosa. Se nos ficamos
apenas pelo âmbito dos fenómenos, a realidade continuará a parecer
contraditória: dum lado a terra do outro o mar, dum lado a matéria, do
outro o espírito. O problema geralmente está na nossa cabeça, no mundo
da ideia. Esta pode ser o princípio do problema ou o princípio da sua
solução. Se não fosse a ideia do bem quem suportaria a vida? Aquela
predispõe-nos para uma compreensão participativa das leis que nos
governam e regem o universo. Tudo é energia em relação, tudo é espírito,
tudo se reduz à realidade trinitária! Trata-se de superar o diálogo para
entrarmos no triálogo…
Tudo se influencia num relacionamento mais ou menos materializado
semelhante às forças que regulam os astros. A Lua na sua inocência
distante influencia as marés e mesmo o sucesso das sementeiras, tal como
a donzela atrai o jovem na sua graciosidade, tudo gerando à volta do
Sol, do Espírito, na força do amor.
Assim como uma ventania arrasta o negrume das nuvens que encobre o Sol
assim os problemas podem encobrir o brilho do nosso espírito a ponto da
nossa alma ficar só na escuridão. O que se dá no macrocosmo acontece no
microcosmo. O que se dá no espírito reflecte-se no corpo e vice-versa. A
experiência revela-nos que um espírito bom, um simples abraço, uma
palavra, um olhar, um sorriso podem provocar alterações fisiológicas
positivas inconcebíveis em cada um de nós.
A própria imaginação da saúde já é suficiente para movimentar em nós as
energias curativas jacentes. A abertura ao divino, à ipseidade
desbloqueia as forças do espírito. Ao reconhecer que Deus me é mais
íntimo que eu mesmo entrarei na sua unidade, reconhecendo-me como
espírito. “Eu e o Pai somos um”. Do âmago do meu ser jorra então o
espírito por todos os poros do meu ser: o alvorecer do espírito em mim
alumia e vivifica toda a paisagem do meu corpo e os meus horizontes.
Deus não pôde impedir a doença mas pode dar-nos novas capacidades,
dar-nos força para a aguentar ou mesmo sarar ou mudar estilo de vida.
Mesmo quando todas as luzes cá fora se apagam, no meu íntimo resta a
minha luz, a luz divina que tudo iluminará. A força do amor é a força
que nos alimenta e nos alumia o caminho. O deus demiurgo só cria, o
nosso Deus também ama. Este amor foi-nos transmitido para podermos
interferir no processo da criação.
Não se trata de merecer ou de ser ouvido nem de se fixar na ideia duma
oração mas de estar predisposto e aberto. De facto não se sabe porque é
que uns se curam e outros não. Importante é abrir-nos para possibilitar
em nós as potencialidades que a natureza traz em si mesma. Para isso
procuremos mobilizar a nossa intuição e a nossa razão no sentido de
alcançar a saúde. A união com Deus tornar-nos-á fortes activando a força
da vontade para agirmos no sentido da cura. O sentido da meditação ou
oração é possibilitar o contacto com a natureza e com o próximo.
Então recolho-me no silêncio do meu quarto, entro dentro de mim mesmo
para dar lugar à harmonia, num exercício de eutonia, ouvindo música, o
silêncio, ou o respirar do universo. O processo de alívio e cura
realiza-se na harmonia do meu expirar e inspirar. A paz invade-me ao
sentir a plenitude do ser. Ao poder do espírito nada resiste. Neste
ambiente é-me mais fácil reconhecer as causas da minha doença. Ao
centrar o espírito sobre a minha sombra, sobre a parte dolorosa, a
sombra e a dor, esvai-se donde se tinha aninhado. O espírito divino
manifesta-se como a brisa primaveril que dá vida às flores do campo e
estimula o chilreio dos passarinhos. O mesmo acontece na relva do meu
ser então agraciado com o sol do Espírito. Então acordo rejuvenescido na
consciência de que a vida precisa de mim. Reconheço que as plantas ao
sol vivem mais, são mais saudáveis. O sol dá-lhes saúde e motiva o
sentido. O sol do meu espírito inebria-me de tal modo que em toda a
minha paisagem reconheço o Sol que me vivifica. Então um sentimento de
segurança surge na minha alma e a impressão de ser necessário prolonga a
minha vida na consciência do seu sentido.
