|
Quanto ao local de estada da Infanta D. Teresa,
provou Almeida Fernandes que fora a cidade de Viseu. E, mais
precisamente, os Paço da cidadela, no qual haviam já permanecido os
monarcas leoneses (Ordonho II e Ramiro II).
Afastada da sua tese a hipótese de ter sido Guimarães
o berço de Afonso Henriques, à actual cidade cumpre, naturalmente,
festejar, como o faz há séculos, o facto de ter sido vila-berço da
Nacionalidade, atendendo a que, nas suas proximidades, tenha decorrido a
batalha de S. Mamede, donde saiu vitorioso, em 24 de Junho de 1128, D.
Afonso Henriques sobre sua mãe, D. Teresa e o conde Femão Peres de
Trava.
Doados os condados de Portugal e de Coimbra ao Conde,
pai do nosso futuro primeiro rei, há que ter em conta uma questão de
segurança.
Portugal não oferecia posições contrárias aos Condes,
mas Coimbra que nutria um forte antagonismo a Portucale, seria cidade
inseguríssima, com a sua arriscadíssima situação face aos Sarracenos,
funcionando como uma autêntica barreira, por diversas vezes atacada, o
que não sucedia em relação a Viseu.
Almeida Fernandes apresenta como Provas Directas do
Nascimento de D. Afonso Henriques no Paço visiense, os seguintes factos:
1.º Não há, em número, uma tão grande quantidade
de documentos exarados por D. Henrique e D. Teresa em alguma região
que se aproxime de Viseu, o que denuncia uma certa predilecção pela
cidade.
2.º São as cartas de foral (e de confirmação) a
Mangualde, Tavares, Sátão, Cota, Alva, Ferreira e a Viseu; ainda uma
certa profusão de cartas de doação de imóveis na cidade e nos seus
termos, a nobres e a não-nobres; são as cartas vassaláticas ou
feudatárias em Viseu, seu aro e sua "terra", feitas a numerosos
cidadãos e lavradores, proprietários...
Perante estes e outros factos, como, por exemplo, a
extrema fidelização a D. Teresa por parte de Viseu e de castelos ao
redor, a seu favor, quando foi banida do governo, não nos é também
difícil entender a sua anterior preferência por Viseu, onde tinha bens
de raiz próprios e a vassalidade demonstrada aí pelo seu povo.
Então recuemos:
- D. Teresa, pelo Verão de 1109, nunca se ausentou de
Viseu, por um número bastante de casos em que devesse normalmente
fazê-lo:
Estaremos perante um caso de impossibilidade
fisiológica que a privaria de estar presente a actos tanto oficiais como
particulares. Era a aproximação do nascimento do filho que,
prudentemente a imobilizava.
Vejamos:
a) D. Teresa não sai de Viseu para assistir à
morte do pai, em Toledo, onde se encontrava a família imperial e o
conde D. Henrique, seu marido, embora tivesse este de abandonar a
cidade, de súbito, dada uma rebelião em Sintra. Afonso VI vem a
falecer a 1 de Julho de 1109.
b) O arcebispo de Toledo, findas as exéquias, vem
a Portugal, avista-se com os Condes em Viseu, por motivações
políticas. Sabedor desta circunstância, o arcebispo de Toledo
aguarda na cidade visiense, junto de D. Teresa, o regresso do Conde
D. Henrique, ficando com eles o bispo de Viseu e o bispo eleito
de Coimbra.
c) D. Teresa e D. Henrique haviam prometido à Sé
de Coimbra a maior doação de sempre: a do Mosteiro de Lorvão,
possivelmente no intuito de obterem protecção divina para a
expedição a Sintra. Estaria o arcebispo em Viseu, porque D. Teresa
não poderia deslocar-se, pelas razões já enunciadas, àquela cidade.
Ficando o arcebispo com os condes, em Viseu, coube ao arcediago da
Sé conimbricense a cerimónia da entrega de Lorvão à Catedral,
através de uma escritura, já preparada com as firmas ou sinais de
marido e mulher. D. Henrique esteve presente, D. Teresa manteve-se
em Viseu. Rui de Azevedo, autor da compilação de grande parte dos
documentos em que Almeida Fernandes se baseou dizia "não saber
explicar" e muito menos a presença da comitiva visiense em Coimbra.
Entre esta, o bispo de Viseu, e o seu presbítero notável, D.
Teotónio. O bispo eleito de Coimbra e o seu prior mantiveram-se em
Viseu, porque aí se encontrava o Arcebispo de Toledo, junto de D.
Teresa. De regresso, a maior parte dos presentes em Coimbra
deslocaram-se a Viseu, a fim de assistirem à aposição do sinal de D.
Teresa no documento, como confirmante, pois o não pudera fazer no
local. O texto é o mesmo, mas datado de Viseu.
Estes e outros argumentos poderiam aqui ser aduzidos
como a confirmação do foral de Mangualde. Deveriam ter ido o conde e a
condessa, tomar o juramento da outorga do diploma. Também não foram.
Desta vez, nenhum deles foi. E Mangualde é tão perto. A firma existe e a
data é de 1109.
Também o Arcebispo de Toledo veio a manter-se junto a
D. Teresa, naturalmente para baptizar o Infante, o que seria vulgar
fazê-lo quatro a cinco dias após o nascimento da criança.
D. Afonso Henriques nasceu, tudo leva a crer, pelos
inesperados factos trazidos a lume, em Agosto de 1109, na cidade de
Viseu, mas todo o Portugal lhe deve a independência em relação aos
reinos de Leão e Castela. |