REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2010 | Número 06

 

NUMA VEEMENTE SEARA PLENA

Transfigura-se o sol tardio e o pesado tempo

Num jardim infinito de lágrimas de Deus,

De lágrimas de todos os seres e todas as coisas,

E um pássaro transcendente desce e poisa

Sobre a minha alma morta, ministrando-lhe

Uma secreta luz obscura, irmã do amor de todos os mortos,

Cantando como crianças eternas correndo infinitamente

Pela folha aberta do tempo, desmedida habitação

Onde a febre e a dor poderão dar lugar ao sonho

De todo o visível e invisível numa veemente seara plena

 

 
DIREÇÃO  
Maria Estela Guedes  
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FERNANDO

BOTTO SEMEDO

 

Lágrimas de Deus

                                                                           Fernando Botto Semedo
 
 
 
 
 
 
  UM DEUS INTERIOR QUE ABRASA
O NOSSO CORAÇÃO

O silêncio é uma hóstia que se comunga

Quando, à noite, o mundo do sonho

É apenas nosso, e tudo o que é desmedido e beleza íntima,

(A mais íntima a tudo o que está imerso

Na sua verdade ofuscante, a tudo o que é sublime

Na sua luz infinita, na sua comoção de lágrimas intemporais),

É um jardim do invisível latejando cor transcendente e pura.

 

O silêncio é um riso alvo da primavera da nossa alma,

Que comungamos, quando o ruído, o caos e o ódio,

Foram afastados do lugar onde o poema intacto é

Plenitude de amor a tudo, e um Deus interior

Circular por veias cheias de estrelas de uma luz secretíssima,

Que vela para que não seja violada a beleza daquele sol místico

Que abrasa o nosso coração.

 

 

FERNANDO BOTTO SEMEDO (PORTUGAL)
Fernando Manuel Boto Correia Semedo nasceu em Lisboa, freguesia de S. Sebastião da Pedreira, no dia 18 de Junho de 1955. É licenciado em História (1981), pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Ao longo de 27 anos publicou individualmente 33 livros, desde «Agoas Livres» (1982) até «Sangue em Flor» (2009). O Autor foi objecto de crítica literária por parte de João Gaspar Simões, António Cândido Franco, E.M. de Mello e Castro, Maria Estela Guedes, João Rui de Sousa, Pinharanda Gomes, e José Augusto Mourão, entre outros.

 

 

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