As condições da nossa vida, as intempéries corporais ou psicológicas têm
a sua causa no nosso espírito e no seu modo de se relacionar com as
coisas. Do olhar e da nossa atitude de alma dependerá o tempo, o clima
da paisagem, a nossa maneira de ser e de estar. Se o meu olhar é puro, a
paisagem humana à minha volta não perturbará o meu humor. De facto,
quando estou mal-humorado vejo o mundo turvo e transmito a minha
agressão ao outro que inconscientemente se encontra com ela e não comigo
mesmo, e vice-versa. Geralmente vivemos no desencontro de nós mesmos, no
desencontro com os outros e com o mundo. Em vez de nos encontrarmos com
o outro, encontramo-nos com a sua sombra. O problema não está na aranha
mas no medo que se tem dela, na própria projecção! Lamentamos o sombrio
rosto do vizinho, sem notarmos que ele se encontra sob a nossa sombra.
O medo e a insatisfação são como um íman que atrai as coisas mobilizando
as forças negativas. Em vez do medo é preciso dar espaço à coragem, à
confiança, à energia positiva que oportunamente se mobilizará. De facto
o medo, o olhar desconfiado predispõe e paralisa. O medo e a excitação
desviam-nos da Realidade e roubam-nos energias impedindo o fluxo da
vida. Para que as ideias se tornem forças positivas pressupõe-se a
iniciativa da vontade. Se procurarmos o bem, encontraremos o bem, se
procurarmos o mal encontraremos o mal. Não podemos transformar-nos em
caixote do lixo dos nossos queixumes nem tão-pouco no caixote do lixo
dos outros. Trata-se de abrir as cortinas do nosso espaço e do espaço
dos outros para que o sol entre. Então surgirá a brisa da inocência, da
bondade e do amor que tudo quer abordar e inebriar. Então o vento das
preocupações e dos desejos amainarão. “Olhem os passarinhos do campo…”.
Eles seguem a ordem das coisas sem as complicarem com pensamentos ou
emoções. Senão vejamo-nos ao espelho ou olhemos para a pessoa amada. O
amor e a paz tornam-nos mais belos! O mesmo se verifica na harmonia do
rosto das crianças ou no seu olhar, no trato do dia a dia ou quando lhes
damos o “bom dia” inesperado ao passar por elas. Quando o nosso amigo
nos fala das suas mazelas porque as fortalecemos acrescentando-lhes as
nossas? Se um Cristo abandonado me encontra, talvez eu possa ser nesse
momento a sua oportunidade, a sua outra parte, o Cristo ressuscitado. Se
me conheço na totalidade, e se conheço o mundo só me resta perdoar e
abençoar no amor…
Antes de nós está a ideia. Ela vem do espírito que é o fundamento de
tudo. A ideia é com um magnete que conduz à acção. Se mantivermos a
mente jovem o corpo manter-se-á jovem. Quem trabalha com crianças
facilmente notará que estas se entusiasmam pelo educador
independentemente da idade ou da aparência física deste. Condição é
manter-se um espírito alegre, puro e aberto. Num ambiente
despretensioso, dá-se então uma osmose, uma troca de vitalidade entre
corpo e alma, entre as pessoas em relação.
A companhia de pessoas soalheiras, descomplicadas e optimistas
favorecerá a fluência da energia positiva nas nossas veias e nos nossos
nervos. Principalmente nos momentos em que nos sentimos mais fracos. As
plantas não gostam da sombra; na sombra não se desenvolve a alma nem o
espírito. Para tratarmos o corpo temos que começar pelo espírito. Na
descoberta do sentido seremos o médico preventivo de nós mesmos. Então o
nosso biótopo será mais harmonioso e nele raiará o sol e os passarinhos
virão beber e espraiar-se na nossa fonte.
