|
|
|
REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2010 | Número 02
|
|
Como é sabido, em dezembro de 2009 realizou-se em Copenhague
a Conferência Mundial dos Estados sobre o Clima. Não se chegou a nenhum
consenso porque foi dominada pela lógica do capital e não pela lógica da
ecologia. Isso significa: os delegados e chefes de Estado presentes
representavam mais seus interesses econômicos que seus povos. A questão para
eles era: quanto deixo de ganhar aceitando preceitos ecológicos que visam
purificar o planeta e assim garantir as condições para a continuidade da
vida. Não se via o todo, a vida e a Terra, mas os interesses particulares
de cada pais.
A lógica ecológica vê o interesse coletivo, pois visa o equilíbrio entre ser
humano e natureza, entre produção, consumo e capacidade de recomposição dos
recursos e serviços da Terra. Rompendo esta equação, coisa que o modo de
produção capitalista já vem fazendo há séculos, surgem efeitos não
desejados, chamados de "externalidades": devastação da natureza, graves
injustiças sociais, desconsideração das necessidades das futuras gerações e
o efeito irreversível do aquecimento global que, no limite, pode pôr tudo a
perder.
Em Cochabamba, na Bolívia, viu-se exatamente o contrário:
o triunfo da lógica da ecologia e da vida. Nos dias 19-23 de abril
celebrou-se a Cúpula Mundial dos Povos sobre as Mudanças Climáticas e os
Direitos da Mãe Terra. Ai estavam 35.500 representantes dos povos da
Terra, vindos de 142 países. A centralidade era ocupada pela Terra, tida
como Pacha Mama, grande Mãe, sua dignidade e direitos, a vida em toda sua
imensa diversidade (superação de qualquer antropocentrismo), nossa
responsabilidade comum para garantir a condições ecológicas, sociais e
espirituais que nos permitem viver, sem ameaças, nesse planeta. |
DIRECÇÃO |
|
Maria Estela Guedes |
|
|
|
REVISTA TRIPLOV |
|
Série anterior |
|
Nova Série | Página Principal |
|
Índice de Autores |
|
|
|
|
|
|
|
SÍTIOS ALIADOS |
|
TriploG |
|
Incomunidade |
|
Jornal de Poesia |
|
Agulha Hispânica |
|
TriploV |
|
O Contrário do Tempo |
|
|
|
LEONARDO BOFF
A Conferência Mundial
dos Povos |
|
Leonardo Boff |
|
|
|
|
|
|
|
|
As 17 meses de trabalho, ao contrário de Copenhague,
chegaram a um extraordinário consenso, pois todos tinham na mente e no
coração o amor à vida e à Pacha Mama "com a qual todos temos uma relação
indivisível, interdependente, complementar e espiritual" como diz o
documento final.
No lugar do capitalismo competitivo, do progresso e do crescimento
ilimitado, hostil ao equilíbrio com a natureza, se colocou "o bem
viver", categoria central da cosmologia andina, verdadeira alternativa
para a humanidade que consiste: viver em harmonia consigo mesmo, com os
outros, com a Pacha Mama, com as energias da natureza, do ar, do solo,
das águas, das montanhas, dos animais e das plantas e em harmonia com os
espíritos e com a Divindade, sustentada por uma economia do suficiente e
decente para todos, incluidos os demais seres.
Elaborou-se uma Declaração dos Direitos da Mãe Terra que prevê entre
outros: o direito à vida e à existência; o direito de ser respeitada;
o direito à continuação de seus ciclos e processos vitais, livre de
alterações humanas; o direito a manter sua identidade e integridade com
seus seres diferenciados e interrelacionados; o direito à água como
fonte de vida; o direito ao ar limpo; o direito à saúde integral; o
direito a estar livre da contaminação e poluição, de dejetos tóxicos e
radioativos; o direito a uma restauração plena e pronta das violações
inflingidas pelas atividades humanas.
Previu-se também a criação de um Tribunal Internacional de Justiça
Climática e Ambiental, com capacidade jurídica e vinculante de prevenir,
julgar e sancionar os Estados, empresas e pessoas por ações ou omissões
que contaminem e provoquem mudanças climáticas e que cometam graves
atentados aos ecossistemas que garantem o "bem viver".
Resolveu-se levar os resultados desta Cúpula dos Povos à ONU para que
seus conteúdos sejam comtemplados na próxima Conferência Mundial a
realizar-se em novembro/dezembro deste ano em Cancún no México.
O significado mais profundo desta Cúpula é a convicção, crescente entre
os povos, de que não podemos mais confiar o destino da vida e da Terra
aos chefes de Estado, reféns de seus dogmas capitalistas. O Brasil
lamentavelmente não enviou nenhum representante, pois para o atual
governo parece ser mais importante a "aceleração do crescimento" que
garantir o futuro da vida. Esta Cúpula dos Povos apontou a direção
certa: para uma biocivilização em equilíbrio de todos com todos. |
|
|
|
|
|
Leonardo Boff (Brasil)
Pseudônimo de Genézio Darci Boff (Concórdia, 14 de dezembro de
1938), é um teólogo brasileiro, escritor e professor universitário,
expoente da Teologia da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos
Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos. Autor de numerosos
livros e outras obras, entre elas o DVD As quatro ecologias, CDDH de
Petrópolis 2009.
http://www.leonardoboff.com/site/lboff.htm |
|
|
|
© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
5100-344 Britiande
PORTUGAL |
|
|
|
|
|
|
|
|