|
|
A PERSISTÊNCIA DO NUDISMO ABSTRATO
Décio Pignatari
Pensei em elementarismo, despojamento, abecedarismo geométricos mas
acabei por optar pela idéia do nudismo abstrato, para tentar
caracterizar a postura e a impostação de Almandrade ante suas criações e
criaturas sígnicas que hesitam entre a bi e a tridimensionalidade, em
duas ou três cores, em duas ou três texturas.
A parcimônia desses objetos franciscanamente contundente, desenhados,
signados (designed), compostos segundo uma grafia de cartilha, porém
enganosamente sig-nificada e simplista, posto que metafísica.
Criam um campo significante que parece rechaçar instruções extratexto,
mesmo quando inclui algum elemento metafórico in memorian Dadá.
Meteoritos geométricos do pensamento, taquigrafia precisa de uma
claríssima visão cuja totalidade se ofuscou, indício e impressão minimal
de um evento artístico-mental; ocorrido no panorama ecológico da arte do
século XX, como um pássaro em extinção, aparição de ordem inegavelmente
metafísica, essência e forma divinas (diria Baudelaire) do pássaro nu da
poesia e de seus amores descompostos.
Um nudismo Proun (El Lissitsky) nos trópicos, lembranças metonímica
do paraíso, graciosas construções-instalações não habitáveis, amostras
quase-duchampescas, quase-vandoesburguesas de um ex-Éden artístico, onde
a provável ironia embutida não passa de meio-sorriso.
Esses seres correta e rigorosamente nus, o olho os colhe por
inteiros, como objetos cabíveis no bolso. E há música neles, mas não é
sequer de câmara - é de cela, nicho e escrínio: são microtonais,
minideogramas sólidos à Scelsi.
O Almandrade capricha nas miniaturas de suas criaturas, cuja nudez
implica mudez, límpido limpamento do olho artístico, já cansado da
fantástica história da arte deste século interminável, deste milênio
infinito. |
|
Almandrade (Brasil)
Almandrade (Antônio Luiz M. Andrade): Artista
plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano, poeta, professor de
teoria da arte do curso livre do MAM-Ba.. Participou de várias mostras
coletivas, entre elas: XII, XIII e XVI Bienal de São Paulo; "Em Busca da
Essência" - mostra especial da XIX Bienal de São Paulo; IV Salão
Nacional; Universo do Futebol (MAM/Rio); Feira Nacional (S.Paulo); II
Salão Paulista, I Exposição Internacional de Escultura Efêmeras
(Fortaleza); I Salão Baiano; II Salão Nacional; Menção honrosa no I
Salão Estudantil em 1972. Integrou coletivas de poemas visuais,
multimeios e projetos de instalações no Brasil e exterior. Um dos
criadores do Grupo de Estudos de Linguagem da Bahia que editou a revista
"Semiótica" em 1974. Mora em Salvador-BA.
Almandrade pode ser encontrado também no endereço
www.eale.hpg.com.br/alman/
|