As más ideias, a fixação na doença ou na morte é como um vírus
contagioso que infecta o corpo e a alma. A nível psicológico, no
relacionamento com pessoas, certamente que cada um de nós já fez a
experiência pela positiva e pela negativa. Se a pessoa é negativa e só
fala de problemas, de doenças, da maldade dos vizinhos, o nosso espírito
turva-se e vamos carregados e sombrios para casa. Pelo contrário se
estávamos tristes e tivemos a dita de encontrar uma pessoa positiva,
vamos mais aliviados para casa. O mesmo acontece na relação corpo
espírito. Se o nosso espírito é pessimista e negativo, o nosso corpo
inibe-se favorecendo o aparecimento dum sintoma corporal ou espiritual
correspondente.
Naturalmente que também há males corporais que influenciam o espírito e
acabrunham a nossa alma. No caso de doenças hereditárias a questão
complica-se, mas também aí o espírito pode vir a dominar o corpo, ou
pelo menos a activar os mecanismos de defesa fortalecendo o sistema
imune. Não é empresa fácil a reparação de defeitos na malha das células
e dos cromossomas. Aí precisa-se de muita força e também da ajuda
exterior para se não tropeçar e não se tornar vítima. O espírito está
por detrás de toda a mutação. O próprio tubérculo no recanto mais escuro
dirige o seu embrião na procura do sol. A mais frágil semente chega a
romper a dureza do alcatrão para avistar a luz do sol. Nós, pelas mais
crustas da doença ou da desgraça que tenhamos em nós, conseguiremos
descobrir o sentido da vida, o sentido do espírito, se nos abrirmos a
ele.
É importante fortalecer o sistema imune interior. Se quero ver o Sol
deixo de olhar para a sombra. Esta apenas pode ser um momento curto que
me dá a oportunidade de descobrir a direcção do sol, que se encontra na
direcção contrária. O mal, o ódio, a vingança, a doença, os maus
pensamentos, o pessimismo, o desânimo, a inveja são zonas húmidas e
sombrias propensas a todas as doenças parasitas do espírito e da vida.
Muitas vezes andamos encandeados pela vida sendo puxados por ela como um
cão pelo seu dono. A necessidade, uma desgraça, tem, por vezes, o
sentido de nos acordar para nós mesmos e de nos predispor para mudarmos
o estilo de vida. Com as coisas que trazemos na cabeça e com a rotina
perdemos a vida. Ninguém é culpado disto ou daquilo.
Tanto tu como eu, temos uma natureza comum, somos filhos da divindade!
Participamos activamente da divindade do Pai e do Filho através do
Espírito em nós presente. O Espírito, o Sol está em nós mesmos. Cada
acto de esperança e de confiança é uma abertura ao raio de sol a passar
pelo ramalhal da tristeza e do desânimo. As virtudes maiores são a ‘fé’,
a ‘esperança’ e a caridade: a harmonia no amor; aquelas preparam esta. A
melhor medicina é o espírito que nos conduz ao amor. “Em Deus tudo é
possível”. A doença pode ser uma ponte para nós mesmos, para os outros,
para Deus em tudo e em todos.
Meditação e Respiração
Respiração na Tradição Ocidental „No princípio Deus criou os céus e a
terra… e o Espírito de Deus movia-se sobre o semblante das águas” (gen
1,1). O respirar de Deus, a força da vida ( a “ruach”= vento,
tempestade, o respirar da vida) penetra então todo o ser. A Ruach é o
oxigénio espiritual que a tudo dá ânimo. A criação processa-se,
desenvolve-se respirando o Espírito Santo.
A cadeia dos metabolismos
da respiração interfere na regulação do ritmo pulmonar, cardíaco, tensão
arterial, estado psico-somático até ao limiar do Espírito. O ritmo da
inspiração e expiração ao provocar movimento abdominal e torácico num
movimento de contracção e extensão concentra-nos no corpo e provoca uma
abertura geral. Tudo se move, tudo se relaciona. Todo o universo
macroscópico e microscópico, material e espiritual, participam do mesmo
respirar, da força divina (Ruach).
A vida de Adão começou com o sopro, o hálito de Deus nas suas narinas.
Se nos concentrarmos, sentimos segredar do seu sopro no respirar do
nosso ser, no marejar do mar, no ciciar da brisa do céu.
