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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
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Ana Luísa Janeira
Foto de José M. Rodrigues |
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ARREGALAR OS OLHOS
Deambulações sensíveis por uma
paisagem-jardim.[1]
Marjoke Krom & Mariana Valente[2]
(Universidade de Évora) |
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DIREÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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Preâmbulo Tecendo mantos do mundo
Uma
das maneiras mais habituais de observarmos o céu é através dos ramos
de uma árvore. “As árvores conduzem o nosso olhar da terra acima
para o céu, juntando os pormenores temporários da nossa vida à
abstracta expansão azul que se estende sobre as nossas cabeças.” (Ackerman,
1992:240)
O Homem desde sempre
teve uma relação muito especial com as arvores. O homem primitivo
acreditava que o mundo na sua totalidade se comparava a um ser vivo,
que as árvores e plantas – essas coisas estranhas que nasciam da
terra - possuíam alma comparável à sua e que por consequência tinham
de ser tratadas em semelhança.
A noção de que as
árvores são uma fonte de conhecimento é muito antiga. Como afirma
Ackerman (1992:240):
“(..) só elas pareciam unir a terra e o céu – unir o mundo conhecido
e acessível ao Homem com tudo aquilo que ultrapassava a sua
compreensão e o seu poder.”
O nosso progressivo
afastamento da experiência sensorial, levou ao ‘desencantamento do
mundo’, parafraseando Weber, e a uma certa perda da capacidade de
nos maravilhar, de ‘arregalar os olhos’.
Perdeu-se a
valorização da experiência sensorial, do conhecimento que nasce do
contacto directo com as coisas, em prol de um conhecimento que se
desenvolve já muito afastado das coisas.
Na deambulação
sensível e sensorial que se segue, uma deambulação por uma
paisagem-jardim constituída por objectos híbridos de natureza e
cultura, iremos tecer, quais bordadeiras de Remédios Varo, ‘mantos
do mundo’, promovendo uma apreensão e interpretação do mundo que
recorre a todos os sentidos, seja na experiência directa do mundo,
seja na experiência intelectual do mundo. |
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Foto 4. José M. Rodrigues, 1998 |
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I Primeiro tempo. The disappearing forest |
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“A
verdade é que era difícil ali penetrar: as árvores eram cerradas,
eriçadas de silva e de altos fetos; longas grinaldas de campainhas
dificultavam também a marcha; havia também pontiagudos calhaus, grandes
blocos de rocha e pântanos.” “O Sino”
(Andersen, 1974:91). |
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Pois nesta floresta
penetraram duas crianças à procura da origem de um som que a todos
causava espanto e muita curiosidade. Muitas histórias se contavam na
cidade sobre a origem do som enigmático, mas só estas duas crianças se
aventuraram até aos confins da floresta na procura da origem de tal
acontecimento. Percorrendo caminhos divergentes acabam por encontrar-se
num ponto em que a descoberta dessa origem os une ao mundo e a eles
próprios: o som traduzia uma harmonia da natureza. Foram tomados por um
sentimento de reverência perante uma natureza agora habitada pelos seus
percursos de experiência e de conhecimento. As personagens das duas
crianças foram inspiradas no próprio Andersen e no físico Oersted,
respectivamente. Poderemos ler esta história, à luz das ideias
românticas, tão ao jeito de Oersted, como o desenvolvimento de duas
vias, uma aristocrática (a científica) e outra popular (a dos contos),
que convergem na ligação que ajudam a estabelecer com a natureza, num
percurso povoado de experiências (floresta como fonte inesgotável de
“experiências”).
A floresta está presente
em narrativas autobiográficas de alguns cientistas célebres. Por exemplo
Feynman, físico teórico do século XX recorda, nalgumas das suas
conferências como aprendeu com o pai a relacionar-se com a natureza e
com o conhecimento da natureza durante os seus passeios dominicais na
floresta, junto à casa (anos 20). “Durant nos promenades, nous
observions tout ce qui se passait, des arbres qui luttent pour avoir de
la lumière, qui essaient de grimper le plus haut possible, et du
problème de faire monter l’eau à plus de quinze mètres (...)”, (Feynman,
1980:226).
Também Helmholtz (2ªmetade
do século XIX) refere a importância da natureza no desenvolvimento do
seu gosto pelo conhecimento científico. Embora não use a palavra
floresta é a ela que se refere, quando escreve:
“As I
became bigger and stronger I went about with my father and my
schoolfellows a great deal in the neighbourhood of my native town,
Potsdam, and I acquired a great love of Nature. This is
the reason why the first fragments of physics that I learned in the
Gymnasium engrossed me much more closely than purely geometrical and
algebraical studies” (Helmholtz, 1995:384).
