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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2010 | Número 06
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N´misti durmi
ma Guiné
nha terra
nha mamê
nha dunu
nha kassabi
nha sabura
pidin pan finka udju nel
i kil gora N´na
sintinela ka ta durmi...
Didinho, Sintinela ka ta durmi (1) |
DIREÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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Nova
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Jornal de Poesia |
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MARIA ESTELA GUEDES
GUINÉ-BISSAU
Exotismo e endotismo na
literatura pós-independência (1) |
Maria Estela Guedes |
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1. Dos florilégios lineanos à introdução fatal de
espécies |
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No que ultimamente tenho lido sobre a literatura da
Guiné-Bissau, vem por vezes à tona a questão do exotismo, por duas
razões principais: primeira, o exotismo é um recurso retórico reprovado à
literatura colonial; segunda, decorrente porventura da anterior, nessa
qualidade retórica, ele é
rejeitado pela literatura pós-independência.
O conceito de exotismo aplicado à arte assume enorme
importância semântica e ideológica porque atinge o tchon (nha
tchon: meu chão, minha terra), mas é muito confuso. "Na skinas di Tchon di Papel",
escreve Atchutchi, referindo-se mais restritamente à ilha de Bissau,
terra da etnia Papel (2). Exótico é o estrangeiro por oposição à terra natal, ao local de nascimento,
por isso à pátria, termo aliás oculto atrás da mais frequente
identificação do tchon com a mãe, "nha mamê", no fragmento de
poema de Didinho (Fernando Casimiro) que escolhi para epígrafe. A temática mais forte
da literatura pós-independência é essa mamé, a
terra-mater, dona e amada. Ao contrário da habitual protecção que a mãe
dispensa aos filhos, Didinho fala da mãe como sendo a protegida. Ele bem
queria dormir, mas tem de manter vigília
permanente. Os assaltos do inimigo exigem que fique de sentinela toda a
noite. E é bem provável que os inimigos, neste poeta, sejam filhos da
terra, os bissau-guineenses responsáveis pelo descalabro no país.
Num gesto geograficamente mais
universalista, também Vasco Cabral invoca a terra-mater:
Mãe África!
Vexada
Pisada
Calcada até às lágrimas!
Confia e luta
E um dia a África será nossa! (3)
Exotismo e endotismo constituem um par de termos opostos que na
literatura se carregam muito mais de energia telúrica do que de
ornamentação estética. O que interessa aqui é o meu chão, por oposição
ao teu chão (chão está tão perto de chez: chez toi), a terra do
soldado invasor que veio do Senegal, v.g.. Tomemos o seguinte exemplo de
exotismo em Odete Semedo, na pessoa de soldados estrangeiros, arrogantes
e destruidores:
Esse homem sem cabeça coração na planta dos pés que a todos leva ao sepulcro a sete pés debaixo da terra pisou o meu chão calcou a minha gente não precisava de um pelotão apenas ter ambição nos olhos ódio nas mãos e tocar o bombolon da morte (4)
Em sentido propriamente biogeográfico, o conceito de exotismo, aplicado aos estudos
literários, gera desnorte. Ele não é um carácter distintivo de
dada produção da natureza, seja a espécie conhecida vulgarmente por jagudi
(Necrosyrtes monachus). O que o exotismo contempla é a
situação dos jagudis em dado território, e de acordo com o ponto de vista
de quem estabelece a oposição entre dentro e fora, indígena e
alienígena, meu e teu, eu e outro. Ou seja, perante a história de um jagudi, abutre
que aparece em quase toda a África a sul do Sara, uns dirão que
a espécie é exótica e outros que é endótica, consoante o lugar de onde
fala o relator
(europeu ou africano), e consoante o lugar onde vive o indivíduo que
representa a população de jagudis - em Bissau
ou num jardim zoológico americano.
Acresce, entre mais motivos de ambiguidade, que em
geral, nós, leigos em matéria de fauna e flora, ignoramos o que é endótico e exótico em dado local, circunscrevendo o termo "exótico"
apenas na esfera do ornamental - exóticas são as plantas de kiwi e as
araras que escolhemos para embelezarem o nosso jardim, aqui, na Europa,
mais concretamente em Portugal. Porém daqui a cem ou duzentos anos essas
plantas de kiwi podem estar tão naturalizadas como os pinheiros
importados da Suécia por D. Dinis, para fixarem as areias do litoral, e
araras, periquitos, papagaios e outras aves estranhas já nidificam em
Portugal, nada garantindo que daqui
a cem anos não tenham constituído populações estáveis, ficando por isso
naturalizadas, e passando assim a ser referidas nos catálogos faunísticos. Os camaleões introduzidos no Algarve, talvez em finais do
século XIX, já não são exóticos, já fazem parte da fauna de Portugal.