A frequência rítmica reduzida de pulmões, coração e cérebro, ajuda-nos a
entrar na ressonância universal, na frequência da Ruach (Espírito,
sopro). O universo tal como a nossa corporeidade segue o seu ritmo mesmo
a nível inconsciente tal como acontece com a respiração na sua qualidade
de parte do sistema vegetativo nervoso. Neste processo experimentamos a
satisfação de embarcarmos com ele e assim possibilitarmos uma mudança no
nosso corpo e na nossa alma. Pela meditação procura-se tornar consciente
e presente estes diferentes impulsos.
Pela respiração o dentro e o fora, a vida toda, encontram-se em
equilíbrio. Também a respiração abdominal é mais saudável para o corpo e
alma. Ela une a parte superior à parte inferior, o cérebro – coração ao
abdómen. Na inspiração poderemos ver o acto do pensamento e na expiração
o acto do sentimento. Um e outro formam uma unidade perfeita, tornando a
matéria e o Espírito compatíveis. Se, em relaxe, nos concentramos na
inspiração e expiração seguindo apenas o seu ritmo, sem em nada pensar,
então, passado algum tempo, o mundo todo passa a respirar em nós, movido
pelo mesmo espírito, que pode ser sentido como amor corrente. Na
respiração sentimos corporalmente o efeito do ar e talvez
espiritualmente o efeito da acção do Espírito Santo.
Se num lugar calmo nos concentrarmos na respiração facilmente tomamos
uma percepção agradável do nosso corpo e com o tempo experimentamos a
paz do Espírito em nós. O Espírito, a força criadora divina,
revitaliza-nos até aos poros mais íntimos do nosso corpo e da nossa
alma. Leva-nos a sintonizar com o universo, com o espírito, tornando-nos
parte do todo.
“O meu povo jamais será confundido… acontecerá que derramarei o meu
Espírito sobre toda a carne: os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão; os vossos anciãos terão sonhos, e os vossos jovens terão
visões, derramarei o meu espírito sobre os escravos e as escravas”(Jo
3,1-2). A força do espírito é de tal ordem que inebria de energia
libertadora todo o homem e toda a mulher acabando com as aquisições e
valorizações da carne, para a espiritualizar.
Irrompe o Pentecostes, o tempo da verdadeira comunidade. No momento da
dificuldade o Espírito do Senhor desce sobre nós possibilitando o
amanhecer do Pentecostes em nós. Neste momento indivíduo e comunidade
tornam-se num só coração, criador e criação tornam-se solidários. Aqui
acontece o Reino de Deus, a democracia espiritual. “Quem não nascer da
água e do espírito não poderá entrar no Reino de Deus… O vento sopra
onde quer; ouves a sua voz, mas não sabes onde vem, nem para onde vai.
Assim é todo o que nasceu do Espírito”(Jo 3, 5 s). O homem velho que
vivia na sombra do mal descobre a luz que ao inebriá-lo o torna novo, e
então a faúlha do amor torna-o novo, tal como o fogo que enrubesce do
carvão e do ferro mais negros na forja..
A água lava-nos e o Espírito transforma-nos porque vem de Deus. Cheios
do espírito estamos preparados para dar à luz e repetir o acto de Maria
no presépio. O espírito mãe em nós desperta a fertilidade e provoca o
novo nascimento. Dele surge uma mentalidade nova, um espírito de
compreensão diferente do mundano. “O consolador, o Espírito Santo que o
Pai enviará em meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos
recordará tudo o que vos tenho dito”(Jo 14, 26). O espírito novo, o amor
leva a superar a incompreensão das diferentes línguas e culturas. Agora
surge o tempo da inspiração que ajuda a superar as fórmulas rígidas das
culturas permitindo ver o que as sustém. O espírito jorra em nós, já não
somos escravos mas senhores, de estirpe divina. Em nós há muitos dons do
espírito escondidos. O barulho da vida e a voz das leis e dos senhores
do mundo é tão alto que não deixa perceber mais nada. Se queremos sair
do turbilhão no labirinto da vida teremos de parar e aprender, de novo,
a ser. “Eu sou o caminho a verdade e a vida.”