Nos seus ensaios de
divulgação (Popular and Philosophical Essays) Helmholtz mostra como as
emoções de uma beleza que faz apelo ao intelecto são superiores às que
são apenas determinadas pela experiência dos sentidos.
E dá um exemplo:
“(…) in the rolling ocean, the movement, rhythmically
repeated, and yet ever varying, rivets our attention and hurries us
along. But whereas in the sea, blind physical forces alone are at work,
and hence the final impression on the spectator’s mind is nothing but
solitude – in a musical work of art the movement follows the outflow of
the artist’s own emotions. (…)”
(Ibid.:75).
Ou seja, a experiência
artística permite-nos experienciar uma beleza de ordem superior. Mas
quem isto escreve é cientista e não artista (embora fosse um cientista
que se movia nos meios artísticos e que realizou estudos importantes
sobre a percepção). E como cientista também nos mostra, em muitos dos
seus textos, que a experiência dos fenómenos físicos habitadas pelo
conhecimento científico nos permite a emoção de uma beleza de ordem
superior.
Se, com Feynman, vemos
emergir o seu entusiasmo inicial para com a ciência no contacto com uma
paisagem-floresta, o seu entusiasmo “actual” expresso nas conferências,
vem do valor da ciência na relação com o mundo:
“Le monde apparaît tellement différent quand on sait !
Par exemple : les arbres sont essentiellement
faits d’air. Lorsqu’un arbre brûle, il retourne à l’air ; la chaleur de
combustion dégagée est la chaleur du soleil qu’il avait fallu pour
transformer l’air en arbre, et les cendres représentent la part
restante, celle qui ne venait pas de l’air, mais de la terre »
(Feynman, 1980:229).
Mas, diríamos nós, a
beleza desta ideia não deverá sobrepor-se à emoção da contemplação da
árvore ‘na sua realidade’ sob pena de colocarmos em risco um mundo que
não soubemos valorizar.
Corremos o risco de
substituir o mundo-floresta por um mundo-ideias?
“En 1904, au cours d’une de nos promenades dans les
environs d’Aix, je dis à Cézanne :
-Que pensez-vous des Maîtres ?
-Ils sont bons. J’allais au Louvre tous les matins
lorsque j’étais à Paris ; mais j’ai fini par m’attacher à la nature plus
qu’à eux. Il faut se faire une vision.
-Qu’entendez-vous par là ?
-Il faut se faire une optique, il faut voir la nature
comme si personne ne l’avait vue avant vous »
(Bernard, 1995:7).
Será o desaparecimento do
mundo-floresta?
No final do século XIX e
princípios do século XX, os simbolistas recorreram às cosmologias da era
pré-moderna para desenvolver as suas ideias sobre a relação do homem com
o mundo. Em contraste aos ascetas desse tempo, os simbolistas procuraram
elaborar uma estética centrada nas percepções sensoriais, por vezes
levada ao extremo da artificialidade.
O escritor simbolista
Huysmans, que em 1959 publicou o romance “A Rebours” – com o título
Inglês mais sugestivo de “Against Nature”, inspirou a sua personagem
principal, o aristocrata Des Esseintes, no poeta simbolista e bom-vivant
o Conde Robert de Montesquiou (1855-1921). O conde, cujo estilo de vida
era considerado emblemático da estética simbolista, tinha no seu
apartamento “tapeçarias com cenas florestais, um tapete de musgo,
estatuetas de animais em cerâmica e antigos instrumentos musicais, tudo
combinado para formar um simbólico e sonoro caminho florestal.” (Classen,
1998:114)
A personagem do Des
Esseintes incorporava o ideal estético simbolista, dedicando a sua vida
ao aperfeiçoamento da natureza através da arte, declarando que “Nature
(...) has had her days. She has finally and utterly
exhausted the patience of sensitive observers by the revolting
uniformity of her landscapes and skyscapes.” (Huysmans, 1959:36)
No fim da romance, Des
Esseintes torna-se vítima da sua própria estética quando decide fazer
uma viagem a Inglaterra. Não chega a ir além de Paris, onde procura
repousar-se num café inglês antes de voltar para casa “feeling all the
physical weariness and moral fatigue of a man who has come home after a
long and perilous journey”, qual viagem através da floresta (Ibid.:143).
Cortando com a ideia de
que a observação do mundo se faz a partir de um ponto único, perspectiva
simples (linear) Cézanne contribuiu para vermos como nunca tínhamos
visto.