Tentemos um historial mínimo, começando pela asserção
de que os homens são nómadas. Nas suas migrações, levam com
eles o que era característico do local antes habitado, espécies eventualmente
endémicas, isto é, só ali encontráveis: plantas e animais, sobretudo.
Porque também existem espécies minerais, também representantes delas se
transportam para locais onde não existem, porém, tanto quanto sei, tal
circunstância não oferece melindres, visto que um par de diamantes,
plantado no meu jardim, não gera uma população de
diamantezinhos... Diamantezinhos susceptíveis de devorarem todas as
outras espécies do meu jardim, de rubis a pérolas, e de xisto a granito.
Por isso os problemas gerados pelo exotismo envolvem apenas o mundo
vivo, o das plantas e dos animais.
Com as viagens entre continentes, com as migrações,
com os processos de
colonização, com as tecnologias agrárias, pecuárias, piscícolas,
etc., as espécies começaram a viajar e por isso a prosperar em lugares
estranhos, a um ritmo que hoje é incontrolável. Sabemos que pode ser
fatal
introduzir espécies exóticas porque, não encontrando no novo habitat os
predadores que tinham no seu mundo de origem, podem expandir-se
livremente, ocupando o habitat das espécies indígenas e predando-as. É
assim que muitas extinções se devem à introdução de espécies
exóticas. Não há muito tempo fiz uma reportagem fotográfica em que
referi o total desaparecimento de anfíbios - rãs, sapos, salamandras,
tritões - de uma lagoa do Parque das Serras de Aire e Candeeiros, devido
à introdução criminosa do achigã, uma espécie exótica (canadiana) de peixes de água
doce (5).
Na sequência dos Descobrimentos, e em especial quando
a História Natural, via Systema Naturae, de Lineu, acolhe nos
museus e jardins da Europa, para estudo e inventariação do mundo vivo,
as produções de terras longínquas e desconhecidas, nesta época é
positivo o valor do exotismo. Exótico é
aquilo que pertence a mundos distantes, o que não se conhecia e agora se passou a conhecer. É
muito importante para a ciência a descrição das novas espécies, e é positivo o
seu valor de coisa rara nos museus. O produto exótico
funcionava ainda como sinal exterior de riqueza e poder, quando
embelezava parques, palácios e jardins de aristocratas, onde se exibia
como imagem da vastidão e riqueza do império colonial.
Hoje, no domínio das ciências naturais, falar de
espécies exóticas já não envolve nenhuma conotação positiva, pelo
contrário: quando se fala de espécies exóticas em dada região, o mais
natural é ficarmos em presença de alguma calamidade. A introdução de
espécies é proibida, e nem sequer podemos transportar animais e plantas vivos
de um país para o outro. O que agora tem valor para a ciência é o endemismo, a
espécie que só existe em dado local e em mais nenhum do mundo. E o valor
é tanto maior quanto menor o território habitado. Por isso são
raras, valiosas, célebres, as espécies, vegetais e animais, de certas
ilhas pequenas, e acontece até um conjunto de arquipélagos, por deter
muitas espécies próprias, ser considerado região biogeográfica. A Biogeografia,
uma entre dezenas de ciências mais recentes, esclarece os assuntos relativos a endemismos e
exotismos e demarca o território habitado pelas populações vegetais e
animais. No mapa da distribuição geográfica das
espécies, as ilhas do Atlântico - Cabo Verde, Canárias, Açores, Madeira
- constituem uma região particular, muito cobiçada pelos cientistas, a Macaronésia. A Guiné-Bissau faz
parte da Região Afro-Tropical, que abrange a África subsahariana. O
Norte de África, a Europa e o Norte da Ásia pertencem à velha e grande
Região Paleártica. Salvo alguma excepção que me escape, e salvo o caso
das espécies cosmopolitas, as espécies da Guiné-Bissau não fazem parte
da flora nem da fauna de Portugal, e vice-versa, porque os dois países
se situam
em regiões biogeográficas diferentes. Transportar espécies de um país
para o outro poderá dar então lugar à ocorrência de populações exóticas
(periquitos e esquilos em Monsanto, p.ex.), o que já sabemos ser acto
punível por Lei. Não existe nada na situação que mereça apreço e louvor,
estamos face a anormalidades que, a terem sido premeditadas, constituem
crime.