Já na Idade Média havia a tendência para mediante técnicas de respiração
se facilitar o alcance do estado da profecia. O conhecimento de Deus não
se pode alcançar através da especulação mas através do “coração” (lugar
da vida divina, entre coração e cérebro), à sombra das ideias, ajudado
pelas técnicas religiosas – místicas em ligação com a fala e a
respiração. Na sabedoria asiática e na mística cristã a acção do
espírito acontece no confluir e jorrar comum de emoção e razão, no
confluir da matéria e do espírito, do Jesus e do Cristo.
O canto gregoriano dos conventos, e das igrejas, os encontros de Taizé
onde se cantam cânones repetidos e vocalizados, unidos à respiração
conduzem à ressonância corporal e espiritual, à vibração universal, ao
limiar do espírito e da matéria.
Na palavra aleluia ou no vocativo “oh Aleluia”, encontram-se
propriamente todas as vogais que constituem os mais diversos acordes do
nosso ser e os sons do universo. A vibração surge do nosso centro para
se espalhar em todas as direcções. Os diferentes tons, cantados no ritmo
da respiração, provocam a abertura global. O espírito de Deus sopra
vibrando na palavra. Do fundo do coração ressoa a essência da nossa alma
na vibração do “tudo em todos” de que falam João e Paulo. Os pólos do
corpo e da alma, do espírito e da matéria, do céu e do universo unem-se
para deixar lugar apenas à ressonância amorosa.
O nosso coração torna-se no centro do universo, passa a existir só a
relação, a relação trinitária no substrato do amor. “Já não sou eu que
vivo, é Cristo que vive em mim”. Agora tornado na natureza Jesus Cristo,
o Céu e a Terra abraçam-se, como o esposo e a esposa na consciência duma
nova realidade, a realidade trinitária do um em três, do eu no nós. A
linha horizontal e a linha vertical tocam-se tal como o espaço e o
tempo.
O nosso corpo na forma de cruz abraça toda a humanidade, todo universo.
Se na inspiração o universo, Deus, nos abraça, na expiração abraçamos
nós Deus, o universo. No amor ágape fraterno universal, sentimo-nos como
um invólucro (1 Cor 3,16), uma taça, um sino no qual o ressoar se torna
toda a presença.
O movimento da respiração pode então também ser dançado e expresso nos
mais diferentes gestos. Fora e dentro, espírito e matéria estão em
relação vital como sombra da realidade trinitária. O amor passa a ser o
ar que se respira; o espírito que tudo une leva-nos ao mais profundo do
nosso ser, do ser universal, da divindade em nós (Rom 5,5). Também no
respirar podemos sentir o eco da voz de Deus. Na intimidade desta oração
se unem poetas, músicos e religiosos, crentes e não crentes na vibração
comum do amor, do Espírito Santo. A nossa humanidade depende do fluxo do
amor em nós presente.
A técnica da meditação predispõe-nos para o actuar e agir do Espírito em
nós. Ajuda-nos a encontrar outros acessos à Realidade para lá do acesso
racional teológico mas sem o excluir. A ânsia da relação, e a procura do
sentido manifesta-se na palavra tipicamente portuguesa “saudade” que
exprime o profundo espírito poético e religioso da solidariedade
existencial e mística. Ela é o lugar da casa paterna, da realização. No
inspirar está o movimento para a vida, no expirar o movimento para a
morte.
Na respiração unida ao próximo acontecem massagens de reanimação. O amor
expresso na Ruach é presencializado (Jo 14,15-21) pelo nosso respirar no
amor (Jo 15, 9-17). Deus está-nos mais próximo que o nosso próprio
respirar, dizia também Agostinho.
A natureza está sempre presente nos momentos mais significativos da
presença de Deus: no Arco-Iris, na trovoada, na volta de Jesus como
faísca ou raio (Lc10,18; 17,24), na abertura do céu no baptismo (Mc
1,10), no tremer da terra na sua morte (Mt 27,51).
