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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2010 | Número 03
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Enquanto a multidão se encontra absorvida e, por vezes , perdida nos
intensos apelos à juventude eterna, mergulho nos meus sonhos repletos de
amanhãs, consciente, no entanto, de que o amanhã é algo meramente virtual,
e o que vale é o aqui e agora.
Teço meus sonhos sem, contudo, mostrar lastros de alienação,
atenta que sou ao corre-corre do dia-a-dia, sirenes,
bate-estacas,vulcões emocionais e perplexidades mil. Vivo roteirizando meus
sonhos, o que se constitui num intenso exercício de aceitaçao às mudanças
que já se delineiam.
Vivo numa cidade pacata, no interior do sul. Minha casa tem
inúmeros canteiros, e meu quarto, uma estante repleta de livros. Sempre fui
viciada em leitura. Mudaria apenas por ter completado oitenta e cinco anos?
De vez em quando, ainda escrevo, sempre com toques de nostalgia, mas aquela
nostalgia que não entristece, que não faz do coração caquinhos... Tenho
amigas escritoras, cantoras e pintoras. Semanalmente, nos reunimos para
saraus no pequeno centro cultural da cidade. Conservo as preferências de
minha mocidade. Aliás, nunca deixei de me considerar jovem. Filhos, netos
e bisnetos , por vezes, chegam em visita, trazendo aquela euforia própria
da juventude, que nos deixa em estado de graça. |
DIRECÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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BELVEDERE BRUNO
Roteiro de sonhos |
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Belvedere Bruno |
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Após tantas décadas juntos, continuamos um casal quase
perfeito: cúmplices, amigos; e como gostamos de aproveitar cada dia que
se apresenta aos nossos olhos! É uma constante renovação.
A mesa onde ele se reúne com os amigos para o carteado dos
domingos, a cada ano, vai se esvaziando. E vamos vivendo, conscientes
de que sempre fomos realistas em relação a perdas e ganhos, porém nunca
tivemos dúvidas em relação ao nosso amanhã. Tínhamos certeza de que
envelheceríamos juntos. Havia uma verdadeira comunhão de almas entre
nós, eu costumava dizer, embora fosse uma pessoa cética, desligada de
temáticas religiosas ou místicas. O que, então, teria me dado essa
certeza?
Gosto de ver minhas rugas, meus cabelos brancos e ralos, e
me apraz caminhar com o auxílio da bengala, ao mesmo tempo que observo
as mudanças ocorridas nele: o andar cambaleante, a voz baixa, as costas
curvadas, a calvície acentuada, que me traz saudade boa da cabeleira
prateada que o acompanhou até aos setenta! Continua, no entanto, um
homem atraente, conservando o sorriso solar.
Falando francamente, nem tenho a percepção de que vivemos
tanto tempo . Confesso que o viver é um ato curto. Tudo passa como
num piscar de olhos . Sem esmorecer, continuo elaborando sonhos, como
se a vida não tivesse fim. Através deles, celebro a ventura de ter
sido feliz, apesar da certeza inabalável acerca da brevidade e das
inconstâncias desta vida. |
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Belvedere Bruno
(Brasil, Niterói/RJ).
Cedo despertou para as letras,
graças ao incentivo do pai, que sempre presenteou os filhos com
livros. Atualmente, dedica-se às prosas, gênero onde mais se
identifica. Tem várias antologias publicadas, como diVersos -
Scortecci, @teneu.poesi@ - Scortecci, Com licença da palavra -
Scortecci, O Conto Brasileiro hoje - Volumes VIII, Volume X e Volume
XII - RG Editores. Tem publicações em diversos jornais da
cidade, assim como em outros estados, e mesmo no exterior. Vinho
Branco, safra especial de contos e crônicas, seu voo solo, será
lançado em maiode 2010.
http://www.belvederebruno.prosaeverso.net/
E-mail:
belbruno@predialnet.com.br |
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
5100-344 Britiande
PORTUGAL |
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