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2. Endotismo em uma sequência narrativa de Abdulai Sila |
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Para abreviar, são poucas as espécies endémicas da
Guiné-Bissau (espécies estritamente bissau-guineenses, inexistentes no
Senegal ou na Guiné-Conakri). Dado país partilha flora e fauna com os
que, como ele, fazem parte da mesma região biogeográfica. De outra parte,
certo elemento da fauna ou da flora africana é
integrado na literatura por motivos diversos: o escritor africano, pela sua presença comum, familiar, digamos então que endótica; o autor europeu, por o sentir diferente das árvores europeias,
portanto capaz de deslumbrar pelo exotismo os leitores europeus.
A maior parte dos representantes do mundo natural que os escritores
buscam nomear em
função da sua iconicidade - cajueiros, mangueiros,
palmeiras, baobás -, para ficarmos pela Guiné-Bissau, não são
espécies indígenas, isto é, elas não apontam a especificidade da flora
africana, e ainda menos nacional. Trata-se de espécies de larga distribuição geográfica
ou mesmo de espécies cosmopolitas, aquelas cujo valor para a ciência
fundamental mais
se aproxima de zero. Um escritor da Guiné-Bissau como Abdulai Sila, que
começa Mistida (6) com a cena do Comandante a urinar contra o
tronco de um cajueiro, não o afirma, mas podia afirmar que essa árvore é
exótica. Realmente a maior parte das árvores de fruto africanas, tal
como diversas plantas de valor comercial, como a cana sacarina, foram introduzidas, e a sua pátria de origem é
muitas vezes a Ásia.
Tudo isto para reafirmar que o modelo de leitura
assente no conceito de exotismo não produz ideias claras em análise literária, nem sequer considerando que o seu
conteúdo é apenas um Eu em face de um Outro. Exótico é o Outro, o
desconhecido, aquele que Eu pretende seduzir ou dominar, aquele que Eu
exibe como sinal de ostentação e riqueza. Ora, mesmo que Abdulai Sila
tivesse optado pelo cajueiro e não pelo poilão - a Ceiba pentandra deve ser uma espécie
africana (7) - por saber que o cajueiro tanto é próprio da África ocidental
como da América, em suma, por o cajueiro ser sentido como espécie
estrangeira e quase cosmopolita, jamais o autor, acredito bem, usaria no livro essa espécie por
causa da ornamentalidade, da raridade, e menos ainda por lhe
conferir sinais de ostentação e riqueza. Pelo contrário: tomou o
cajueiro por ser uma árvore de fruto comum, familiar, quem sabe se por
ter um no seu quintal. Quem sabe se por o fruto ser sumarento, evocando
por isso outros líquidos corporais, aquela urina que escorre pela perna
do Comandante, e se torna exótica, ela, sim, porque, em situação de
realismo, a urina não escorre de maneira tão abundante pelas pernas, nem forma na
terra regatos e lagoas a que, para cúmulo, se assinala um "caudal":
Abstraindo-se daquela tarefa rotineira, começou a entoar uma canção
antiga, marcando o ritmo com a cabeça, que lançava em direcção a um e ao
outro ombro. As palavras alternavam com os sons alegres do assobio até o
momento em que sentiu algo mover-se devagarinho junto à planta do pé
direito.
- Filho da puta! - exclamou em voz alta, ao mesmo tempo que dava um
salto ágil para trás, molhando a perna com a urina. Instantes depois a
expressão de espanto que se desenhara no seu rosto tinha sido
substituída por um misto de alegria e surpresa. Olhou para o pénis e
depois para o caudal que corria da base do cajueiro até ao sítio onde
tinha o pé. Aí o líquido ia-se juntando, formando uma espécie de lagoa
onde os pedaços de folhas secas do cajueiro se moviam como canoas
abandonadas no alto mar.
Levantou o pé descalço do chão e sacudiu-o. Por uns momentos imaginou o
que seria se tivesse sido aquilo que tinha pensado. “Mas que merda de
cobra iria querer guerrear tão cedo?”, interrogou-se a si mesmo,
esquecendo essa hipótese. Fixou a atenção no líquido que se ia
aglomerando no mesmo sítio. Olhou para o pénis, que ainda tinha na mão,
e depois para o tronco do cajueiro, para o sítio onde dirigira o jacto
de urina. Estupefacto, constatou que continuava a correr, sob as folhas
secas do
cajueiro, um fio de líquido que ia até ao local onde tivera o pé.