As metáforas dos sentidos apontam para uma realidade mais profunda. Na
solidariedade cristã universal aí se experimenta o mundo como o “meio
divino” como tão bem soube formular Teilhard de Chardin. Em Cristo
tornamo-nos tudo em todos como tudo se transforma em Jesus Cristo,
reconciliando-se nele a Matéria e o Espírito. Nele, o aqui e agora, têm
sentido, sendo assim o optimismo um característico do espírito cristão.
Meditação Mariana
A Ciência confirma Efeitos curativos das Rezas As áreas científicas da medicina, da
teologia, da sociologia e da psicologia cada vez se complementam e
interferem mais. A ciência através de investigações feitas na
universidade de Pádua, pelo cientista Luciano Bernardi, descobriu
experimentalmente que a forma meditativa e rítmica da reza do Terço
alternada sintoniza os ritmos biológicos do corpo, cria harmonia e
estabiliza a saúde da pessoa. A recitação da Ave-Maria assim como de
jaculatórias meditativas (mantras) e de ladainhas provoca
fisiologicamente o retardamento da frequência respiratória fortalecendo
assim o coração e os pulmões. Os fôlegos (inspiração – expiração) do
adulto têm uma frequência de 12 a 20 por minuto. Verificou-se que
durante a reza alternada da Ave-maria a frequência respiratória chega a
baixar a seis fôlegos por minuto. A baixa frequência respiratória
conduz-nos à sintonia orgânica do corpo através da influência da
frequência cardíaca da regulação da tensão arterial e da ressonância com
o universo na participação do espírito.
É de registar que em diferentes culturas as palavras, respiração,
atmosfera, ambiente, se encontram etimologicamente interrelacionadas.
O medo, a ansiedade, a depressão, o stress, a excitação aceleram o ritmo
da respiração e com ela perturba-se o ritmo cardíaco e a tensão. A
interferência na actividade respiratória provoca a regulação do
metabolismo da ligação do oxigénio e dióxido carbónico no sangue,
mudando-se assim, com ela, a química do sangue.
A técnica da respiração, usada também na reza do terço, une a parte
superior do coração – razão com o abdómen, criando assim uma frequência
de vibração dos órgãos, na sintonia e interacção da matéria e do
espírito. No recolhimento, o medo e o sentimento de impotência dão lugar
à mudança surgindo o sentimento de satisfação e realização.
Meditação da Reza do Terço
A Reza do Terço em grupo e em privado
desvia-nos do ritmo do dia a dia introduzindo a pessoa numa frequência
ritmada que possibilita, através da respiração abdominal e da
concentração, o acesso à vida interior e ao equilíbrio psicossomático.
Para o efeito entram em sintonia: coração, cérebro, pulmões e
consequentemente o espírito. Através da respiração consciente, no
abdómen, no peito, nos ombros sentem a tensão e distensão do inspirar e
expirar unido ao coração e ao sentimento espontâneo. Aqui se interfere a
acção do corpo e do espírito em colaboração e interferência mútua. Assim
se contribui para o equilíbrio da vida. Se alguma parte do nosso corpo
está dolorosa podemos, através do pensamento dirigir para lá a
respiração para que também esta parte seja, de forma dirigida, incluída
no jorro da vida, no amor.
O saber religioso de que a respiração unida à palavra conduz à unidade
no sentido original da religião: re-ligar, é um património de toda a
humanidade. A consequente paz interior é um efeito acessório. A reza do
terço, no sentido católico, não se deixa reduzir a um método de higiene
corporal e mental. As diferentes técnicas das diversas culturas, porém,
sem o espírito de entrega, e sem a diferenciação dos espíritos, poderiam
ficar apenas por uma experiência sentimentalista equívoca (1 Cor 19).
Curioso é o facto da recitação do terço, na igreja católica, ser
conduzida, por todo o lado, por dois grupos, de maneira alternada,
correspondentes à inspiração e à expiração. Enquanto o padre, o
dirigente ou um grupo recita, dum folgo, “Ave-maria, cheia de graça, o
Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o
fruto do vosso ventre, Jesus”, o grupo responde “Santa Maria, Mãe de
Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen.“
Também, na reza individual, a primeira parte corresponde à expiração e a
segunda à inspiração.
