REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número especial
Homenagem a Ana Luísa Janeira

 

Ana Luísa Janeira
Foto de José M. Rodrigues

ILDA CRUGEIRA

 

Júlio Máximo de Oliveira Pimentel

DIREÇÃO  
Maria Estela Guedes  
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Contributo para a homenagem à Professora Ana Luisa Janeira

No âmbito desta homenagem, agradecemos à Professora Ana Luisa Janeira a sua obra como filósofa, pedagoga, investigadora, com incursões metodológicas em “outras áreas do conhecimento” e em diversificados contextos espaciais e temporais. Congratulamo-nos ainda, por agradecer à cidadã Ana Luisa, o perfil humano, amistoso e acessível, sapiente e moderado, que se patenteia numa vitalidade surpreendente.

Recentemente entrevistada no Brasil para o programa “Provocações”,
da TVCultura, referiu: “sinto que tenho como função o interrogar da realidade, de ser crítica e reflectir sobre o que me rodeia”. A sua tenacidade e o trabalho ininterrupto e empreendedor potenciaram recordar Júlio Pimentel,
também docente na antiga Escola Politécnica.
Rejubilamo-nos pelo arrojo inconformista de pessoas
desta estirpe que “lançam sementes” e rasgam horizontes.

 
 
 
   
   
   
   
   
   
   
   
   
 
  Júlio Máximo de Oliveira Pimentel
 













Júlio Máximo de Oliveira Pimentel
In:
Revista Contemporânea de Portugal e Brazil, Lisboa, 1860.
 

Segundo visconde de Vila Maior, nasceu em Moncorvo a 11.10.1809[1] e morreu em Coimbra a 20.10.1884. Filho de Luís Cláudio de Oliveira Pimentel e de Angélica Teresa de Sousa Pimentel Machado. Bacharel em Matemática, lente de química da Escola Politécnica e do Instituto Industrial, director do Instituto Agrícola e reitor da Universidade de Coimbra. Sócio do Instituto de Coimbra, da Academia Real das Ciências, da Sociedade Química de Paris, da Sociedade de Artes de Londres e da Academia de Florença. Fidalgo-cavaleiro da Casa Real, par do Reino, Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1858-1859. Cavaleiro das Ordens de Torre e Espada e Avis, Grã-cruz da Conceição e Grã-cruz da de Carlos III de Espanha, Oficial da Legião de Honra, comendador das Ordens de Nossa Senhora de Vila Viçosa e de Cristo, cavaleiro da Legião de Honra de França, comendador da Ordem de Leopoldo da Bélgica e S. Maurício e S. Lázaro, de Itália e dignitário da Ordem da Rosa, do Brasil.

Matriculou-se na Universidade em 1826, e envolveu-se ainda nesse ano nos movimentos civis que precederam o estabelecimento do regime liberal em Portugal, alistando-se com dois irmãos, no Batalhão académico organizado de Coimbra[2]. Viveu de perto a prisão efectuada pelo governo de D. Miguel ao pai e ao tio, general Claudino de Oliveira Pimentel, apoiantes da causa constitucional. Após a morte do tio numa cela da Relação do Porto, alistou-se no Batalhão liberal académico que combatia nesta cidade. Em 10.10.1832, recebeu como reconhecimento o cargo de Oficial da Torre e Espada, após ter sido gravemente ferido na serra do Pilar. Regressou á universidade, onde se tinha matriculado oito anos antes, e obteve o grau de bacharel em matemática, em 1834.

 












Júlio Máximo de Oliveira Pimentel
In:
O Occidente, Nº 211, 01.01.1884
 

Por concurso, foi nomeado em 1838 lente de química na Escola Politécnica de Lisboa, e regeu, também por concurso em 1853, a mesma cadeira no Instituto Industrial. Pouco depois do ingresso na Escola Politécnica, seguiu para Paris na prossecução de conhecimentos na área da química. Foram anos de estudo e trabalho intenso no Laboratório “Peligot”, onde recebeu lições de Chevreul, de Gay-Lussac e de Dumas, entre 1844 e 1846.

Foi ainda director do Instituto Agrícola desde 1857, após suceder ao Dr. José Maria Grande, cargo que deteve até 1869, ano em que foi nomeado reitor da Universidade de Coimbra, até à sua morte. Na capital, foi eleito Vereador e ainda, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1858-1859[3]. Ao cessar funções na presidência do município, apresentou um relatório no qual fazia parte o projecto para a edificação de um bairro para a zona do Aterro da Boa-Vista [4].