E, com ele, podemos
regressar à floresta :
« -Parfait : mais ils [les maîtres] ont remplacé la
réalité par l’imagination, et par l’abstraction qui l’accompagne »
((Bernard, 1995:11). |
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Foto 1. José M. Rodrigues, 2006 |
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II
Segundo tempo. À procura de “ sentidos para os
sentidos” |
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“E,
agarrando-se às raízes, aos ramos, aos ângulos das rochas, no meio de
cobras, de sapos e de outros (...) bichos, trepou e chegou ao de cima,
ofegante, esgotado.” (Andersen, 1974:91) |
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Na perspectiva modernista,
o conhecimento obtido através de experiencias sensoriais é “(...) the
gaudy clothing that had to be removed to arrive at the naked, abstract
truth”, como afirma o antropólogo David Howes, e continua, invocando as
palavras de Charles Beaudelaire dirigidas aos ‘professores modernos’ que
“se esqueceram da cor do céu, da forma das plantas e do movimento e
cheiro dos animais” (Howes: fortaste: XII [1962:123]).
Ao qual Classen (1998:139)
acrescenta, com muita razão, que a sociedade moderna vive numa situação
de hypervisualidade que nos dificulta, por vezes, estarmos em contacto
com os outros sentidos “the blind may lack the sense of sight, the
sighted are often out of touch with their other senses”.
Já a escritora inglesa
Margareth Cavendish, no século XVII, troçava da ilusão dos cientistas
‘modernos’ que pretendiam desvendar todos os segredos do mundo através
das extensões artificiais da visão. Cavendish afirmou que as lentes
ópticas só mostravam o exterior dos fenómenos e não o interior nem “as
acções obscuras da Natureza”. No The Travelling Spirit (O
Espírito Viajante) conta a história de um homem que visita uma bruxa a
quem pede para o levar até à Lua. A bruxa responde-lhe que não o pode
ajudar, já que só os Filósofos Naturais são homens para fazer essa
viagem e que não foi uma mulher que inventou as lentes da perspectiva
que permitem “penetrar a Lua”. Ela tão pouco o pode ajudar a viajar até
ao Céu ou ao Inferno. O homem pede-lhe, então, para o levar até ao
centro da Terra.”Isso, sim, posso fazer”, reponde-lhe a bruxa, “e tão
obscuramente que nem os Filósofos Naturais serão capazes de nos espiar”.
(Ibid.:105)
“…é preciso reencontrar
o fio longo e subtil que nos liga à curiosidade sensível”, escreveu
Levy-Leblond, físico-teórico contemporâneo.
Os desenvolvimentos
científicos e tecnológicos do século XX vieram contribuir para uma certa
anulação da experiência sensorial.
Mas, nos
anos 30 do século XX, Whitehead alertava para o facto de que nada se
pode substituir à contemplação de um facto concreto:
“quand vous comprenez tout ce qui concerne le soleil,
l’atmosphère ou la rotation de la terre, vous n’avez pas pour autant
perçu la beauté d’un coucher de soleil. Rien ne remplace la perception
directe de la réalisation concrète d’une chose dans sa réalité. Nous
voulons des faits concrets, avec un éclairage sur ce qui les rend
précieux” (Whitehead, 1994:230).
Moscovici
por outro lado, afirma:
“aucune partie de l’humanité, à aucun moment, n’est plus
proche ni plus éloignée d’un état de nature, ni dans le passé primitif,
ni dans l’avenir évolué ( …) Or on agit toujours par rapport à la
nature. Tout ce que l’on réalise du point de vue du savoir a
nécessairement un rapport avec son corps, au sens de nature, et avec le
monde dans lequel on vit. La nature n’est pas l’environnement, sorte de
boîte dans laquelle on est enfermé, elle est toujours un rapport.. »
(Moscovici,1977:36-37).
Quem melhor do que o
pintor Turner para dar forma a esta ideia ? As telas de Turner traduzem
o entusiasmo pelas alterações substanciais que a máquina a vapor vem
trazer à nossa relação com a natureza. O quadro Vapor, Comboio,
Velocidade parece querer exibir as relações entre todos os protagonistas
de uma paisagem dissolvendo-os numa atmosfera colorida quase abstracta
(a referir que ao lado do comboio pintou uma lebre e que para pintar
este quadro precisou de experienciar a velocidade).
Como
testemunha Paul Klee:
“le dialogue avec la nature reste pour l’artiste
condition sine qua non. L’artiste est homme ; il est lui-même nature,
morceau de nature dans l’aire de la nature »
(Klee, 1998 :43) |
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Foto 2. José M. Rodrigues, 2006 |
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III Terceiro
tempo Olho, Mão, Arte, Ciência |
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“Chegaram a uma linda clareira, atapetada de musgo de todos os matizes,
lírios-do-vale, orquídeas e outras lindas flores; no meio, uma fonte
fresca e abundante brotava de um rochedo; o seu murmúrio fazia “Gluk!
Gluk!”
(Andersen,1974: 91) |
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Sigamos o Zenão da Obra ao
Negro:
“(…) le plus souvent (il) partait seul, à l’aube, ses
tablettes á la main, et s’eloignait dans la campagne, à la recherche
dont ne sait quel savoir qui vient directement des choses.”