A reza sintoniza as forças através da respiração ritmada que une o
exterior ao interior e fomenta o ritmo cardíaco natural e a concentração
da inteligência, resultando daí o bem-estar que predispõe a pessoa para
a recepção de mensagens religiosas, para a percepção intuitiva, para a
entrada em contemplação.
Na devoção popular, além da recitação do Terço são métodos comuns de
acesso à contemplação o uso da repetição de palavras, frases em voz
alta, em voz baixa ou simplesmente em pensamento. Cada pessoa, segundo o
seu estado e mentalidade, encontra inconscientemente a palavra,
jaculatória que melhor lhe corresponde. Na pastoral juvenil usa-se
também o canto no passeio, a observação do pôr / nascer do sol, da
natureza, juntando-lhe o elevar das mãos como formas de acesso ao
mistério.
Em oração inspiro o sol da vida e expiro o descanso da noite. Então o
mundo respira em mim e eu respiro o mundo. Nesta atmosfera fomenta-se o
acontecer da harmonia da “mens sana in corpore sano.”
No cristianismo há diferentes espiritualidades, geralmente ligadas a
tradições monásticas ou a congregações religiosas, praticando-se aí as
mais diversas formas de meditação, geralmente também aferidas ao
meditante / orador. Nos ortodoxos está muito generalizada a prática da
concentração no coração e de na inspiração dizerem “senhor Jesus Cristo”
e na expiração “tem compaixão de nós”. No cristianismo, em geral, além
de jaculatórias mais ou menos individualizadas é frequente o uso da
palavra “Jesus” na inspiração e da palavra “Cristo” na expiração. Cada
circunstancia pode solicitar uma palavra comum característica, tal como
podemos verificar a alegria da época pascal na expressão: “Oh, Aleluia”
Na escolha das palavras predilectas, geralmente usa-se a palavra ou
parte mais curta na inspiração e a mais longa na expiração.
Outras formas de meditação praticadas nos conventos são: a meditação
através do andar, dos gestos, do canto monótono, do silêncio, de
ladainhas e de outras palavras surgidas do coração ou da tradição
religiosa, ligadas à respiração.
Uma forma concreta e eficiente de iniciar a oração ou meditação pode
ser: concentração na respiração abdominal, para na percepção do corpo se
passar depois à palavra. Posso começar pela jaculatória, ou mantra “Oh
tu (ao inspirar), Maria (ao expirar) ” para assim entrar na sintonia
psicossomática e espiritual. Aqui se unem corpo e espírito a caminho do
meu centro. Passo a ensimesmar-me de modo a sentir o jorro da energia
universal, o amor, em mim e assim tornar-me parte vibrante dum todo em
relação mútua.
Uma outra jaculatória pode ser “Respira em mim, tu Espírito Santo”. Com
o tempo podemos nós passar a respirar nele. Uma pessoa não religiosa
poderá usar, entre outras, a fórmula “Respira em mim, tu elan vital”.
A repetição individual, como a reza alternada em grupo, com o
correspondente eco monótono criam o ambiente propício à dissolução das
ideias e emoções do dia a dia. A ligação da palavra à respiração
abdominal e ocasionalmente à cantilena daí resultante amplificam a
possibilidade de viver o momento presente. Aí deixo de ser estrangeiro
para fazer parte do Ser todo. O mesmo se diga da oração privada.
A Deus, à ipseidade pode chegar-se também através do vibrar do som (“No
princípio era a palavra”). O ritmo da palavra e da respiração
libertam-nos do pensamento, possibilitando-nos o acesso a outras esferas
da realidade, mesmo à contemplação. Naturalmente que estes métodos não
podem ser fins em si mesmos, doutra maneira não passariam duma forma
sofisticada de atingir experiências semelhantes às da droga.
Trata-se de encontrar a alteridade em relação com a ipseidade, a
divindade em nós e entrar assim na ressonância divina. O Mestre Eckehart
testemunhava esse processo com as seguintes palavras: “ Deus está em
nós, mas nós estamos fora de nós. Deus está em casa em nós, mas nós
estamos no estrangeiro.”
A oração ou meditação poderão constituir um momento gratificante no
processo criação, incarnação e ressurreição em que estamos envolvidos. A
verdade última é a realidade trinitária. |