Sacudiu o pénis várias vezes como se sacode uma mangueira para dela
sacar as últimas gotas, meteu-o dentro das calças e fechou os botões.
Abanou a cabeça e retomou a canção. Afastou-se lentamente.
Noutras circunstâncias a sua reacção seria, de certeza absoluta,
diferente. Iria muito provavelmente averiguar donde vinha tanto líquido,
pois estava mais do que certo que aquilo não era tudo dele. Afastaria as
folhas secas uma a uma até descobrir a origem. E se não concordasse com
a mistura iria tomar medidas, medidas imediatas e drásticas, para
separar as partes. Podia-se até admitir a hipótese de arrancar as raízes
do cajueiro, uma a uma, caso desconfiasse que era alguma delas que
andava a mijar aquele liquido parecido com o seu. Mas se concordasse com
a união, seria capaz de passar ali o dia inteiro a mijar, a beber e a
mijar, até a outra parte se convencer de que ele era o mais forte e
sabia como impor o que queria.
Juntou duas grades vazias da CICER que jaziam ao lado da entrada e
sentou-se em cima. Hesitava entre voltar para o interior e ficar onde
estava, a apreciar a melodia matinal dos pássaros. Sabia que nem uma nem
outra opção lhe dava o que mais ambicionava. Ambição? Teria ainda
alguma?
Não existe exotismo em Abdulai Sila. O que seria o
exotismo nele? Introduzir pinguins e cedros do Líbano na descrição?
Endotismo, sim, recurso ao mundo da physis, com os seres vivos
comuns na Guiné-Bissau, para integração nele das personagens e do que
relatam.
E no entanto Mistida é uma obra profundamente exótica, no sentido
de estranha e rara, no sentido de fantástica, diversa de nós e por isso outra. Porém esse exotismo,
a que mais vale chamar originalidade para evitar a confusão,
essa originalidade situa-se no registo mental, motor da efabulação
e dos comportamentos bizarros das personagens, e não na descrição de
exteriores, tão endótica que pode transformar a acumulação de lixo na
imagem de uma nação desvairada.
As personagens e situações de estirpe surrealista, ou
kafkiana, denunciam em Abdulai Sila a mais colossal decepção pelo facto de um jovem
Estado, a Guiné-Bissau, ter degenerado ao ponto de se tornar simplesmente um
estado, um estado caótico, de falta de honra e de respeito, de falta
de união, de todas as faltas.
Apesar disso, sobra um esplendor de esperança, a de ver casados, em paz e harmonia, o sol e a lua,
a urina e a seiva do cajueiro. Porque sol e lua, homem e tchon, estão
desavindos na Guiné, o livro representa um forte libelo contra a
prepotência, o poder que alcançam as personagens, mesmo de estrato
social carente dele, como as prostitutas, e as embebeda. Ocasionalmente,
com esse poder inebriante convencem-se de ser capazes de "safar a sua
mistida" (desenrascar-se de uma situação complicada). Todas as narrativas terminam com a
referência a uma mistida que é preciso safar, donde é problemático o
país a que se referem as histórias. De outra parte, como refere Moema
Parente Augel (8), "mistida" pertence à família do verbo "misti",
querer, desejar. Então o título também aponta para algo que na
cultura portuguesa seria encarnável na figura sebastiânica do
Desejado. Em Abdulai Sila, a Desejada é certamente uma Guiné-Bissau em
bom ritmo de construção, na qual reinem as leis e a paz.
Em
Março de 1997, informa Russel G. Hamilton (9), altura em que
Mistida foi dado à estampa, era presidente da República Nino
Vieira. Pouco tempo depois, seria afastado. Sendo pela
terceira
vez presidente da República da Guiné-Bissau, a 2 de Março de 2009, Nino
Vieira foi abatido à
catanada, e esquartejado a seguir, na maior cena de barbárie que se possa
imaginar. Alguns atribuem-lhe a responsabilidade pelo assassínio de
Amílcar Cabral, o líder pioneiro do movimento pela independência, pessoa
em quem confluíam as esperanças de nascimento de uma nação africana modelar. De temperamento oposto ao de Amílcar
Cabral, um intelectual, e um poeta,
Nino Vieira deve ter sido a principal mola da guerra
civil, e da ruína em
que caiu a Guiné-Bissau, hoje pasto de militares e políticos ensandecidos pelo
narcotráfico.
Vendo a literatura bissau-guineense tão
embrenhada na conjuntura política, não espanta que o veio
fantástico e dramático de Mistida lhe esteja associado também.