(Yourcenar,1968:48).
E,
reencontrámos Cezanne :
“-Peindre, c’est chanter comme cette cigale, me dit
Cézanne.
-Je le crois ; mais cette cigale ne fait que du bruit,
et l’artiste aspire à l’harmonie ; or pour la découvrir ne faut-il la
pressentir et l’aimer ? (Bernard,1995:28).
Voltemos aos físicos que
continuam a desvendar ‘segredos’ da natureza. Ainda que só escrevam
fórmulas matemáticas, chamam-nas de leis da natureza.
Pintores como Paul Klee,
na interpretação de Alain Bonfand (1988:56),
parecem procurar um ponto de fusão entre o centro de gravidade do ser e
o centro do cosmos,
“Saisir, selon l’expression même de Klee, « le tout du
monde » c’est faire en sorte que la feuille en elle seule dise le
paysage, la totalité en sa tonalité du paysage. (…) chercher le sens
d’une forêt en une feuille d’arbre (…)”
Pairava
no ar o perfume das rosas selvagens que cercavam a Fonte do Abade.
Talvez por efeito de uma das similitudes referidas por Foucault – a
emulação - já que a fonte é um elemento sempre presente nos jardins da
Idade Média, o apelo do frade das Horas de Monsaraz
ecoava nos nossos ouvidos:
“Dir-vos-ei somente que a minha história é talvez a vossa história, que
comum é entre nós o tempo e a sucessão dos anos; e comuns são os
sentimentos dos homens mais as suas ânsias e medos e tudo o que os
transtorna e enfurece; mais o que amamos e desconhecemos. De tudo isto
somos igualmente feitos e semelhantes, como o seixo de um rio e uma
montanha o são”.
A fonte
convidava-nos a mergulhar as pernas. Olhámos e vimos as pernas
quebradas. O pau quebrado de Descartes juntou-se ao nosso imaginário.
“On voudrait remonter à la source des choses et
retrouver les souvenirs qui s’y cachent.”
Qual o
papel dos sentidos na construção do conhecimento? A visão parecia
dizer-nos que a perna estava quebrada mas apalpando a perna ficámos a
saber que não era o caso. Seria o tocar um sentido superior ao ver?
Demos
um salto para outro tipo de paisagens do nosso tempo– paisagens de
átomos. A controvérsia em torno da realidade dos átomos do princípio do
século XX toma hoje outras configurações. Von Baeyer, físico teórico,
permite-nos apreciar como para além do pensamento formal (muito
matematizado) os próprios físicos precisam de recriar uma relação
sensual com os átomos:
“The sense of touch afforded by the magic wrist
provides the ultimate confirmation of reality (of the atoms)” .
Von
Baeyer contrasta com o Newton de William Blake, insensível aos musgos,
às pequenas plantas que se estendem sobre a rocha e que dão vontade de
tocar (Krom, M. e M.Valente
). |
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Foto 3. José M. Rodrigues, 2006 (correspondente ao
ficheiro: JMR2006-3)
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IV Quarto tempo. Marcheurs sur la Terre entière. |
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“O
sol, semelhante a um globo de fogo, cobria de chamas vermelhas o céu,
que parecia estender-se como um vasta abóbada sobre este santuário da
natureza; as árvores da floresta eram os seus pilares; os prados
floridos formavam como que um rico tapete (...).
O
sol desapareceu lentamente; milhões de luzes em breve cintilaram no
firmamento, a lua surgiu e o espectáculo continuava a ser grandioso e
comovedor (...) deram a mão um ao outro e ficaram abismados na
contemplação de toda aquela inebriante poesia.” (Andersen, 1974:93).
Na contemplação do
espalhamento do corante alimentar, munidos da hipótese atómica,
poderemos exibir a relação entre duas formas de olhar para a natureza,
como escreve von Baeyer: o artístico-emocional e o científico-racional.
Mas tal como a água vai ficando contaminada de cor através do corante
também estas duas vias se interpenetram na nossa experiência do mundo.
“I have now led you to the doors of nature’s house,
wherein lies its mystery. If you cannot enter because the doors are too
narrow, then abstract and contract yourself into an atom, and you will
enter easily. And when you later come out again, tell me what wonders
you saw”, Thomas Harriot (séc.XVI) citado
por von Baeyer (1992:140).
Vivemos o “rebirth of a
tree”, qual sábio de Michel Serres do Contrato Natural (1992):
“expert dans les connaissances, formelles ou
expérimentales (…), voyageur de nature et de société, amoureux des
fleuves, sables, vents, mers et montagnes, marcheur sur la Terre
entière, passioné de gestes différents comme de paysages divers (…)” . |
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Notas |
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Bibliografia.
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History of the Senses, London: Chapman Publishers.
ANDERSEN, H. C.
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL |
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