REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número especial
Homenagem a Ana Luísa Janeira

 

Ana Luísa Janeira
Foto de José M. Rodrigues

MARINA SANTOS

 

Como conheci Ana Luísa Janeira

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Maria Estela Guedes  
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Conheci a nossa homenageada na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no decurso do segundo semestre do ano lectivo de 2009/2010, no âmbito da disciplina “Museus, Colecções e História das Ciências” de que esta era docente. Por um feliz acaso, tomara conhecimento do elenco de disciplinas do mestrado em História e Filosofia das Ciências que conferiam creditação para o grupo de recrutamento 410 (Filosofia do ensino secundário) e o programa, bem como o currículo da docente, pareceram-me suficientemente interessantes para me inscrever.

A primeira aula foi um pouco desconcertante: o produto final exigido seria em formato digital, passando o processo pela criação e manutenção de um blogue colectivo, mas o tema seria livremente escolhido - desde que enquadrável nos objectivos da disciplina. O andamento dos trabalhos, incluindo descobertas e dificuldades, deveria ser tornado público através do blogue, sendo comentado pelos colegas.

 
 
 
   
   
   
   
   
   
   
   
   
 
   
 

Ora, como sabemos, o grau de liberdade é directamente proporcional ao da responsabilidade e o meu domínio das novas tecnologias de informação e comunicação era muito básico… pelo que vacilei. Foi o discurso da Professora Ana Janeira na segunda metade da aula, aquando do enquadramento temático que fez – em que demonstrou erudição, pensamento crítico e acutilância invulgares – que me prenderam. Li desde então alguns dos seus textos e descobri uma miríade de projectos que cria, promove e em que participa. Atenta ao mundo em que vive, explora-o com um novo olhar, com iniciativas que vão desde o trabalho de campo com os índios Guarani até ao site “Marcas das Ciências e das Técnicas pelas Ruas de Lisboa”. Uma vez que a minha formação de base é também na área da Filosofia, reconheci nesta professora o verdadeiro amor pelo saber, em que a capacidade reflexiva abre novos horizontes e a interdisciplinaridade não é letra morta.

   O trabalho que realizei no âmbito da disciplina “Museus, Colecções e História das Ciências” consistiu na criação de um Museu Virtual da Evolução e está disponível no endereço electrónico -

http://sites.google.com/site/pensaraevolucao/ 

Este permitiu-me aprofundar um tema actual (no rescaldo das comemorações do bicentenário do nascimento de Charles Darwin e dos 150 anos da publicação da obra Origem das Espécies), útil para as disciplinas que geralmente lecciono na escola e alertou-me para as vantagens da sua publicitação através da internet. Com este projecto, julgo ter dado o meu modesto contributo para uma melhor compreensão dos aspectos que,  enquanto  autora  não especializada, considero essenciais para uma abordagem introdutória à problemática da Evolução. Procurei  definir os conceitos fundamentais, delimitar os temas e evidenciar alguns problemas inerentes às diferentes temáticas, de um modo simplificado - sem ser simplista - e didáctico, acessível ao público em geral. Assim, no Museu Virtual da Evolução encontram-se  diversos aspectos que suportam a evolução como um facto, incluindo ilustrações, explicações das mesmas e um enquadramento histórico sobre os objectos expostos e a sua recepção. Poderão ainda ser exploradas  ideias fundamentais como a "árvore da vida",  convidando afinal cada indivíduo a repensar o lugar ocupado pelo Homo Sapiens no mundo e na vida.

   Durante a elaboração do trabalho, analisei o tema e debati-o com alguns dos meus próprios formandos dos cursos de Educação e Formação de Adultos de nível secundário. Especialmente numa das turmas descobri vários defensores acérrimos do Criacionismo, alguns dos quais fazendo uma interpretação literal da Bíblia e encarando a teoria da evolução como uma afronta à religião. Acabei por escrever dois textos, procurando esclarecer a querela entre o Evolucionismo e o Criacionismo, bem como apresentar uma leitura mais abrangente dos três primeiros capítulos do Génesis, que publiquei online. Estou ciente de que as teorias científicas são, derivado do seu estatuto epistemológico, difíceis: por um lado, devido ao rigor, à objectividade e à terminologia específica utilizada; por outro, pelas características intrínsecas de falsificabilidade, revisibilidade e testabilidade. Mas «as coisas belas são difíceis» e o filósofo é, por natureza, um pedagogo. Portanto, procurei igualmente acrescentar ligações electrónicas para outros museus dedicados a esta temática e a elaborar listas comentadas de recursos essenciais, incluindo bibliografia e vídeos.

Do atrás exposto, considero que o desafio proposto me libertou de uma certa aversão à escrita, de uma certa compartimentação do saber em áreas de especialização, mas sobretudo levou-me a “saborear” o prazer de ver o fruto do nosso trabalho acessível a todos nesse meio de comunicação, pleno de potencialidades, que é a internet. Várias vezes nos encontrámos posteriormente, e sempre a Ana Janeira mostrando sempre a agilidade de pensamento e a sabedoria de quem consegue ver mais além. Indagando o que o futuro nos reserva, procura orientar aqueles que, como eu, insistem em ficar colados à realidade actual e aos seus paradigmas. Verdadeira filósofa, os seus interesses constituem-se como “inter-esse”, procurando conhecer a fundo a condição humana, com os seus saberes e poderes. Resta-me agradecer-lhe, com sinceridade, as oportunidades, os conselhos e a amizade que tem demonstrado. Obrigada!

Marina Isabel Ramos dos Santos                                     Lisboa, 26/12/2010

 

 

 
Marina Isabel Ramos dos Santos, natural de Lisboa, nascida a 23/08/1966.
Licenciada em Filosofia na Universidade Católica Portuguesa (secção de
Lisboa); Mestranda em Ciência Política e Relações Internacionais no
Instituto de Estudos Políticos da U.C.P.; Professora do ensino secundário
desde 1994 nas áreas de Filosofia e Psicologia, actualmente exerce funções
de formadora nos cursos de Educação e Formação de Adultos na Escola
Secundária Leal da Câmara (Rio de Mouro).
Criadora de sites dedicados às suas áreas de ensino e do blogue
http://amorsaber.blogspot.com/.
 

 

© Maria Estela Guedes
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