Existe em Abdulai Sila uma grande capacidade de simbolizar a partir das
situações e comportamentos expostos nas narrativas.
Exótica, então, neste contexto, é a manifestação de esperança no meio de tão endótico desespero.
Claro que a esperança é experienciável por outros povos; nós,
portugueses, até a manifestamos em domínios míticos como o
sebastianismo. Todos os povos têm obras messiânicas, a esperança é tão
cosmopolita como os hibiscos e as garças boieiras. Acontece no entanto que a esperança, na literatura da
Guiné-Bissau, não se dimensiona espiritualmente como
messianismo nem como utopia, ela está imersa na realidade da vida
quotidiana. Os escritores, as personagens, e por extensão as pessoas, não se demitem
de poder safar a sua mistida. Os escritores bissau-guineenses agem na consciência de estarem a fazer alguma
coisa neste instante. Alguma coisa que os põe em risco, que exige uma
dinâmica de heroísmo eventualmente sem ponto de retorno.
Esta esperança viva usa a literatura como
arma, à boa maneira dos neo-realistas. Por isso não se trata de um tema literário
desvinculado da luta real, sim de uma tarefa de construção dos
fundamentos culturais e morais da pátria. Nesse aspecto, é bem distinta da nossa esperança
quieta, própria de gente céptica, que espera por milagres, ajoelhada aos pés de S. Sebastião.
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A seguir:
3. Quando exótico é o 25 de Abril,
etc. |
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NOTAS |
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(1) Didinho, Sintinela ka ta durmi.
Em:
http://www.didinho.org/apoesiadefernandocasimiro.htm
(2) Atchutchi, "Badjuru". In: Kebur - Barkafon di
poesia na kriol. Guiné-Bissau, Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisa, 1996.
(3) Vasco Cabral, "África! Ergue-te e caminha!". In:
Antologia poética da Guiné-Bissau. Coordenação do Centro Cultural
Português em Bissau e da União Nacional dos Artistas e Escritores da
Guiné-Bissau. Prefácio de Manuel Ferreira. Lisboa, Editorial Inquérito,
1990.
(4) Odete Semedo, "E o poeta falou".
Em:
http://www.triplov.com/guinea_bissau/odete_semedo/poemas/poeta.htm
(5) Maria Estela Guedes, Parque Nacional das Serras
de Aire e Candeeiros. Em:
http://www.triplov.com/pimb/serra_d_aire/index.htm
(6) Abdulai Sila, Mistida. Bissau, Ku Si Mon Editora, 1997.
(7) Eis o que diz a Wikipédia: "Kapok (Ceiba
pentandra) is a tropical tree of the order Malvales and
the family Malvaceae (previously separated in the family
Bombacaceae), native to Mexico, Central America and the Caribbean,
northern South America, and (as the variety C. pentandra var.
guineensis) to tropical west Africa":
http://en.wikipedia.org/wiki/Kapok
(8) Moema Parente Augel, O desafio do escombro -
Nação, identidades e pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau. Rio
de Janeiro, Garamond Universitária, 2007.
(9) Russel G. Hamilton, «A literatura dos PALOP e a Teoria
Pós-Colonial». IV Encontro de Estudos Comparados de Literaturas de
Língua Portuguesa. USP, 1999. Em linha, em:
http://www.fflch.usp.br/dlcv/posgraduacao/ecl/pdf/via03/via03_02.pdf |
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Maria Estela Guedes
(1947, Portugal). Diretora do TriploV
ALGUNS LIVROS.
“Herberto Helder,
Poeta Obscuro”, Lisboa, 1979; “Mário de Sá Carneiro”, Lisboa, 1985; “Ernesto de Sousa –
Itinerário dos Itinerários”, Lisboa, 1987; “À Sombra de Orpheu”, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”, Lisboa,
1993; “Tríptico a solo”, São Paulo, 2007; “A
poesia na Óptica da Óptica”, Lisboa, 2008; “Chão de
papel”, Lisboa. 2009; “Geisers”, Bembibre, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas modernos
portugueses”, São Paulo, 2010.
ALGUNS COLECTIVOS.
"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de Poesia
de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom homónimo, com
poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O reverso do
olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual. Coimbra, 2008;
“Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”. Parede, Ministério
dos Livros Editores, 2009.
TEATRO.
Multimedia “O Lagarto do
Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE,
com direcção de Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela
Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à
cena em 2008 no Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos
Avilez, cenografia de Fernando Alvarez e interpretação de Maria Vieira. |
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
5100-344 Britiande
PORTUGAL |
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