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Conheci a nossa homenageada na Faculdade de Ciências da Universidade
de Lisboa, no decurso do segundo semestre do ano lectivo de
2009/2010, no âmbito da disciplina “Museus, Colecções e História das
Ciências” de que esta era docente. Por um feliz acaso, tomara
conhecimento do elenco de disciplinas do mestrado em História e
Filosofia das Ciências que conferiam creditação para o grupo de
recrutamento 410 (Filosofia do ensino secundário) e o programa, bem
como o currículo da docente, pareceram-me suficientemente
interessantes para me inscrever.
A
primeira aula foi um pouco desconcertante: o produto final exigido
seria em formato digital, passando o processo pela criação e
manutenção de um blogue colectivo, mas o tema seria livremente
escolhido - desde que enquadrável nos objectivos da disciplina. O
andamento dos trabalhos, incluindo descobertas e dificuldades,
deveria ser tornado público através do blogue, sendo comentado pelos
colegas. |
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Ora, como sabemos, o grau de liberdade é directamente proporcional ao da
responsabilidade e o meu domínio das novas tecnologias de informação e
comunicação era muito básico… pelo que vacilei. Foi o discurso da
Professora Ana Janeira na segunda metade da aula, aquando do
enquadramento temático que fez – em que demonstrou erudição, pensamento
crítico e acutilância invulgares – que me prenderam. Li desde então
alguns dos seus textos e descobri uma miríade de projectos que cria,
promove e em que participa. Atenta ao mundo em que vive, explora-o com
um novo olhar, com iniciativas que vão desde o trabalho de campo com os
índios Guarani até ao site “Marcas das Ciências e das Técnicas pelas
Ruas de Lisboa”. Uma vez que a minha formação de base é também na área
da Filosofia, reconheci nesta professora o verdadeiro amor pelo saber,
em que a capacidade reflexiva abre novos horizontes e a
interdisciplinaridade não é letra morta.
O trabalho que realizei no âmbito da disciplina “Museus, Colecções e
História das Ciências” consistiu na criação de um Museu Virtual da
Evolução e está disponível no endereço electrónico -
http://sites.google.com/site/pensaraevolucao/
Este permitiu-me aprofundar um tema actual (no rescaldo das comemorações
do bicentenário do nascimento de Charles Darwin e dos 150 anos da
publicação da obra Origem das Espécies), útil para as disciplinas
que geralmente lecciono na escola e alertou-me para as vantagens da sua
publicitação através da internet. Com este projecto, julgo ter dado o
meu modesto contributo para uma melhor compreensão dos aspectos que,
enquanto autora não especializada, considero essenciais para uma
abordagem introdutória à problemática da Evolução. Procurei definir os
conceitos fundamentais, delimitar os temas e evidenciar alguns problemas
inerentes às diferentes temáticas, de um modo simplificado - sem ser
simplista - e didáctico, acessível ao público em geral. Assim, no Museu
Virtual da Evolução encontram-se diversos aspectos que suportam a
evolução como um facto, incluindo ilustrações, explicações das mesmas e
um enquadramento histórico sobre os objectos expostos e a sua recepção.
Poderão ainda ser exploradas ideias fundamentais como a "árvore da
vida", convidando afinal cada indivíduo a repensar o lugar ocupado
pelo Homo Sapiens no mundo e na vida.
Durante a elaboração do trabalho, analisei o tema e debati-o com alguns
dos meus próprios formandos dos cursos de Educação e Formação de Adultos
de nível secundário. Especialmente numa das turmas descobri vários
defensores acérrimos do Criacionismo, alguns dos quais fazendo uma
interpretação literal da Bíblia e encarando a teoria da evolução como
uma afronta à religião. Acabei por escrever dois textos, procurando
esclarecer a querela entre o Evolucionismo e o Criacionismo, bem como
apresentar uma leitura mais abrangente dos três primeiros capítulos do
Génesis, que publiquei online. Estou ciente de que as
teorias científicas são, derivado do seu estatuto epistemológico,
difíceis: por um lado, devido ao rigor, à objectividade e à terminologia
específica utilizada; por outro, pelas características intrínsecas de
falsificabilidade, revisibilidade e testabilidade. Mas «as coisas belas
são difíceis» e o filósofo é, por natureza, um pedagogo. Portanto,
procurei igualmente acrescentar ligações electrónicas para outros museus
dedicados a esta temática e a elaborar listas comentadas de recursos
essenciais, incluindo bibliografia e vídeos.
Do
atrás exposto, considero que o desafio proposto me libertou de uma certa
aversão à escrita, de uma certa compartimentação do saber em áreas de
especialização, mas sobretudo levou-me a “saborear” o prazer de ver o
fruto do nosso trabalho acessível a todos nesse meio de comunicação,
pleno de potencialidades, que é a internet. Várias vezes nos encontrámos
posteriormente, e sempre a Ana Janeira mostrando sempre a agilidade de
pensamento e a sabedoria de quem consegue ver mais além. Indagando o que
o futuro nos reserva, procura orientar aqueles que, como eu, insistem em
ficar colados à realidade actual e aos seus paradigmas. Verdadeira
filósofa, os seus interesses constituem-se como “inter-esse”,
procurando conhecer a fundo a condição humana, com os seus saberes e
poderes. Resta-me agradecer-lhe, com sinceridade, as oportunidades, os
conselhos e a amizade que tem demonstrado. Obrigada!
Marina Isabel Ramos dos Santos
Lisboa, 26/12/2010 |