Reconhecido pelos seus conhecimentos científicos, os governos encarregaram-no de comissões relevantes, como secretário da comissão responsável em estudar a reforma da moeda, em 1851, ou ainda, da reforma do Arsenal do exército, da Fábrica da Pólvora e da organização da Academia Real das Ciências. Em 1857 aceitou a nomeação de vogal do Conselho de Saúde, quando parte da população se evadia da cidade e outra era dizimada pela epidemia de Febre-amarela. Preconizou a divulgação de medidas profilácticas de higiene e salubridade, e, impulsionou a realização de um Congresso médico, com o beneplácito da Academia das Ciências, do qual resultaram algumas sessões. Em 1866 fez parte da comissão nomeada para o estudo dos processos de vinificação empregados no país[5]. Viajou por Inglaterra, Bélgica e França como investigador e visitou as fábricas de refinação de açúcar com o objectivo de introduzir essa indústria em Portugal.

Em 1883 deslocou-se a Espanha, França, Inglaterra e Itália com o intuito de conhecer a realidade das escolas superiores destes países, enviado pelo governo no âmbito de uma missão de reestruturação do ensino superior em Portugal.

Júlio Pimentel foi o fundador e director da fábrica de produtos químicos da Póvoa de Santa Iria e, aplicou com sucesso a filaça das piteiras (Agave e Fourcroya), no fabrico do papel[6] . Recebeu privilégio para o fabrico de velas com a substância sólida extraída do óleo de palma.

 

 

Ofício do presidente da Câmara Júlio Máximo de Oliveira Pimentel …, 1857, GEO

 

Representou dignamente Portugal nas Exposições Internacionais de Paris em 1855, 1867 e 1878 e na de Londres em 1862. Fez parte de júris e publicou relatórios. Deixou vasta obra publicada, sobretudo na área da Química e da sua aplicação industrial, nomeadamente, “Lições de Química Geral e suas Aplicações Principais”, “Relatório sobre as artes chimicas na exposição de Paris de 1855”, “Relatório sobre os vinhos na exposição de Paris de 1867”, “Relatório sobre o Estudo Químico do óleo de rícino”,   “O Aluminium, Nota Científica” , entre outras …

Em honra de tantos e gloriosos serviços prestados, de uma vida civil em prol do serviço público, o governo homenageou-o, agraciando-o com o título de Visconde de Vila Maior. Por sua iniciativa, o título foi entregue ao pai em reconhecimento da luta travada em nome da liberdade, vindo a receber o título, após a morte deste.

Ilda Crugeira

 

  Notas
 

[1] Veja-se O Occidente, Nº 213, 21.11.1884, p. 262 e Filippe Eduardo d`Almeida Figueiredo - O Antigo Instituto Agrícola e a sua obra (1852 a 1911), 1917, p. 26.  

[2] Foram dos primeiros a alistarem-se no Corpo académico. Júlio Pimentel regressou á universidade em 1827, na sequência do perdão por faltas aos alunos, decretado em cortes. Efectuou os exames do 1º ano em Maio ou Junho deste ano e saiu de Coimbra no ano seguinte. Leia-se Latino Coelho, “Júlio Máximo de Oliveira Pimentel” in Revista Contemporânea de Portugal e Brazil, 1960, p. 450-453.

[3] Filipe Eduardo d`Almeida Figueiredo, O Instituto Agrícola e a sua Obra,  p. 27,  refere que Júlio Máximo de Oliveira Pimentel foi por duas vezes vereador e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, onde efectuou melhoramentos relacionados com a higiene da cidade. Segundo Latino Coelho, Revista Contemporânea, 1861, p.11, Júlio Pimentel foi eleito vereador pela primeira vez, em 1851. A Câmara foi dissolvida pouco depois, sendo então, nomeado nas eleições gerais. Surge como vereador em 1852, na obra A evolução Municipal de Lisboa: pelouros e vereações, 1996, p.104. Pela consulta das Actas, constata-se a realização de eleições para a vereação da CML em 07.02.1858 (sendo o terceiro mais votado pelo Bairro de Alcântara); em 09.01.1859 (surge na Acta como o terceiro mais votado) e em 06.11.1859. Na Acta da sessão da CML de Março de 1858 toma posse a vereação eleita para o biénio de 1858 e 1859 onde foi eleito presidente, acumulando funções com o pelouro da iluminação.

[4] Ana Martins Barata – “Lisboa caes da Europa: alguns projectos não realizados para a zona ribeirinha entre 1860 e 1930” in Arte Teoria, 2005, p. 126

[5] Filippe Eduardo d`Almeida Figueiredo – O Antigo Instituto Agrícola …, p. 27. Da comissão fizeram parte António Augusto de Aguiar, lente da Escola Politécnica e, Ferreira Lapa, lente do Instituto. O seu estudo, relativo ao norte do Douro, foi condensado em memórias, publicadas em 1867 e 1868.

[6] Idem, Ibidem

 

 

 

Ilda Crugeira
Museologia e Património
Investigadora do Gabinete de Estudos Olisiponenses, CML

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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